Aos 80 anos, Selma Imhof Gartner já viu muita coisa na vida. Perdeu o filho jovem, mas nunca deixou se abater. Sempre foi conhecida pelos seus dotes culinários e habilidade na cozinha. Se ainda trabalhasse, certamente teria muitos clientes que têm saudades dos deliciosos doces criados por ela.

Eu aprendi sozinha a cozinhar, não olhava receita, inventava os recheios tudo da minha cabeça!

O trabalho como doceira e salgadeira começou por acaso, há quase 50 anos. Quando o filho mais novo ainda era bebê, fazia os tradicionais chás para os amigos que vinham conhecer a criança. “Aos fins de semana eu convidava uma remessa pra vir visitar e eu mesma fazia minhas coisas. Aí as pessoas perguntavam quem fez e quando eu falava que era eu, já faziam encomendas”, lembra.

Hoje, ela lembra com carinho do tempo em que passava grande parte do dia no fogão. Há dois anos, depois da morte do marido, ela decidiu parar a produção. “Meu marido faleceu, então eu decidi que era hora de parar. Muita gente ficou triste, mas com a minha idade, já era hora de parar. Hoje, faço apenas coisas pra mim e pra família. Ainda sei cozinhar, mas não trabalho mais”. Com o passar dos anos, a fama de boa cozinheira de Selma se espalhou por Brusque.

O trabalho era bastante puxado para dar conta de todas as encomendas. A preparação começava cedinho e seguia ao longo de todo o dia. “Chegava fim de semana, eu fazia 100, 150 cucas, todos sob encomenda. Mais tarde eu comecei a fazer bolos e salgados e aí o trabalho ficou grande mesmo”. O mais curioso é que Selma nunca frequentou cursos ou seguiu receitas. Com dificuldades para ler e escrever, as delícias que saíam de sua cozinha sempre eram resultado de sua imaginação. “Eu fui pra escola, mas naquela época tinha que trabalhar cedo, então não aprendi muito bem. Eu aprendi sozinha a cozinhar, não olhava receita, inventava os recheios tudo da minha cabeça”.

Foto: Eliz Haacke

Selma e o marido, Álvaro Gartner – já falecido – adaptaram a casa com equipamentos para a produção dos doces e salgados. Além dos clientes fixos, ela também fazia bolos para vender em festas e exposições. “Duas senhoras, a Ede Espíndola e a Altina Amâncio, que hoje são falecidas, vendiam os meus bolos nas feiras e também na Fenarreco. Nas primeiras festas, eu fazia os bolos e elas levavam na barraca. Por muitos anos trabalhamos juntas”, lembra.

Hoje o mundo mudou muito, as mulheres são mais livres. Trabalhar é muito importante para se sentir bem!

Durante boa parte da vida, Selma dedicou seu tempo às encomendas. Ao lado do marido, que era o responsável pela compra dos ingredientes, fez a vida de muitos brusquenses mais gostosa.

Morando sozinha, ao lado da casa da filha, ela dedica seu tempo a cuidar das plantas, às viagens com grupo de amigas e ao bingo da terceira idade. Muito vivida, ela acredita que o trabalho é fundamental na vida da mulher. “Hoje o mundo mudou muito, as mulheres são mais livres. Acho que trabalhar é muito importante para se sentir bem. Sempre gostei muito de trabalhar, com o meu trabalho consegui ter uma vida boa. Isso que importa”.