Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

Alemães: a epopeia de uma imigração – A adaptação ao novo “habitat”

Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

Alemães: a epopeia de uma imigração – A adaptação ao novo “habitat”

Rosemari Glatz

Dando sequência à série sobre a imigração alemã, o tema de hoje discorre sobre a adaptação dos imigrantes alemães ao seu novo “habitat”. As informações dos primeiros tempos da colonização indicam que os colonos, em sua maioria, vinham completamente iludidos quanto ao tipo de vida que iriam ter no Sul do Brasil.


O despreparo para o que iriam encontrar
Os colonos chegavam totalmente despreparados para explorar um lote de terras coberto de floresta e isolado numa ampla área despovoada. Esse despreparo dizia respeito a tudo: nada sabiam das técnicas agrícolas adequadas, do equipamento necessário ao desmatamento e ao plantio, dos tipos de roupas adequados à região ou mesmo da existência de animais domésticos. Há relatos de imigrantes que traziam grossos cobertores de penas de ganso e roupas de lã demasiado grossas – que tornavam a bagagem muito volumosa. Gastavam seu dinheiro no país de origem com itens pouco úteis aqui e chegavam à área de colonização sem nada para começar a exploração do lote. Na Administração da Colônia é que recebiam um machado, enxada e um facão ou uma foice para iniciar os trabalhos.


Orientações para o trabalho no campo
As três principais fontes de informação dos colonos foram: os administradores da colônia, os vendeiros e os jornais de língua alemã editados em Blumenau e Joinville. Nos relatórios do Barão Von Schneéburg encontramos referências quanto às sementes fornecidas aos colonos (com informações de como plantá-las), bem como a cultivos experimentais com plantas europeias e seu posterior fracasso. Os vendeiros também tinham interesse em ensinar aos colonos quanto ao tipo de plantio e as plantas melhor adaptadas na área. E, já desde a década de 1860, circulavam no Vale do Itajaí-Mirim jornais semanais em língua alemã que traziam algumas informações sobre agricultura. É pouco provável que tenham aprendido a plantar suas roças com brasileiros, pois os poucos agregados de Werner e Sallentien (que já estavam na Colônia Itajahy-Brusque em 1860) trabalhavam a exploração da madeira e a zona litorânea de Santa Catarina fora colonizada com açorianos, cuja atividade principal era a pesca.


Waldschlag
A exploração do lote colonial se caracterizou pela policultura e pelo uso de técnicas agrícolas peculiares ao sistema de coivara. O preparo da primeira plantação tinha início com a derrubada da floresta – chamada de “Waldschlag” – que ocorria nos meses de maio, junho e novembro. Com um facão cortavam-se os arbustos menores; a seguir, com uma foice abatiam-se as árvores menores e depois, usando machado ou serra, se derrubavam as grandes árvores. Os ramos eram deixados no solo para secar durante seis a oito semanas, enquanto a madeira melhor era retirada e usada na construção de ranchos, cercas e como combustível. Após a secagem dos ramos, estes eram queimados e a cinza utilizada como adubo. A terra era então plantada com milho, mandioca e feijão nos primeiros anos, acrescentando-se depois outras plantas, tendo por objetivo o mercado. O colono, ao tomar posse do seu lote construía uma casa rústica, com madeira obtida na propriedade. A casa e outras dependências (ranchos para guardar mercadorias e abrigar uns poucos animais domésticos) se situavam próximo à picada. No seu lote alongado e acidentado, o colono só dispunha de 1/3, e às vezes até menos, de terras de várzea própria para a lavoura. (Fonte: Giralda Seyferth, 1974).

Como visto, a propaganda na Alemanha que afirmava a existência de um verdadeiro paraíso subtropical, onde todos seriam proprietários de terras, se concretizou em parte…à custa de muito trabalho e esforço.

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