Eu estava evitando falar sobre a Copa do Mundo porque tanto a
paixão política quanto a paixão pelo futebol costumam cegar as pessoas, e não é
fácil enfrentar as duas ao mesmo tempo. Mas depois da declaração do presidente
da Infraero, de que iria “tapear” (depois corrigido para “etapear”) as obras do
aeroporto de Confins, não tem mais como segurar.

Lembro-me de quando o Brasil foi anunciado como sede da Copa
de 2014 e das Olimpíadas de 2016. Era um momento de euforia, de afirmação de um
país que parecia em franco desenvolvimento e teria a grande chance de mostrar
ao mundo seu novo status. Quanto aos gastos, o governo afirmou que tudo seria
feito pela iniciativa privada, através de parcerias, que o dinheiro público não
seria utilizado para a construção de estádios e que as obras de mobilidade
urbana seriam ganhos permanentes para a população. Entre as tais obras estava o
tal “trem bala”, do qual nunca mais se ouviu falar. Faltavam então sete anos
para o acontecimento.

Pois bem, o tempo foi passando e o péssimo gerenciamento da
organização, desde o início, foi nos trazendo para a triste realidade. Apesar da
maquiagem, continuávamos como um país atrasado, desorganizado, corrupto ao
extremo, mas sempre mantendo o discurso de que tudo estava sob controle e que
em 2014 estaria tudo arranjado.

Mas eis que 2014 já avança para o 5º mês e os dirigentes da
Fifa têm vivido de sobressaltos. Não foram poucas as manifestações de arrependimento
por terem escolhido nossa nação para sede. Gastos faraônicos em elefantes
brancos, atrasos, custos imensamente acima dos previstos e tantos outros
fatores já fazem a Copa se tornar um pesadelo. Em praticamente todas as sedes
ainda há muito a ser feito até que tudo esteja concluído. Há aeroportos em que
as obras mal começaram, e já estamos na metade de abril. E isso sem contar o
terrível despreparo humano da mão de obra que vai atender aos turistas.

Ou seja, o que deveria ser a vitrine da nossa nova fase para
o mundo já está sendo a prova definitiva da nossa incorrigível incompetência.
Parece que continuamos sendo a país do jeitinho, da gambiarra, da tapeação
(ops… “etapeação”). No fundo, o que vale é a imagem que isso possa causar
naqueles que tem poder de decisão: a massa de eleitores desinformados e
dependentes, para quem um gol do Neymar compensa os bilhões de prejuízo de uma
empreitada desastrosa. Resta rezar para que nada de mais grave aconteça durante
o evento e para que possamos aprender alguma lição com essa triste experiência.