Agente funerário há 12 anos, profissional de Brusque relata como é preparar corpos para velórios

Sensibilidade e concentração são características de quem trabalha nesta área

Agente funerário há 12 anos, profissional de Brusque relata como é preparar corpos para velórios

Sensibilidade e concentração são características de quem trabalha nesta área

Há 12 anos Carlos Alexandre Voigt, 33, exerce a profissão que para muitos parece assustadora: a de agente funerário. A função consiste em prestar assistência aos familiares que perderam um ente querido e também em ser um tanatólogo, que é preparar o corpo para o velório.

Natural de Fênix (PR), Carlos nunca imaginou seguir essa carreira. A oportunidade surgiu em 2007, quando ele trabalhava como controlador de estoque em uma cidade no Paraná e planejava se mudar para a Espanha.

Carlos é agente funerário há 12 anos | Foto: Brenda Pereira

Um amigo o convidou para trabalhar em uma funerária em Toledo (PR). Durante dois anos Carlos acompanhava todas as atividades e procedimentos da empresa. Em 2009, recebeu uma promoção: gerenciar uma funerária em Joinville, que também tinha sede em Brusque.

A partir do convite ele fez um curso de tanatólogo, que é um treinamento para fazer a tanatopraxia, procedimento necessário na preparação de um corpo.

Lidando com preconceitos
Carlos diz que a sociedade tem preconceito com o trabalho e que já ouviu as pessoas falarem que ele fica feliz quando alguém morre porque é dali que ele tem o sustento. Ele também já ouviu que o agente funerário é insensível e “não tem coração”.

No entanto, não é essa a perspectiva de quem exerce a profissão. Ser um agente funerário exige concentração e equilíbrio emocional. “Se não existíssemos, as pessoas não iam conseguir fazer essa última despedida”, enfatiza.

Quando contou para a mãe que seria um agente funerário, ela foi contra pois queria que ele fosse médico ou advogado, mas depois de um tempo passou a considerar que o filho tem um dom inexplicável.

O perfil de um agente funerário é ser uma pessoa calma, sensível e ser psicologicamente muito bem preparado para lidar com as mais diversas situações.

Desde a primeira experiência Carlos se conectou com a profissão e aprendeu que o fundamental é ter respeito com os familiares e principalmente com o corpo que está sendo preparado.

A base do trabalho é humanizar a situação, entender que existem memórias e acima de tudo respeitar aquela pessoa e o que ela foi em vida. Apesar de ser importante ter essa visão, durante o procedimento é necessário não martelar estes pensamentos e principalmente não levar para casa.

Durante todos esses anos de carreira, Carlos nunca precisou de acompanhamento psicológico. Ele não tem nenhuma técnica para se manter calmo durante o trabalho. “É uma questão de dom. Vim para esse mundo para fazer algo especial”, diz.

Apesar de ser um trabalho desafiador e não tão reconhecido pela sociedade, Carlos não se vê fazendo outra coisa. “Não troco por nada”, afirma. “É muito gratificante estar fazendo um diferencial”, conclui.

Como é ser um agente funerário
A função do agente funerário é prestar todo auxílio à família que perdeu um ente e preparar o corpo para o velório. O trabalho começa no atendimento, quando os familiares passam todas as informações necessárias para o agente.

Quando o corpo chega na funerária, é colocado em uma sala própria para o procedimento. O trabalho geralmente pode ser feito por uma única pessoa, pois o manuseio do corpo é feito de forma mecânica.

Sala de preparo tem equipamentos mecânicos que facilitam o trabalho | Foto: Brenda Pereira

O primeiro passo é retirar as vestimentas e fazer uma higienização, feita com produtos específicos, como um detergente especial e antissépticos.

Em seguida inicia-se o processo de conservação por meio da tanatopraxia. Com um equipamento de injeção são inseridos oito litros de um fluído com corante para manter o corpo conservado.

São injetados oito litros de produto para conservar o corpo | Foto: Brenda Pereira

Após esse procedimento é feita a remoção de líquidos com uma máquina de aspirar. O equipamento é inserido na região nasal, abdominal e na boca, para que nenhum líquido que possa causar mau cheiro fique dentro do corpo.

Máquina de aspirar retira do corpo todos os líquidos que podem causar mau cheiro | Foto: Brenda Pereira

Atualmente a funerária na qual ele trabalha não utiliza mais formol para a conservação. O produto utilizado é um fluído cavitário, que tem a mesma eficiência mas não tem potencial para causar danos a quem aplica em caso de acidente.

Procedimento demora cerca de 2h30 | Foto: Brenda Pereira

Após a inserção dos produtos, o tanatólogo insere algodão nas cavidades como nariz e boca, para vedar a saída de gás. Além disso, também é inserido um molde na boca, que faz com que os lábios fiquem alinhados.

Depois inicia-se o processo estético, que é feito conforme as orientações recebidas no atendimento.

Nessa etapa o cabelo é arrumado, é feita a maquiagem, é colocado um perfume, que pode ser o que a pessoa costumava utilizar ou então alguma essência, e também é colocada a roupa escolhida pelos familiares.

O último procedimento é colocar o corpo no caixão e fazer a harmonização da urna colocando flores e objetos, caso a família tenha solicitado.

Todo esse processo demora em torno de 2h30. Quando acontece da causa morte ser um atropelamento, por exemplo, em que houve deformidade, se for possível restaurar o corpo o procedimento pode demorar até 7h, mesmo quando feito por duas pessoas.

Com o trabalho concluído, o corpo está pronto para ser velado. A preparação é necessária para que o corpo permaneça conservado até o momento do enterro. Carlos conta que já aconteceu de um velório durar semanas e ressalta que sem o trabalho do agente funerário isso não seria possível.

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