Nos primeiros anos da colonização de Blumenau (1850) e, em seguida, Brusque e Guabiruba (1860), o Porto de Itajaí ainda não existia. As fragatas, veleiros ou navios aportavam no Ancoradouro das Cabeçudas, local onde as embarcações que transportavam imigrantes e carga para as Colônias de Brusque e Blumenau aportavam.

De lá, os passageiros eram transportados em pequenas embarcações até os Barracões dos Imigrantes (com capacidade para abrigar 160 a 200 pessoas), construídos na foz do rio Itajaí Mirim, conhecido até hoje como Barra do Rio.

Ao chegar em terra firme, muitas vezes exaustos pelos meses de viagem, os imigrantes descansaram alguns dias no barracão antes de seguir viagem para a Colônia.

Naquele tempo, o rio era a opção mais segura e fácil para chegar à Colônia. Botes, lanchões e canoas eram utilizados para a viagem que demorava em torno de 2 a 3 dias entre Itajaí  a colônia de destino (Blumenau ou Brusque). Chegando na Colônia, os imigrantes ainda ficavam alojados por algum tempo na Casa de Recepção da Colônia, destinada ao abrigo provisório de imigrantes que já haviam começado, naquele tempo, o povoamento das Colônias.

Agostinho Alves Ramos e a colonização do Itajaí-Açú

Pouco depois da independência, Agostinho Alves Ramos, um comerciante antes estabelecido em São Pedro do Rio Grande do Sul e depois em Desterro, resolveu transferir-se e montou uma casa de negócios que acabou por inaugurar uma era decisiva para o desenvolvimento de toda a Bacia do Itajaí.

Eleito deputado provincial, valeu-se do prestígio do mandato em proveito de seus planos de colonização. Após ter trazido para as bandas de Itajaí muitas famílias de agricultores de outros pontos da Província e, até mesmo colonos alemães – dos chegados em 1828 na colônia São Pedro de Alcântara -, conseguiu que fossem criadas, pela lei nº 11/1835, duas colônias: uma em Belchior e outra às margens do Itajaí Mirim (às cabeceiras do Ribeirão Conceição, no lugar chamado Taboleiro). A tentativa de 1835 não logrou êxito, e somente em 1860 o presidente da Província de Santa Catarina determinou nova colonização para região.

O início da colonização do Itajaí-Mirim

Conforme Silva (1972), em 1819 já havia nas margens do Itajaí Mirim duas sesmarias onde o Governo da Capitania mantinha um estabelecimento oficial que preparava madeira para as construções públicas. Nesta região fixaram-se vários moradores que se dedicaram à pequena agricultura e ao corte de árvores para a serração.

Colônia Itajahy-Brusque

Em 1860, o Governo Imperial ordenou ao Presidente da Província de Santa Catarina, Dr. Francisco de Araújo Brusque, o início da colonização do Itajaí Mirim. E assim fundou-se a Colônia Itajahy, aos 4 de agosto daquele ano. Seu organizador e primeiro diretor foi o Barão Von Schneéburg, antigo oficial da cavalaria do exército austríaco, que aportou no local indicado com 54 colonos (D’AMARAL, 1950). Quando primeiro grupo de colonos alemães chegou à “Colônia Itajahy”, encontrou a área ocupada pois além dos “bugres”, a colônia já vinha sendo explorada por outros imigrantes, dentre eles Pedro Werner, e o lendário “Vicente Só”, um dos que primeiro que ali se estabeleceu.

Já existiam na região três engenhos de serra, pertencendo um, a Pedro José Werner; outro, ao comerciante Sallentien; e o terceiro era de Paulo Kellner. Assim como os colonos recém-chegados, os três eram alemães. Também Reinhold Gaertner, sobrinho do Dr. Blumenau, era proprietário de imóvel na região de Brusque.

A chegada dos imigrantes alemães

Narram as crônicas que os alemães levaram seis dias para subir o rio de Itajaí até o ponto de desembarque em “Vicente Só”.

Estes imigrantes haviam saído de Desterro, a bordo da “Belmonte”, canhoneira da marinha de Guerra do Brasil, que fundeou na Barra do Rio, onde havia um armazém próprio para pouso provisório dos colonos e de onde os imigrantes deveriam seguir em canoas para o local destinado ao estabelecimento da colônia (CABRAL, 1958).

Ao chegarem, o Barão Von Schneéburg e os imigrantes abrigaram-se no rancho e no engenho de Pedro Werner, pois nenhuma providência havia sido tomada pelo Poder Público para instalar os colonos. Exceto pela designação do local, nada mais havia sido providenciado. Fonte:  CABRAL (1958); D’AMARAL (1950); SILVA (1972).

Para ilustrar a saga dos primeiros imigrantes alemães que aportaram em Itajaí com destino às colônias (Blumenau e Brusque), compartilho com o leitor partes do texto “Diário de Viagem do Imigrante Paul Schwarzer”  que chegou na Colônia Brusque por volta de 1864, e que retrata uma experiência comum aos que aqui chegaram nos primeiros anos da colônia (Fonte: Revista Blumenau em Cadernos, nº 9, Tomo XXV).

A decisão de ir para a Colônia Itajahy-Brusque

“Meu pai ganhou algum dinheiro com sua profissão; minhas irmãs também ganharam algum dinheiro costurando e, após uma permanência de sete semanas, puderam iniciar a viagem para Santa Catarina, onde nos reuniríamos novamente. Decidimos então o que deveríamos fazer e eu propus irmos para uma colônia, pois em Santa Catarina não havia possibilidades para nós, o aluguel de casa era muito caro. Nos aconselharam a ir para a Colônia Brusque, que existe há cerca de quatro anos, e pela qual o Governo está fazendo muita coisa. Fomos até a Casa de Recepção para Colonos e nos inscrevemos e assim fomos atendidos, diariamente e suficientemente, em todas as nossas necessidades.

Ficamos na casa de recepção por quase três semanas até que a fragata estivesse pronta para nos receber a bordo, e nos levar até o porto de Itajaí. Na fragata, foi muito desagradável e muito apertado porque, além de nós, havia mais 3 famílias. Ficamos contentes quando, após uma viagem de quase 24 horas, chegamos ao Porto de Itajaí. A entrada, na foz do rio Itajaí, é muito rochosa e por isso muito perigosa. O capitão de nossa fragata pediu que um piloto prático nos guiasse até o porto.

A chegada na Casa de Recepção

A Vila Itajaí é bem situada numa planície de vale na foz do Itajaí. A margem esquerda é muito baixa e coberta por mata de palmeiras. A vila fica na margem esquerda, entre laranjais, e diante dela, alguns navios. Velejamos com nossa fragata um pedaço rio acima, até uma casa de recepção destinada aos colonos que se dirigem para Blumenau e Brusque.

Desembarcamos com nossos pertences e fomos até a casa de recepção. Achava-se ali, naquela ocasião, o Diretor da Colônia Brusque, Barão von Schnneburg, hospedado no hotel que ficava perto da casa de recepção. Na manhã seguinte após a nossa chegada, ele nos fez uma visita e se mostrou extremamente atencioso conosco. Era um homem idoso, bigode e cavanhaque brancos. Era do Tirol e foi oficial austríaco. Encontrava-se já há muitos anos nesta terra.

Depois de uma semana, chegou um bote da colônia para transportar nossas coisas. Minha mãe e irmãs foram acomodadas no bote, enquanto meu pai e eu seguimos a pé até uma pequena hospedaria que fica perto do rio Itajaí-Mirim, afluente do grande Itajaí, onde esperamos o bote, que ancorou na manhã seguinte.

O Barão von Schneéburg, chegou em seguida, em sua canoa. Ele pagou a todos um bom jantar. Na outra manhã, o diretor chamou uma canoa com dois homens (1 branco e 1 mulato), que iriam levar minha mãe, minhas irmãs e a mim até a colônia. Meu pai deveria ir junto, mas ele preferiu fazer a viagem no bote para poder ficar junto de nossas coisas. Viajamos, rio acima, com a canoa para a colônia.

A viagem pelo rio

A maior parte da viagem era feita entre mata virgem, que me pareceu bem perto da margem do rio, num aspecto completamente novo. Do solo até acima os altos das árvores enrolavam-se trepadeiras num emaranhado tão denso que formava verdadeiras cortinas, que impediam a vista para o interior da mata, às vezes formando caramanchões naturais enfeitados com belas flores.

De vez em quando, víamos belas plantações de cana, milho, etc.

Também passávamos por serrarias. Quando chegou à noite, e sendo muito tarde para continuar a viagem, nossos guias entraram em um ribeirão e amarraram a canoa. O homem branco disse que ali perto morava seu cunhado, que nos receberia com prazer. Ele nos guiou por um longo trecho, sobre um pasto que pertencia a uma serraria. Chegamos a uma pequena casa de madeira, onde fomos bem recebidos pelos moradores.

A mulher preparou um café e mais tarde nos acomodou em boas camas. Na manhã seguinte, tomamos café e quisemos pagar a hospedagem, mas os moradores recursaram qualquer pagamento com firmeza. Os brasileiros se destacam por sua hospitalidade. Então presenteamos as crianças, agradecemos e retornamos ao rio.

A recepção e instalação

Continuamos a viagem por água e chegamos por volta de 11 horas na praça da Colônia Brusque. Na margem, já nos esperava o diretor que nos recebeu atenciosamente. Ele nos guiou até uma venda, onde almoçamos.

Mais tarde fomos informados que o governo ajuda todo colono que chega, com determinado valor por mês, durante 6 meses, variando conforme o número de pessoas da família. Nós receberíamos a quantia de 60 mil reis, que é a quantia mais elevada que é dada como subsídio.

A comunidade nos acolheu com hospitalidade. Então nos foi indicada a Casa de Recepção da Colônia, uma cabana grande, mas ruim e condenada, de tronco de palmeira com telhado feito com folhas de uma espécie de palmeira.

 

Nos instalamos o melhor possível, até que o pai chegasse, dois dias depois. O bote do pai levou 3 dias de viagem e durante este tempo choveu muito. O pai chegou todo molhado da triste viagem. Nossas coisas, por sorte, quase não molharam.

No dia seguinte à chegada, meu pai recebeu, do Barão von Schneéburg, a encomenda de um armário para livros e desde então não lhe faltou trabalho. Mas como a praça ainda é muito pequena, meu pai quer ficar só mais um tempo, e depois ir para uma colônia maior”.

Nota: A família Schwarzer ficou pouco tempo na Colônia Itajahy-Brusque, pois, conforme a fonte de pesquisa (Revista Blumenau em Cadernos, nº 9, Tomo XXV), Paul Schwarzer foi presidente da Schützengesellschaft Blumenau (atual Tabajara Tênis Clube) de 1874 até 1879, Juiz de Paz e Professor.