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#6 Intimidades: Mirela Habitzreuter fala sobre infância em Guabiruba e carreira em Nova York

Mirela Habitzreuter, 33 anos, está num momento da vida atribulada por uma rotina profissional em diversas outras cidades de Santa Catarina além de Guabiruba. Fora do estado, surgiram ainda São Paulo e Nova York na agenda anual da profissional. Os protagonistas deste movimento foram a micropigmentação de sobrancelha e a remoção de tatuagens, áreas que a profissional se destacou no mercado de estética. Hoje nos planos da empresária, está levar a vida mais tranquila, e por isso lançou uma marca de cuidados femininos, a “Mi Cuide”, pra sair um pouco de cena no futuro.

A entrevista com Mirela aconteceu ontem em São Paulo, numa agenda diária concorrida por outros 50 atendimentos que a profissional tem em média quando está na cidade. Na sexta-feira ainda embarcará para Nova York, onde fica até 2 de maio, também a trabalho.

Mas este glamour aparente só as redes sociais mostram. Até chegar aqui, houve uma construção. “Não é muito fácil, nem de uma hora pra outra. Tem que bater de frente, e trabalhar muito, principalmente no início”, acredita.

Como uma boa canceriana cheia de emoções e romantismo, não recusaria viver um amor hoje e construir uma família “se aparecer a pessoa certa”. Mirela espera que o que filho que planeja ter tenha sua referência em andar com as próprias pernas quando crescer. “A vida é feita de escolhas. Eu vou apoiar sempre”.

Descendente de alemães, Mirela foi formada pela rígida educação típica de Guabiruba. Hoje se define como uma mulher prática, sonhadora e determinada, que desde cedo esteve em busca da construção da sua carreira.

Em falar sobre sua preferência sobre praia ou serra, Mirela é incisiva. “Não importa o local, o importante é a companhia”.

André Groh: Quais memórias tem da infância?
Mirela Habitzreuter: Tenho um irmão que sempre me apoiou em tudo e torce por mim. Ele já é casado, tem filhos. Eu sou ‘sozinha’. Ele tem empresa e não viaja tanto. Diferente de mim, ele só fica no mundinho dele. Ele se preocupa muito comigo. Mas quando criança, o pau pegava porque ele tem muito ciúme. E eu sempre fui metida, no sentido de estar sempre no meio das brincadeiras de meninos. Me chamavam até de ‘macheira’ quando era criança, tínhamos os mesmos amigos na rua, e ele se incomodava um pouco. A brincadeira de homem era mais ativa, e eu ficava atraída por estar no sítio, na arrozeira, fazíamos casinha, cabana e pescávamos juntos. Mas era aquela guerra normal de irmãos. Eu era mais atentada que ele, ele é um pouquinho mais calmo.

O que acha que seus pais esperavam de você?
Fui casada por 8 meses já. Foi rápido. E a sociedade tem muitas crenças culturais. No meu primeiro namoro, meus pais idealizam o casamento. Não vou dizer que casei por obrigação, mas meio que você recebe essa pressão da família. Foi um período difícil para os meus pais aceitarem que eu não estava feliz, mas depois tudo passou. Hoje minha mãe diz que sou outra pessoa. Porque a gente vai se moldando a padrões e pessoas, e às vezes pode perder sua essência e o que tu queres. Passei muito tempo com a cabeça fechada neste sentido. Hoje minha mãe fala que não espera nada de mim, e o que eu decidir está tudo certo.

Teve alguma resistência ou preconceito?
Não vou dizer preconceito. Mas hoje em dia a mulher que não é casada, e não segue aquele padrão, sinto que às vezes as pessoas sentem pena por ela estar ‘sozinha’. E no aspecto masculino, não são todos os homens que conseguem lidar com uma mulher independente. Os homens querem te mudar, te moldar e colocar na caixinha. Querem ter esse poder. E se for parar pra pensar, quando a mulher independente quer ficar no teu lado, realmente ela quer estar com você. Eu posso viajar e almoçar em qualquer lugar, não preciso do homem financeiramente pra nada. E os homens muitas vezes são inseguros por não ter esse poder nas mãos.

Como começou a trabalhar no segmento de estética?
Comecei com minha mãe no salão de beleza, mas nunca quis o compromisso de trabalhar final de semana. E salão trabalha até tarde no sábado, às vezes até domingo. Isso me incomodava, não conseguia viajar e tinha que focar mais nesta operação. Quando comecei micropigmentação de sobrancelha, já tinha o salão estruturado, fazia as entrevistas e lidava com a rotina administrativa. Fiz tudo, manicure, tintura, depilação, corte, penteado, sobrancelha. Essa construção foi muito boa.

Atende celebridades em São Paulo?
Juju Salimeni, várias outras Panicat e bailarinas do Faustão. Às vezes aparece uma pessoa que quando vou descobrir é uma blogueira famosa. Acontece muito, sou desligada. São Paulo é outro mundo. 

Como essa agenda começou a acontecer em São Paulo?
Enxerguei um meio de divulgação que na época era pouco explorado, há 8 anos. Através de um instagram de humor, chamei o administrador da conta, e perguntei quanto ele queria para fazer uma publicação. Paguei R$ 500 na época, e bombou na região de São Paulo porque o perfil é daqui. A Juju Salimeni, que na época estava estourada no Pânico na TV, me chamou e disse que queria fazer a sobrancelha comigo.

E Nova York?
Foi aleatório. Uma seguidora por uns dois anos pedia pra eu ir atendê-la, comentava em fotos, mandava mensagem. Até segui ela e mantivemos uma relação muito engraçada, mas eu não tinha perspectiva de viajar tão longe para atender. E até então eu também estava num relacionamento. Depois que terminei, passou uns dias e ela deixou um recado gigante falando que era ‘o ultimo convite’. Então comecei a considerar. Sou muito fã do Coldplay, procurei os shows no Google, e encontrei um no mês seguinte em Nova York. Comprei ingresso e estava tudo resolvido. Minha amiga Cristina Campana morava em Nova York, e chamei ela. A Cris me convidou pra ficar na casa dela, disse que também iria no show e me conectou com o melhor amigo dela que tem um salão de beleza na cidade. A Cris disse que iria ajudar na divulgação, porque várias amigas também queriam fazer sobrancelha. A viagem tinha cinco dias, e três dias atendi direto. Deu 1 mês e meio e já voltei para outra agenda. Agora vou todos os anos.

E quando você passou a estruturar seu negócio de produtos?
A Mi Cuide surgiu na pandemia. Eu passava sabão na sobrancelha para colocar o pelinho pra cima, mas notei que não estava fazendo bem, meu pelinho estava caindo. Não tinha um produto no mercado do Brasil para dar o resultado que queria. Mas nos EUA tinha. Então eu trouxe um similar, e comecei a trabalhar em cima. Uma indústria local já estava em contato para alinharmos alguma linha de produtos próprio. Os produtos foram surgindo com as necessidades que eu enxergava nas minhas clientes, como lápis e delineador colorido.

Qual segredo para empreender no seu segmento?
O que eu vejo das minhas clientes é que todas sonham em ser independentes e fazer seu horário. Na estética tem que trabalhar muito no começo, não é de uma hora pra outra e precisa ter foco. Também ao mesmo tempo tem mulheres que fazem mil cursos e não focam em nada. Tem gente que acha que é fácil. Mas domingo de páscoa fiquei até 23h30 arrumando os lasers para atender segunda-feira. Não é só glamour. Você passa uma semana fora de casa, longe de família e amigos. As pessoas veem só a ponta, a parte boa. Tem que ter peito pra seguir em frente.

 Você se considera audaciosa?
Sim. Porque tive muito perrengue. Quando comecei em São Paulo, alugava um auditório, trazia todos os materiais e montava a estrutura. Acordava cedo e vinha com marmita de Santa Catarina. Aqui é tudo muito caro para almoçar e jantar. Nem tomávamos café no hotel. Esta semana até trouxe marmitas fit, mas porque estou de dieta. Na época era por economia mesmo, atendia das 7h às 22h, não aproveitava nada, só trabalhava. 

Qual a maior curiosidade que as pessoas buscam saber sobre você?
Como dou conta de atender tudo. Porque elas veem que uma hora tô num lugar, outra hora em outro. Elas dizem que minha vida é uma loucura.

E você gosta dessa loucura?
Eu gosto, porque consigo estar na minha casa. Posso ir para todos estes lugares, mas sempre volto para minha casa. Cada cliente é um perfil diferente, que me dá um acolhimento, e elas viram amigas depois. É bem difícil ter uma pessoa ruim. Acho que a gente atrai o que a gente transmite, e eu atraio muitas pessoas boas.

O que a casa representa pra você?
Eu amo ficar em casa. Cuidar das minhas coisas, ficar com minha cachorra. Eu gosto do agito e de estar com os amigos. Mas se for pra ficar em casa sem barulho, nem televisão ligada, eu gosto muito.

Qual a melhor forma de aproveitar a vida?
Dando risada e tendo boas histórias pra contar. 

Tem alguma?
Gente. De amores eu não vou falar, rs. Mas minha primeira viagem internacional foi pra Itália, quando recém terminei um namoro. Eu queria viajar sozinha, mas não sabia nem comprar uma passagem, era totalmente submissa ao meu ex. Ele fazia tudo, e me fazia acreditar que não sabia fazer nada. Então a primeira coisa que fiz quando terminei foi querer viajar. Organizei meu passaporte, fui no Circolo Italiano e pedi para me colocarem numa viajem. Convidei uma prima, e tive que convencer a mãe dela para ela poder ir comigo. Ela queria ir pra Caldas Novas, e eu pra Itália. A mãe disse que ela não podia ir, porque precisava ficar para arrumar um namorado. Até que ela deixou depois de muita conversa. Resumo da ópera, eu nem queria saber de ir na aula de italiano durante a viajem, ia só meio período. Preferi passear. Depois teve um dia que precisei fazer uma sobremesa pra uma gincana do curso. Preparei minha torta se sucrilhos, e adaptei o morango com kiwi, porque não tinha morango nos mercados. Minha prima disse que se a gente ganhasse a prova, iríamos jantar com um menino do outro grupo que ela estava de olho. No fim ganhamos a melhor sobremesa, e o grupo do menino ganhou o melhor risoto. Fomos na tal jantar, e minha prima acabou ficando com ele, e hoje estão casados há 5 anos.

Você gosta de cozinhar então?
Gosto. Mas como estou solteira, não cozinho tanto. Adoro fazer café da manhã, é minha especialidade aquele banquete. Almoço é muito corrido agora. 

Qual seu maior propósito?
Continuar com essa liberdade que tenho. Financeira e de ir e vir. E tentar trabalhar menos aos poucos.

Podemos dizer que você está vivendo um sonho?
Não, nunca pensei que chegaria aonde cheguei. Foi tudo acontecendo. Nunca pensei em atender em São Paulo ou em Nova York. Quando eu vi já estava. Tem várias pessoas que falam que precisa projetar os sonhos. Concordo, e talvez em algum momento vou precisar. Mas tudo foi acontecendo, e fui conhecendo pessoas que foram me direcionando. Mas nunca foi um sonho.

Você se considera feliz e satisfeita?
Sim. Muito.

Por quê?
Acordar todo dia sabendo que você vai trabalhar com alguma coisa que você ama, e que passará o dia inteiro com isso, pra mim já é 90% de felicidade. E poder ajudar, no meu trabalho, através da remoção de tatuagem que às vezes são remoções de traumas, e também ajudar a proporcionar beleza e autoestima me deixam satisfeita. Ser reconhecida e receber esse carinho durante o dia é sensacional.