Após perder identidade, Brusque quer se tornar referência nacional em moda têxtil

Secretário diz que município precisa ter planejamento a longo prazo para não ser apenas "cidade-dormitório"

Após perder identidade, Brusque quer se tornar referência nacional em moda têxtil

Secretário diz que município precisa ter planejamento a longo prazo para não ser apenas "cidade-dormitório"

A gestão moderna de uma cidade dita que é preciso ter um planejamento bem definido de onde quer se chegar e como fazer para atingir a meta. O crescimento econômico, a migração e a mudança do perfil da cidade fazem com que esse plano de longo prazo tenha de ser revisto de tempos em tempos. No caso de Brusque, a revisão do que a cidade quer para o seu futuro está em curso e se faz urgente, na avaliação do secretário de Governo e Gestão Estratégica, William Molina.

Ele parte do princípio de Brusque necessita de um planejamento para 20, 30 e 40 anos sobre onde a cidade quer chegar. Isso engloba não só o poder público, mas também a classe empresarial e a comunidade em geral, pois envolve o conceito de município no futuro, o que vai além de ações isoladas do poder público.

Molina avalia que hoje não existe um direcionamento claro de onde Brusque deve chegar daqui algumas décadas. “Brusque perdeu sua identidade, era a capital nacional do tecido, capital têxtil, berço da fiação de Santa Catarina, mas é um termo que caiu em desuso. Era dito em 1960 e 1970 se referindo a o que Brusque seria até os anos 2000, mas já passamos dessa época”.

O secretário de Governo diz que se faz necessário ter uma referência de desenvolvimento, assim como cidades da região já têm feito.

“Senão Balneário Camboriú e as cidades vizinhas vão nos engolir. Inclusive, nos assustou, e é bom que nos assuste, que as outras cidades como Itajaí, Balneário, Navegantes e Penha já indicaram Brusque como cidade-dormitório da região, para os turistas virem usar nossa rede hoteleira e participar dos eventos nas outras cidades”.

Molina afirma que ser classificada como cidade-dormitório é algo que não pode ser admitido pela sociedade brusquense. “Brusque tem que ser evidência e destaque como sempre foi”.

Capital Nacional da Moda

O caminho para encontrar qual é o melhor caminho para Brusque seguir nos próximos anos passa pela academia. Molina, que é professor universitário, tem conversado com especialistas.

O secretário afirma que uma possibilidade seria tornar o município a “capital nacional da moda”. Ele avalia que seria uma forma de unir o passado têxtil com o cenário mais atual do setor.

A fabricação têxtil se transferiu para outros locais em parte. Mas Brusque continua a ser referência no desenvolvimento de peças e produtos têxteis que fazem sucesso no país, na opinião de Molina.

“Se conseguirmos nos tornar a referência nacional na moda têxtil daremos um grande passo para a Brusque futura. Nossa perspectiva é fomentar a discussão na sociedade”, diz o secretário de Governo e Gestão.

Planejamento

O Cidade Empreendedora, desenvolvido pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-SC) com a prefeitura, auxilia na busca pela vocação do município.

Alcides Sgrott Filho, coordenador da agência local do Sebrae-SC, explica que uma das etapas do programa é a captação das informações socioeconômicas da cidade e a elaboração de um relatório completo.

No dia 10 deste mês, ocorrerá uma reunião na qual os empresários e outros envolvidos vão escolher os cinco eixos de desenvolvimento da cidade. Sgrott Filho explica que esse direcionamento vai ajudar a definir a cidade do futuro.

Modelo alemão de planejamento

Essen, na região do Ruhr, na Alemanha, é um modelo de planejamento. A cidade é a inspiração, inclusive, para o programa de Desenvolvimento Econômico Local (DEL), da Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina (Facisc), como explica o diretor do programa na Facisc, Luiz Angelo Fornara.

Mais de 75% da população de Essen vive próxima do transporte público | Foto: Tramfan239/Flickr

Essen tem sua história intimamente ligada com a mineração de carvão desde o século 16. A última mina foi fechada em 1986.

Hoje a oitava maior cidade da Alemanha, Essen começou a mudar a sua história em 1993, com a entrada no programa Climate Alliance. O conselho administrativo da cidade estabeleceu o Plano Estratégico para 2030.

Em 26 anos, Essen já conseguiu mudar drasticamente o seu perfil. Em 2017, a cidade ganhou o título de Capital Verde Europeia.

Atualmente, mais de metade dos ônibus em circulação na cidade estão dentro do limite máximo de emissões. No campo da mobilidade, o município tem uma realidade invejável para qualquer cidade brasileira: 77% dos habitantes vive a pelo menos 300 metros de um ponto de transporte coletivo.

Além disso, infraestrutura verde e espaços públicos representam mais de 54% da área da cidade. São mais de 60 mil árvores, por isso Essen é a terceira mais arborizada na Alemanha.

A cidade também foi na contramão do que se vê no Brasil. Essen registra crescimento do número de usuários dos sistemas de transporte coletivo. De 2011 para 2013, por exemplo, o salto foi de 122 mil passageiros para 124 mil.

Programa DEL

Luiz Angelo Fornara explica que a Facisc se espelha no modelo de Essen para o DEL. O programa funciona da seguinte forma: são levantadas informações socioeconômicas da cidade e então é formado um conselho com a participação da prefeitura, associação empresarial, clubes de serviço e outras entidades. 

Esse conselho é encarregado de pensar a cidade adiante. Também são criadas câmaras técnicas por área, por exemplo: turismo, infraestrutura, etc.

Fornara diz que o DEL é tocado em parceria com a prefeitura, mas a associação empresarial local é uma espécie de guardiã. “Para que não seja algo que mude conforme o prefeito”.

O DEL já funciona em 23 cidades de Santa Catarina, duas no Rio Grande do Sul, uma em São Paulo, duas no Rio Grande do Norte e outras em fase de implementação.

Dentre os cases de sucesso estão Pomerode, que tem focado no turismo alemão; Penha, com vocação para o entretenimento; e outras cidades em diversas áreas.

Penha: a Orlando brasileira

Penha, no litoral norte do estado, busca se tornar a referência nacional em entretenimento, uma espécie de “Orlando brasileira”. A cidade contou tanto com o Cidade Empreendedora, o Sebrae-SC, quanto com o DEL, da Facisc.

Beto Carrero tornou Penha conhecida nacionalmente | Foto: Divulgação

O município quer aproveitar as suas praias e o parque Beto Carrero World para crescer ainda mais nessa área. “Temos 19 praias, um grande parque temático, sediamos uma série de eventos esportivos, queremos ampliar ainda mais nossa capacidade turística”, declara o prefeito Aquiles da Costa.

O prefeito esteve no Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), em Brasília (DF), no dia 8 de agosto. Ele tratou da criação de um distrito turístico em Penha. Será o primeiro do Brasil.

Costa explica que pretende “criar um distrito na cidade com incentivos para investimento, sem cobrança de impostos com empreendimentos exclusivamente para a prestação de serviços aos turistas”.

Penha quer atrair mais parques às margens da BR-101 e da rodovia Transbeto. Há informações de que grupos estrangeiros manifestaram interesse em se instalar no futuro distrito.

Além de atrair mais parques, o município também vai reformar o píer de Armação de Itapocoróy. O objetivo é receber pelo menos 25 cruzeiros temporada 2019/2020. O prefeito procurou ainda a Embratur para estruturar um projeto para promoção da região no exterior.

Gaspar: capital nacional da moda infantil

O prefeito Kleber Wan-Dall entregou ao deputado Rogério Mendonça, o Peninha, o projeto de lei que torna Gaspar a capital nacional da moda infantil no dia 7 de agosto. Peninha ficou de dar encaminhamento à demanda.

Gaspar quer desenvolver o setor de moda infantil | Foto: Smart Filmes

O título pode parecer algo trivial, mas por trás dele está um estudo e uma estratégia para a cidade. Em Gaspar, 28,16% das empresas são voltadas para o setor têxtil, sendo responsável pela geração de 37,65% dos empregos na cidade. 

No total, são 870 empresas de confecções, 484 facções e 85 tinturarias, fiações, tecelagem e outros. Cerca de 60% dessas empresas são voltadas para o setor infantil. Os dados foram levantados pelo Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico Local (Comdel), criado a partir do programa da Facisc. 

“Com a aprovação desse projeto, nós temos a expectativa de futuramente investir mais em mão de obra qualificada com uma oficina móvel de costura, também na promoção de cursos profissionalizantes, na elaboração de um selo de qualidade e em ações de turismo de compras, negócios e eventos”,  diz o prefeito Kleber Wan-Dall.

Ele avalia, ainda, que a conquista do título vai destacar Gaspar. Com isso, vai gerar mais visibilidade para o setor da economia, além de criar oportunidades de emprego e renda para a população gasparense.

Pomerode: a Alemanha no Brasil

Pomerode é um exemplo de planejamento a longo prazo. A cidade hoje é conhecida nacionalmente e até fora do país como um destino de turismo germânico.

Pomerode alcançou projeção nacional com o turismo étnico | Foto: Marinelson Almeida/Flickr

Mas o status alcançado por Pomerode é fruto de um processo de construção que começou ainda na década de 1990. Gladys Sievert, secretária de Turismo e vice-prefeita, já estava no poder público na época e conta que o então prefeito Henrique Drews Filho viu na cultura alemã uma oportunidade de desenvolver a cidade, em 1998.

Gladys conta que Pomerode foi beneficiada porque uma unidade do curso de Turismo da Furb foi instalada na cidade. Um aluno fez no seu mestrado um plano de desenvolvimento econômico para o município.

“Esse plano virou uma bíblia e começamos a buscar as metas”, comenta Gladys. A cidade passou a se moldar para ser turística. 

“Naquela época, Pomerode não tinha supermercado, padaria ou lojas abertas nos fins de semana, nem banco 24 horas. Ficava difícil trazer o turismo”, declara a secretária.

No início dos anos 2000, o município, junto com a Associação Empresarial de Pomerode (Acip), também desenvolveu o Plano Pomerode 2020, com metas claras para todos os setores. Gladys diz que esse documento também se tornou um guia para todas as gestões que passaram pela prefeitura, com exceção da última.

Já em 2013, o Pomerode 2020 foi atualizado. Hoje, não tem uma nova “data de validade”, mas é um guia para todas as gestões. Gladys avalia que a continuidade foi fundamental para que o planejamento do final de 1990 desse certo. Ela passou por quatro prefeitos.

“O nosso plano deseja tornar Pomerode uma cidade com alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), mas focado na manutenção da cultura”, diz Gladys.

O plano de desenvolvimento econômico é todo pensado no turismo. Por exemplo, a mobilidade é pensada para receber o fluxo de turistas. Até mesmo a educação é envolvida, pois a questão cultural é trabalhada de forma transversal.

Atualmente, o município revisa os planos de mobilidade, de meio ambiente, do saneamento básico, de turismo e diretor. Gladys afirma que elaborá-los simultaneamente permite às equipes se conversar. “Nada é feito em detrimento do turismo”, ressalta.

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