Em outubro, publicamos no Like textos resultantes de um projeto em sala de aula da professora Suy Mey Schumacher Moresco. O Like de hoje mostra o resultado de outro projeto da professora, inspirado no Halloween e Dia dos Mortos e realizado com alunos dos 1ºs anos do colégio Amplo. Como disse nosso ilustrador do coração, Ed Carlos Santana, temos aqui futuros Stephen King! Arrepie-se!
As ilustrações maravilhosas são do Ed Carlos Santana, brilhante como sempre!
Vocês não estavam sozinhas!
Era uma vez duas meninas que eram muito amigas, ambas tinham 10 anos e estudavam na mesma sala no Colégio Averlood, na cidade de Chicago. As duas moravam um pouco longe, então, quase todo final de semana, depois da escola, elas dormiam uma na casa da outra. Elas se divertiam muito, jogavam vários jogos, assistiam a filmes, brincavam, riam e contavam histórias de terror.
Mas esse dia foi diferente. Era véspera de hallowen e elas queriam só contar histórias de terror. O relógio já marcava 00h23min e elas decidiram parar, pois já estavam bastante aterrorizadas.
As duas foram dormir no mesmo quarto, porém em camas separadas. No meio da madrugada, começou uma tempestade, com raios, trovões e muito vento. A claridade dos relâmpagos iluminava o quarto e fazia as árvores parecerem criaturas horripilantes. As meninas estavam com muito medo e não conseguiam pegar no sono, então se encolhiam debaixo das cobertas. Até que uma delas falou:
– Estou morrendo de medo e não consigo dormir…
– Eu também! Por favor, me dê a sua mão… – disse a outra com a voz trêmula.
Então as duas esticaram os braços para se sentirem mais protegidas. O medo pareceu ir embora e as duas caíram no sono rapidinho.
Logo de manhã as duas levantaram bem cedo, viram o sol brilhando na janela e tiveram a ideia de ir tomar banho de piscina. Então foram até a cozinha, sentaram à mesa e começaram a tomar o café da manhã bem reforçado. Até que uma delas falou:
– Nossa, que medo eu passei essa noite! Ainda bem que você me deu a mão…
– Eu estava tão assustada quanto você. Obrigada! – disse a outra, aliviada.
A mãe, que estava acabando de servir o café, escutou a conversa e disse:
– Como vocês deram jeito de mover as camas de lugar? É impossível vocês conseguirem apertar as mãos uma da outra enquanto estão deitadas!
Uma olhou para a outra com cara de espanto e nem acabaram de tomar o café. Correram para o quarto e ambas sentiram um calafrio quando viram que, por mais que esticassem seus braços, não conseguiriam tocar suas mãos…
Entraram no quarto aterrorizadas e a porta se fechou sozinha. Atrás da porta estava escrito: não era só vocês que estavam com medo essa noite!
Isadora Schlindwein Brandt
Canção de ninar
1949, sexta-feira 13.
Não passava de mais um dia normal. Fui até a padaria, como sempre, e a moça do café me serviu. Não demorou mais de dez minutos para ela receber uma ligação. Correndo e chorando, ela foi até a rua seguinte do local. Curioso, fui atrás.
Chegando lá, deparo-me com ela de joelhos em meio à multidão, desesperada, pois ao chão estava sua filha de cinco anos, a qual fora atropelada.
Estava muito ferida. Quase de olhinhos fechados, pediu para sua mãe cantar. Sem pensar muito, cantou a música que a fazia ninar, era sua preferida. Cantando, passava a mão em seus lindos cachinhos loiros, os quais estavam quase pretos da sujeira do chão.
A ambulância estava demorando e o tempo da garotinha acabando. Conforme a música ia chegando ao fim, a menininha fechou de vez, vagarosamente, seus olhos, como se estivesse dormindo. A mãe caiu aos prantos: sua garota se foi.
Semanas depois do acontecimento, recebi a notícia que a moça do café havia se enforcado e, em um bilhete, escreveu que sua filha a esperava, que ela estava sozinha e com medo. A partir desse dia a cidade nunca mais foi a mesma, todo dia saía um relato novo. Uns afirmavam ver as duas de mãos dadas, outros juravam escutar uma voz feminina cantando: “nana neném, que a cuca vem pegar, papai foi na roça, mamãe foi trabalhar”.
Isadora Gripa
A Voz
Era uma noite chuvosa de novembro, meus pais não sabiam o que estava acontecendo comigo, meus pés estavam quentes e minhas mãos trêmulas, um padre católico estava na minha casa também, não parecia muito confiante em suas palavras, disse para eu ir dormir e que tudo iria ser resolvido.
Fiz o que ele pediu, me arrumei e fui para a minha cama. Dormi das nove até duas horas da manhã. Ouvi um sussurro vindo de dentro de mim, uma voz que falava em uma língua que não conseguia entender, mas minha consciência não resistiu e comecei a segui-la. Em minha mente a voz continuava a falar em um tom de sarcasmo e ainda não entendia o que estava a dizer.
Não era possível ver o que estava ao meu redor, tudo estava muito escuro, não sabia para onde a voz estava me levando, nem o que era aquela voz, mas mesmo sem querer segui-la, eu continuava andando. No começo da “viagem” a luz era mais visível, agora a escuridão é o que prevalece.
Quando pensei que não iria mais parar, ela parou e, de alguma forma, senti que a voz estava olhando em minha direção. Tudo o que sentia era curiosidade para descobrir o que era aquela coisa, e medo, de realmente descobrir o que era.
Começou a correr até mim, eu me senti mais fraco, sem forças para fugir, um leve bloco de gelo começou a ser construído dentro de mim. Depois de um tempo, esse bloco foi ficando cada vez maior, congelando meu corpo por inteiro, e, o que antes era gelo, transformou-se em fogo. Foi a pior dor que já senti.
Sem que eu pudesse reagir, a voz me absorveu e éramos um só, mas quem tomava as decisões não era eu, estava lá apenas para servir de fantoche a algo que, algumas horas atrás, nem acreditava que poderia existir.
No mundo real, o padre que antes disse que iria me proteger do mal que eu poderia encontrar já me dava como morto. Foi quando apareci em frente aos meus pais, vi-os chorando e corri para abraçá-los, mas não conseguia chegar até eles, de alguma forma apenas meus olhos e minha mente estavam conectados com a realidade, meu corpo não. Eu estava preso no lugar que mais odiava, o mundo.
O padre não conseguiu me salvar, mas pelo menos em alguma coisa obteve êxito, eu estava realmente morto, não podia sentir nada. Queria chorar, mas não conseguia chorar, queria abraçar, mas não conseguia abraçar, queria amar, mas não conseguia amar, era possível apenas ver as pessoas chorando, abraçando e amando.
Estou preso neste mundo sem poder fazer nada para sentir ao menos o pior dos sentimentos.
Quando eu vivia, ou melhor, sobrevivia, costumava ler sobre espíritos. A partir disso eu sabia que era possível um espírito morto se comunicar com um médium na superfície por meio de mensagens psicografadas. Estou enviando isto não para dizer como foi minha morte, e sim para que, caso algum ser leia, aproveite o tempo que lhe resta para chorar, abraçar e amar, antes que alguma voz venha sussurrar na noite de mais alguém.
Leonardo Luís Dalcegio