Anônimo é um conceito que deriva do grego e pode ser traduzido como sem nome. Vivo rodeada de gente, algumas atreladas a seus nomes como tábuas de salvação, e outros, penso que mais livres, que fazem do nome apenas um elemento de identificação.

Em tempos em que um nome já não quer dizer muita coisa, já que a maioria inventa personagens no mundo virtual, penso que manter um certo anonimato é coisa inteligente. Mas, mesmo antes, quando ainda o nome era um anúncio de compromisso e responsabilidade, penso que a humanidade se reduzia a seu nome, como destino e única visão de si.

Não bastasse o nome de batismo, ainda há os nomes das profissões: sou ator, sou comerciante, sou enfermeiro, sou artista, sou escritor, e por aí vai…sou mulher, sou homem, sou homo, sou hétero, sou branco, sou negro…ai, que cansaço!!!

Ninguém é um nome! Porque ninguém é somente uma coisa, uma atitude ou um desígnio. Somos muito mais que isso, somos tantos e tantas, somos múltiplos e possíveis. Somos algo que pulsa e não seres estáticos a mercê das convenções. Nosso nome não pode ser uma sentença, uma obrigação, ou pior, um status.

Aplaudo os anônimos, que nos cercam e trabalham em silêncio, conectados com sua relação com o mundo e consigo mesmo. Aqueles que não estão em busca de notoriedade e muito menos de iludir-se a si próprio pelo nome que tem perante a sociedade. São pessoas, somente pessoas, que encontram um jeito peculiar para estar no mundo, respeitando o fato de que aprendem a cada dia as possibilidades de diálogo com seu entorno, com as plantas, o clima, a terra, e o conglomerado de distrações tecnológicas dessa pós-modernidade. São imprescindíveis em sua verdade, por mais tosca que ela possa parecer, por mais que sejam ignorados por nós, os “com um nome a zelar”. Invisíveis em seus anonimatos são justamente esses que acabam por possibilitar que existam pessoas ao invés de seres rotulados, comensurados, por vezes idiotizados.

Em tempos que se quer autoria, me parece que o anônimo, talvez possa ser o único que é fiel a si próprio, sem a preocupação de identificar-se com nada, mais preocupado em buscar sua felicidade, e com isso, por mais que digamos o contrário, dá chance a que os outros, nós mesmos, os cheios de nomes, encontremos a nossa.

 

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Silvia Teske

 

Arte: Silvia Teske