José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

A loucura manifestada

José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

A loucura manifestada

José Francisco dos Santos

Reportagem do jornal “O Estado de São Paulo”, da semana passada, falava do crescimento assustador no número de casos de distúrbios mentais e tentativas de suicídio entre jovens estudantes das universidades paulistas. A reportagem apresenta pesquisa restrita ao público universitário, mas não é difícil constatar que sintomas de depressão, sensação de incapacidade de enfrentar a vida e terrível vazio interior têm assolado muitas pessoas e, surpreendentemente, um número cada vez maior de jovens.

O desenvolvimento de um ser humano é complexo, e cada um de nós possui riquezas interiores que requerem cuidado e atenção para se manifestarem de modo correto. No ser humano, a riqueza imensa que nos foi dada, temperada com um elemento ainda mais rico, mas bombástico – a liberdade -, faz do nosso desenvolvimento um processo que exige cuidados especiais. Daí que é fundamental conhecer nossa natureza e o objetivo de estarmos no mundo.

Aqui, distingo dois modelos opostos. Um vem das bases da nossa cultura ocidental, a filosofia grega e a religião hebraico-cristã. Aristóteles, na Grécia, e Tomás de Aquino, na Europa medieval, consolidaram um modelo de ser humano que é composto de alma vegetativa, sensitiva e racional, além de um espírito imortal. O ponto máximo a que esse conjunto pode chegar – a felicidade ou beatitude – só pode ser alcançada por meio de uma vida virtuosa, ou seja, uma vida que coloca a parte sensitiva e instintiva da alma sobre o controle das partes superiores. Daí a ideia de virtude como moderação, como meio-termo, que impede os excessos e produz equilíbrio. Isso só se consegue com bons hábitos e exige muita disciplina.

O pai da cultura contemporânea, o alemão Friedrich Nietzsche, prega exatamente o oposto. Para ele, toda a filosofia, desde Sócrates, e todo o ensinamento do cristianismo formaram apenas uma moral de escravos, de pessoas subjugadas e infelizes. Propõe, então, a aniquilação de todas essas bases, para que emerja um “super-homem”, que afirma sua vontade sem nenhum tipo de amarra. Já falei disso em artigo anterior, mas relembro uma consequência dessa ideia nos anos 1980, quando os “Menudos” cantavam para nós, adolescentes daquela época: “Não controle, não modere, não domine, tudo isso faz muito mal…não se reprima!” Nietzsche e seus filhotes venceram e dominam a cultura. Em todo lado, vemos jovens, cada vez mais jovens, empenhados nessa liberação geral dos instintos e da vontade cega, que Nietzsche dizia ser a essência do mundo. Mas isso só tem gerado o que gerou no próprio Nietzsche: loucura! Muitos são mimados demais, despreparados para os desafios da vida, com pouca ou nenhuma disciplina. E a vida não costuma mimar ninguém.

Aos jovens, peço atenção e cuidado com o imenso tesouro que carregam. De minha parte, estou muito seguro de que o caminho para a felicidade é o da virtude. Mas observem por si mesmos e vejam quem é que está perdendo a liberdade e o sentido da vida, se são os que buscam a virtude ou os que se enveredam pelos instintos, pelos vícios, ou são criados sem disciplina e responsabilidades. Sua vida é valiosa demais, então tome bem a sua decisão, e seja realmente livre e feliz!

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