O
livro do Eclesiástico é um dos vários livros bíblicos que tratam da Sabedoria.
Independente de o livro estar na Bíblia, ou de seu fundo religioso, seu
ensinamento é universal, pois a Sabedoria é um bem precioso, que deve ser
buscado e cultivado por todos.

Um
dos trechos mais significativos mostra como a Sabedoria “educa seus filhos”.
Segundo o livro, se alguém procura a Sabedoria, “ela anda com ele sem se dar a
conhecer (…) e o experimenta com as provas de sua disciplina até que ele a
conserve em seus pensamentos e nela deponha sua confiança”. Há muita semelhança
aí com a filosofia grega, da qual o autor certamente teve influência. Sabedoria
não é sinônimo de conhecimento teórico. Trata-se de um conhecimento que se
enraíza na alma, na sensibilidade e, assim, é capaz de conduzir o indivíduo nas
situações práticas da vida, para que não se deixe levar pelo que é mais fácil e
prazeroso, mas certamente mais tolo. É aí que entra a disciplina como
companheira inseparável da Sabedoria.

Nossa
sensibilidade, e não a nossa razão, é quem nos guia nas situações mais
fundamentais da vida. De nada adianta saber o que é certo se na hora de agir
são os impulsos que nos dominam. Ser sábio, no mais alto grau é, então, colocar
os impulsos sobre o controle da razão, ou seja, “ensinar” o que é certo ao
corpo, à sensibilidade, para que esteja registrado na “memória celular”, e que
a decisão sábia, no momento decisivo, seja algo natural. Essa é a situação de
quem chega ao estágio em que “a sabedoria se conserva em seus pensamentos”. Mas
isso exige muita disciplina.

Resolvi
escrever isso porque estou seriamente preocupado com os rumos da Educação
brasileira, formal ou informal, que parece caminhar no sentido contrário ao que
a Sabedoria aponta. Nunca a disciplina foi tão pouco valorizada. Nunca se
cantou tanto a “liberação” dos impulsos, nunca houve tanta exposição e
degradação do corpo e da sexualidade como nos programas de televisão, mesmo os
infantis, e a “diversidade sexual” ocupa mais espaço nas escolas que a
gramática e a tabuada. Isso está formando uma geração que não dá valor a mais
nada além da própria satisfação, o que é muito perigoso. Os crescentes índices
de violência são um sintoma disso.


algo de terrivelmente perverso nessa cultura, e estamos tão acostumados a ela
que já nem nos damos conta dessa perversidade. A indisciplina geral parece
estar corroendo nosso senso mais básico de Sabedoria. O livro do Eclesiástico pode
nos ajudar a fazer o caminho de volta.