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300 anos de Aparecida

Paulo Vendelino Kons, historiador

1. Em 25 de março de 1646, D. João IV, rei de Portugal, proclamou a mãe de Jesus Cristo, sob o título de Nossa Senhora da Conceição, como padroeira do reino e de seus domínios;

2. Em 27 de setembro de 1717, o governador da Capitania de São Paulo e Minas de Ouro, o capitão-general D. Pedro de Almeida Portugal, 4º. Conde de Assumar, depois Vice-Rei da Índia, se dirigiu as Minas de Ouro (atual Minas Gerais) na intenção de acalmar os ânimos dos colonos. Ao atravessar o Vale do Paraíba, teve como um dos pontos de parada a Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá, onde ficou de 17 a 30 de outubro de 1717. Governava a vila o Capitão-mor Domingos Antunes Fialho;

3. Este foi o momento histórico do encontro e início da veneração da Imagem de Nossa Senhora Aparecida, uma vez que a estadia do Conde gerou uma grande movimentação na Vila para que pudessem suprir as necessidades dele e de sua comitiva. Por ordem da Câmara Administrativa da Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá, três pescadores foram incumbidos de pescar para o banquete. Os pescadores Domingos Alves Garcia, seu filho João Alves e Felipe Pedroso, cunhado de Domingos e tio de João, encontraram a Imagem da Virgem no rio Paraíba do Sul. Primeiramente, na rede de João Alves apareceu o corpo da imagem, e depois, mais abaixo, a sua cabeça. A pescaria, que estava muito difícil até aquele momento, tornou-se abundante. Felipe Pedroso, por ser o mais velho, levou para casa a Imagem diante da qual ele e a família começaram a rezar. Aos poucos o povo começou a afluir em grande quantidade à pequena casa do pescador, a fim de pedir graças e milagres à Virgem que “apareceu” nas águas do rio. A 1ª. capela (não oficial) erguida por Atanásio Pedroso, na região do porto Itaguaçu;

5. Em 26 de julho de 1745, é abençoada a ‘Capela da Conceição Aparecida’, pequena ermida de taipa de pilão. O Bispo de São Sebastião do Rio de Janeiro, Dom Frei João da Cruz, em 22 de maio de 1745, aprovara e dera início oficial ao culto público e litúrgico de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. A capela foi construída no Morro dos Coqueiros. Neste local, surge posteriormente um templo maior, a chamada Basílica Velha de Aparecida, cuja construção foi finalizada e dedicada em 1888, sob provisão do bispo Dom Lino Deodato e com auxílio do célebre Missionário Apostólico Monsenhor Miguel Martins, sob grande festa e devoção por parte dos fiéis;

6. O príncipe regente Dom Pedro, durante sua viagem do Rio de Janeiro a São Paulo, visitou o Santuário de Aparecida em 22 de agosto de 1822. Ao rezar piedosamente em frente a imagem, o futuro imperador do Brasil prometeu consagrar o Brasil a ela (a Virgem Maria, sob o título de Aparecida), caso resolvesse favoravelmente sua complicada situação política. Após quinze dias, em 7 de setembro, em São Paulo, nascia o Brasil independente, pelo brado histórico do príncipe que se tornaria imperador com o nome de D. Pedro I: “INDEPENDENCIA OU MORTE, foi o primeiro grito de Pedro Primeiro, constituindo a nação: SENHORA DA CONCEIÇÃO PADROEIRA DO BRASIL, foi o segundo grito do monarcha Fundador.” (BRAGA, D. João Francisco apud HOMEM DE MELO, 1905: 44). O imperador Dom Pedro II e a imperatriz Teresa Cristina estiveram em 1843 e em 1865 na capela de Aparecida, para rezar diante da imagem;

7. A festa da Aparecida no ano de 1868, então celebrada em 8 de dezembro, dia da Imaculada Conceição, foi encerrada com a participação de uma pessoa especial. A princesa Isabel, herdeira do trono brasileiro, quis participar das celebrações ao lado de seu marido, o Conde d’Eu, na esperança de obterem da Senhora Aparecida a graça de um herdeiro. Para manifestar sua devoção, a Princesa doou à imagem um manto, ornado com 21 brilhantes, representando as 20 Províncias do Império mais a capital. Anos depois, em 1884, a princesa Isabel voltava a Aparecida em reconhecimento pela graça recebida. Feliz, vinha acompanhada não só do esposo, mas também dos três herdeiros, os príncipes D. Pedro, D. Luís e D. Antonio. A princesa novamente quis honrar a imagem da Senhora Aparecida oferecendo-lhe, dessa vez, uma coroa de ouro 24 quilates, 300 gramas, cravejada de brilhantes. Essa mesma coroa serviu, vinte anos depois, para a solene coroação da Imagem, por ordem do Papa São Pio X. A celebração da solene coroação, em 8 de setembro de 1904, foi dirigida por D. José Camargo Barros, com a presença do Núncio Apostólico, muitos bispos, do Presidente da República Rodrigues Alves e numeroso povo;

8. Em 1894 os Missionários Redentoristas chegam a Aparecida, provenientes da Baviera, Alemanha, para se dedicarem ao cuidado pastoral do Santuário, onde permanecem até os dias atuais;

9. Nossa Senhora da Conceição Aparecida foi proclamada Rainha do Brasil e sua Padroeira oficial em 16 de julho de 1930, por decreto do papa Pio XI. Este fato foi marcante para o crescimento da devoção e do Santuário. Nossa Senhora foi aclamada e proclamada Padroeira e Rainha do Brasil, em 31 de maio de 1931, na capital federal Rio de Janeiro, com a presença de um milhão de fiéis, de autoridades civis, militares e eclesiásticas, do Núncio Apostólico, e do próprio Presidente da República, Getúlio Vargas. A viagem da Imagem ao Rio de Janeiro, em trem especial da Central do Brasil, foi uma apoteose em todas as estações do percurso da ida e muito mais no da volta. Em 1930, o Brasil contava com 37,6 milhões de habitantes. A maior cidade brasileira era o Rio de Janeiro, com população de 1,5 milhão.
Pela Lei Federal nº. 6.802, de 30 de junho de 1.980, foi declarado oficialmente feriado no dia 12 de outubro, “Consagrado a Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil”. No seu artigo 1º., a lei estabelece: “É declarado feriado nacional o dia 12 de outubro, para culto público e oficial a Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil”. Assim a República Federativa do Brasil reconhece oficialmente Nossa Senhora Aparecida como sua padroeira;

10. A primeira ideia de construção da “Basílica Nova” surgiu em 1917, por ocasião das celebrações do bicentenário do Encontro da Imagem. A colocação da pedra fundamental nos alicerces da Basílica aconteceu no dia 10 de setembro de 1946, pelas mãos do Cardeal Patriarca de Lisboa, Dom Manuel Gonçalves Cerejeira, que trouxe terra de Fátima e depositou no cofre da pedra angular, na presença de todos os Cardeais do Brasil, autoridades religiosas, civis e militares. O projeto da nova Basílica foi encomendado pelo Cardeal Motta, em setembro de 1947, ao arquiteto Benedito Calixto de Jesus. A estrutura e os cálculos do concreto armado eram do engenheiro civil Paulo Franco Rocha. O início efetivo da construção ocorreu em 11 de novembro de 1955. A primeira missa no local aconteceu no dia 11 de setembro de 1946, presidida pelo Cardeal Motta. No espaço da “Nova Basílica”, o primeiro atendimento aos romeiros foi realizado em 21 de junho de 1959. As atividades religiosas na “Basílica Nova”, em definitivo, passaram a ser realizadas a partir de 3 de outubro de 1982;

11. Em 4 de julho de 1980 o papa João Paulo II, em sua histórica primeira visita ao Brasil, consagrou a Basílica de Nossa Senhora Aparecida, o maior santuário mariano do mundo, em solene missa, revigorando a devoção à Santa Maria, Mãe de Deus e sagrando solenemente aquele grandioso monumento construído com o carinho e a devoção do povo brasileiro;

12. Também os papas Bento XVI (maio de 2007) e Francisco (julho de 2013) foram romeiros da Mãe Aparecida.