O primeiro de abril é data para pegadinhas manjadas e
mentirinhas inocentes. Mas a mentira tem um poder destruidor que precisa ser
contido. A pior forma de faltar com a verdade é o relativismo, ou a ideia de
que a verdade não existe, que tudo depende do momento e dos interesses.

Isso começou com o filósofo grego Heráclito, que dizia que
tudo estava em constante mudança e, portanto, nada poderia ser estabelecido e
conhecido, pois, no instante seguinte, já seria outra coisa.  Os sofistas trouxeram essa ideia para a política,
ensinando os jovens gregos a abandonarem a busca da verdade e desenvolverem a
retórica. A democracia ateniense se tornava um jogo de discursos, aplausos e
interesses. Sócrates se propôs a desmascarar essa tática, atacando os falsos
argumentos dos sofistas, mas acabou condenado à morte.

O espírito dos sofistas voltou à carga na Idade Moderna, com
o filósofo italiano Nicolau Maquiavel, para quem a conquista e manutenção do
poder implica o abandono de qualquer escrúpulo moral ou religioso. No século
XX, outro filósofo italiano, Antonio Gramsci, retomou a teoria de Maquiavel,
ligando-a ao objetivo de espalhar as ideias socialistas de Karl Marx e preparar
a sociedade para a revolução comunista. Esse é o tal “marxismo cultural” (a
Proposta Curricular de Santa Catarina é parte dessa estratégia!). Mas os
antiprincípios de Maquiavel fazem tanto sucesso em todas as colorações
partidárias, que às vezes parece que ele tinha mesmo razão: ser honesto e
verdadeiro em política é estar fadado ao fracasso.

Mas isso não é privilégio da política. Há muito que nossos
valores vêm sendo relativizados, em nome de prazeres e interesses imediatos.
Inventaram que não existe o certo e o errado, que tudo é questão de gosto e
opinião. Ressuscitamos o sofista grego Protágoras, que dizia que “o homem é a
medida de todas as coisas”. Sem verdades, princípios ou valores que nos guiem,
afundamos nas nossas próprias ilusões. Não é pouco o sofrimento que esse
relativismo causa na vida pessoal, nos relacionamentos e na sociedade como um
todo. Se tudo depende de opinião e conveniência, então é natural defender o
aborto, vacinar crianças contra o HPV ou transformar a universidade pública num
antro de vadiagem e consumo de entorpecentes.

Ninguém pode se considerar dono da verdade, mas declarar sua
inexistência é um grave erro estratégico. Precisamos buscá-la com sinceridade
de coração, aprendendo com os nossos erros e os dos outros e revalorizando a Sabedoria
dos grandes Mestres.