A busca constante por qualidade fez a RC Conti dar os primeiros passos dentro da Indústria 4.0 e se tornar referência para todo o segmento têxtil. 

Com o sistema desenvolvido em parceria com a Audaces – empresa de tecnologia catarinense – a fábrica de médio porte mostrou que a quarta revolução industrial está ao alcance de todos.

Tudo começou em 2015 quando a empresa, detentora da marca Mensageiro dos Sonhos, viu a necessidade de modernizar o setor de corte de sua fábrica, localizada no bairro Nova Brasília, em Brusque. O primeiro passo foi a compra de uma máquina robótica, algo até então comum em indústrias de maior porte do segmento têxtil.

“Adquirimos a máquina de corte e ali começamos a ver que a Indústria 4.0 poderia nos trazer melhorias”, diz a diretora da empresa, Rita de Cássia Conti.

Até a chegada da máquina, toda a etapa de corte era feita manualmente dentro da fábrica. O processo, por ser todo manual, acabava gerando algumas dificuldades, que impactavam diretamente no produto final.

A implantação da máquina trouxe resultados imediatos para a fábrica. Além do ganho na capacidade produtiva, a qualidade dos produtos deu um salto significativo.

Máquinas ganharam computadores | Foto: Bárbara Sales

“Quando a venda é em longa escala, ganhamos na agilidade, na confiança e na qualidade. Você vende mais tranquila porque teus tamanhos ficam uniformes. O P é P, o M é M, porque não tem mais o trabalho manual, é a máquina fazendo, operada por uma pessoa”, destaca a diretora comercial da fábrica, Patricia Conti.

Porém, com o passar do tempo, a empresa percebeu que só a introdução da robótica no setor de corte não seria suficiente para se destacar no mercado, visto que a robotização já era algo comum no segmento. Era preciso evoluir mais.

“Nós sentimos a necessidade de ter uma inteligência artificial ali também, que é, de fato, a Indústria 4.0”, diz Rita.

Para melhorar seus processos, a indústria brusquense percebeu que precisava de um sistema em que as peças saíssem já cortadas com os tamanhos fixos, reduzindo, assim, a chance de erros.

“Sentimos que existia uma oportunidade de melhorar. Chamamos a Audaces e falamos a nossa necessidade, que seria algo além da etapa do corte”, conta Jeferson Conti, diretor de produção da fábrica.

Sala de corte da RC Conti é totalmente automatizada e conectada | Foto: Bárbara Sales

A Audaces atuou dentro da RC Conti durante dois anos para entender todos os processos da fábrica e, assim, conseguir desenvolver o sistema ideal. “Vieram doutores, engenheiros, pessoas do exterior. Nós fomos o projeto piloto deles da Indústria 4.0. Viramos um verdadeiro laboratório, abrimos tudo”, destaca Rita.

Após muito estudo, a empresa chegou ao sistema perfeito para a fábrica. Toda a sala de corte foi automatizada, com informações em tempo real, desde o planejamento da ordem de corte, até a hora de encaminhar a produção para as facções terceirizadas que fazem o acabamento das peças. 

E, se antes os colaboradores do setor precisavam operar máquinas pesadas, com equipamentos de proteção devido aos riscos, hoje trabalham operando apenas um tablet.

A automatização do setor reduziu os erros, que antes eram comuns, a praticamente zero. 

Somos uma empresa pequena, mas que está sempre muito aberta a inovações

“Em uma indústria têxtil tem muitos pedacinhos cortados. Uma camiseta são cinco componentes para fazer uma coisa só. São cinco pacotes entrando num caminhão, descendo do caminhão, chegando na facção. A logística disso era muito ruim”, destaca Patrícia.

Com a implantação da inteligência artificial, todas as peças saem da máquina de corte e vão para as facções identificadas com uma etiqueta que indica todas as informações de cor, tamanho, modelo e lote, reduzindo a probabilidade de erros.

Além disso, o sistema consegue repassar todos os dados referentes à produção aos gestores, por meio de um aplicativo de celular, facilitando o controle e o planejamento dos investimentos da fábrica.

A implantação da Indústria 4.0, entretanto, não para por aí. A intenção da fábrica brusquense é avançar com a inteligência artificial e automação em outros setores, como a costura, por exemplo. “Existem estudos a nível mundial que o setor de costura é o mais difícil de ser automatizado. São pouquíssimos robôs que fazem o que os humanos fazem, mas precisamos já começar a pensar em uma forma de viabilizar. Somos uma empresa pequena, mas que está sempre muito aberta a inovações”, finaliza Rita.

Adaptação e ganho de produção

Dentro do processo de transformação da RC Conti em indústria 4.0, muito teve de ser modificado. O principal impacto foi sentido pelos colaboradores, em especial, do setor de corte.

Há anos fazendo todos os processos de forma manual, a chegada da máquina automática de corte foi o primeiro impacto sentido pelos operários. No começo, houve até certa resistência entre os colaboradores que já estavam acostumados a trabalhar de uma forma e, de repente, tiveram de se adequar.

A implantação da inteligência artificial no setor e a automatização provocou uma nova mudança que, mais uma vez, foi vista com desconfiança, principalmente pelos colaboradores com mais tempo de casa.

Marisângela Coelho explica o processo de identificação das peças, feitas com o auxílio da tecnologia | Foto: Bárbara Sales

Entretanto, os resultados imediatos, principalmente com o aumento da produção, fez com que os trabalhadores do setor vissem a tecnologia como aliada.

Responsável pela sala de corte automatizada da RC Conti, Marisângela Coelho trabalha na empresa há 16 anos. Passou por várias funções até se tornar a encarregada do setor. Ela foi uma das que relutou em aceitar a entrada das máquinas automáticas na fábrica. “No começo eu não aceitava essa máquina de jeito nenhum. Para mim, o corte, o enfesto, tinham que ser no manual, como sempre foi”, afirma.

Logo, porém, ela mudou de opinião. “Depois que implantamos, melhorou muito a qualidade da peça. Melhorou a produção. Quando era manual, eu conseguia fazer de sete a 10 mil peças por dia. Hoje, fazemos de 15 a 20 mil. Na coleção verão, dá pra chegar até a 25 mil peças por dia”.

Analista de Tecnologia da Informação (TI) da fábrica, Fagner Civinski destaca que a máquina não resolve os problemas sozinha, é preciso ter uma pessoa para controlar e garantir o funcionamento perfeito. Por isso, a importância de o colaborador entender as mudanças e se adequar à proposta da empresa. 

“Tem que mudar toda tua forma de gerenciar o setor. Aqui, foi estudada toda a sala de corte para ver como poderia ter o melhor aproveitamento da máquina, como ia funcionar esse fluxo com essa nova tecnologia. Com esse estudo, conseguimos mapear, ver a fórmula certa e garantir um fluxo contínuo de trabalho”.


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