O
livro “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, é um dos maiores clássicos da literatura
universal. Eu já assisti a duas versões dele para o cinema, uma com a estória
original e outra com um roteiro adaptado, ambientado na Alemanha nazista. Relutei
em assistir à nova versão para o cinema, em forma de musical, que foi um dos
destaques do Oscar em 2013. Mas dei uma chance à obra e não me arrependi. A
música, aliada à qualidade excepcional da produção e do trabalho dos atores, dá
um toque ainda mais especial aos personagens e às tramas criadas por Victor
Hugo.

A
estória se passa na França pós-revolucionária e mostra o quanto foi ilusória a
promessa de igualdade da revolução que ceifou tantas vidas. Após a queda de
Napoleão e a restauração da monarquia, a França é um mar de miséria, em todos
os sentidos. O grande talento de Victor Hugo foi conseguir captar, de maneira
tão magistral, essa miséria, entremeada com exemplos de grandeza, que mostram
que o bem sempre está presente, mesmo quando parece que o joio irá sufocar
completamente o trigo.

A
miséria econômica, aliada à injustiça, é mostrada no personagem principal, Jean
Valjean, que cumpre dezenove anos de trabalhos forçados na prisão, por ter, inicialmente,
roubado um pão. Outra miserável é Fantine, que cai no mundo sórdido da prostituição,
no qual a miséria econômica se entrelaça à miséria moral das prostitutas e de
seus clientes. Nessa miséria moral destacam-se também os Thénardier, aos
cuidados de quem ficou Cosette, a filha de Fantine, até que Valjean, a muito
custo, a tomasse para si.

A
grandeza se faz presente pela primeira vez na pessoa do bispo Myriel, que
acolhe em sua casa um Valjean semidestruído pelos anos da prisão. Ao evitar que
seja preso novamente, dá a Valjean uma chance de se reerguer, e ele o faz de
modo magistral, cuidando da filha de Fantine, após a morte desta.

Cabe
um destaque especial ao inspetor Javert, vítima da sua própria obsessão pela
lei, que o faz cego à justiça.

Victor
Hugo fez um passeio magistral pela alma humana, mostrando, nos seus personagens
e nas diversas situações que enfrentam, como a miséria e a grandeza caminham
lado a lado, inclusive no idealismo e na ingenuidade dos jovens que montaram
barricadas em Paris em 1932.

Também
nós vivemos envoltos na miséria. A pobreza de espírito, no pior sentido da
expressão, não escolhe o nível social de suas vítimas. De igual modo, há sempre
ocasião para que a alma se engrandeça. Que a grandeza possa triunfar nessa
guerra encarniçada.