Séries são o novo cinema, alguém duvida? Tem muito mais gente viciada em séries do que em filmes. Uma vez ou outra isso se transforma em uma febre coletiva. A primeira deste ano é, sem dúvida, a série analisada hoje por Alexia e Pedro. Que, ao tratar de um tema tão profundo como o suicídio, trouxe à tona a necessidade de pensar melhor sobre o assunto – e, no processo, também sobre a série. A sério.  C.B. 

13 Reasons Why é uma série americana baseada no livro homônimo escrito pelo norte americano Jay Asher e que estreou na Netflix no final de março. Desde então, tem tido muita repercussão positiva e também negativa.

A trama é focada nos porquês da estudante Hannah Baker ter tirado a sua própria vida. Tudo começa quando, depois do suicídio de Hannah, o seu amigo Clay Jensen recebe em casa uma caixa de sapato contendo fitas cassetes gravadas pela Hannah. A regra é simples: basta ouvir todas as 13 fitas. Cada uma conta o envolvimento de uma pessoa na decisão de Hannah, rebobiná-las e depois repassá-las adiante, até que todos os envolvidos tenham escutado todas as fitas. Mas não é tão simples assim, porque tanta, TANTA (!) coisa acontece enquanto Clay escuta fita por fita…

Mas nem tudo são mil maravilhas. Se você não sofre de depressão, não pensa em cometer suicídio, não chora no banheiro da escola por causa de bullying, então a série é um grande aprendizado na sua vida (digo por experiência própria). A cada episódio, aprendemos que jamais saberemos o que se passa na vida das outras pessoas e que não sabemos como o que dizemos ou o que fazemos afeta os outros. Por isso, a necessidade da empatia. Não julgue, não ridicularize, não ofenda, não espalhe boatos, não incentive atitudes que podem machucar (física e psicologicamente) e não deixe de auxiliar, não finja que não está vendo ou que, só porque não é com você, não é sua responsabilidade.

A série acusa de hipocrisia todos aqueles que não se importavam com a Hannah, mas que depois de sua morte demonstraram uma exacerbada simpatia e um anseio absurdo de colar cartazes e de fazer campanhas para evitar suicídios, tirando selfies em sua homenagem, e blá, blá, blá. Hipocrisia até por parte do conselheiro do colégio, que ignorou os sinais de depressão dela, deixando-a sem amparo (neste momento a serie dá um tapa na cara das escolas, demonstrando a ineficácia delas quando se trata de bullying e auxílio aos alunos).

Nós aprendemos a nos arrepender, repensar e mudar. Mas esse arrependimento deve ser genuíno e acompanhado de uma mudança em nossos atos – ou não vai ajudar a diminuir o número absurdo de pessoas que cometem suicídio. No Brasil, ultrapassando os 12 mil casos por ano (de acordo com o site do Senado). No mundo, uma morte a cada 40 segundos devido ao suicídio (de acordo com o site da OMS).

A série falha ao dar um enfoque demasiado aos porquês da Hannah ter cometido suicídio (eu sei que esse é o próprio nome da série) e ao tratar de forma romântica distúrbios mentais e suas consequências. Para o espectador que já sofre, a únicas coisas que ele consegue enxergar são: A) como a Hannah vê o suicídio: “e se o único jeito de não se sentir mal for parar de sentir qualquer coisa para sempre? ”. B) como o suicídio é eficaz para se vingar de quem te fez mal – nesse caso deixando fitas para essas pessoas-  e C) como o suicídio serve para ensinar as pessoas que ficaram a mudar suas atitudes. Esses três pontos só servem de trampolim para quem deseja se jogar num gatilho ou numa navalha,ou numa corda. O que comprova isso é o fato do CVV (Centro de Valorização da Vida) ter recebido um aumento de ligações desde o lançamento da série, muitas delas citando “13 Reasons Why”.

O que a série consegue é nos fazer refletir sobre da realidade de quem sofre depressão, das vítimas do bullying, sobre aquilo que não se diz, nem tampouco se escreve (o suficiente). Sobre a angústia e o sofrimento de quem fica depois de um suicídio. Mas se você que me lê, está sofrendo, por mais escuro, solitário e sem saída que possa parecer o mundo a sua volta, lembre-se: há luz, companhia e um caminho para sair do sofrimento. A nossa ignorância ao te tratar mal é reversível, assim como quase tudo no universo, menos a morte. Converse com seus pais, seus amigos, seus colegas, professores. O diálogo cura a dor que o silêncio alimenta.

Procure ajuda, ligue para o 141 e dê início a uma mudança.

 

Pedro Rabelo de Araújo Neto – 17 anos – calouro no curso de Relações internacionais na UFSC

 

 

13 Reasons Why é uma série necessária, mas que pode fazer mais mal do que bem.

Na série, todos os que causaram mal para Hannah recebem fitas onde a garota descreve como se sentiu em cada situação, causando remorso em grande parte das mesmas. Além do sentimento de remorso, Clay Jensen, o personagem principal e amigo de Hannah, chega a agir contra algumas dessas pessoas, como quando tira uma foto não autorizada da bunda de outro aluno, que foi stalker de Hannah durante um período, e as divulga para todos os outros. Nesses momentos, a série demonstra como a garota, ao cometer suicídio, estaria atingindo diretamente todos os que a feriram, podendo passar essa ideia errônea – já que normalmente esse remorso não acontece na vida real – de suicídio como vingança. Além disso, os remanescentes começam a agir uns contra os outros, fazendo o mesmo que foi feito com Hannah, sem considerar as consequências que as ações acarretariam nas, agora, vítimas.

A série repercutiu ao ponto de um garoto do Rio de Janeiro postar uma lista expondo nomes de pessoas (colegas de classe, pais e familiares) que o magoaram, explicando o que cada um fez e depois sumindo de casa por 18 horas.

Outro ponto negativo da série é o modo explícito que são mostradas cenas de abuso sexual e de suicídio, repetidas diversas vezes, demonstrando tudo que as vítimas sentiram. Para quem já sofreu algo do tipo ou tem sensibilidade em relação a isso, essas cenas podem ser grandes gatilhos, piorando a situação das vítimas. As mesmas cenas poderiam ter sido representadas de modo menos impactante, passando a mesma mensagem.

A cena do suicídio de Hannah, no episódio final, foi descrita por diversas pessoas como um “tutorial para o suicídio”, mostrando todo o processo dela cortando os pulsos, até que sua mãe a acha na banheira, numa cena que causa muito mal estar.

No geral, a série pode ser uma boa demonstração do que vítimas de bullying e assédio sexual sofrem diariamente para pessoas que não passaram por essas experiências. Porém, para vítimas das situações citadas, ela pode ser muito pesada.

 

Aléxia Melissa Hörner –  18 anos – História FURB

 

A série tinha que ter uma playlist, não é mesmo? Não é oficial, mas…