De emigrantes a transmigrantes: a epopeia dos poloneses

Por Maria do Carmo Ramos Krieger

De emigrantes a transmigrantes: a epopeia dos poloneses

Por Maria do Carmo Ramos Krieger

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O início da emigração polonesa para o Sul do Brasil não foi tão significativa, numericamente falando. Pelo menos no início, quando algumas dezenas de pessoas chegaram às então Colônias Itajahy e Príncipe Dom Pedro (atual Brusque), em agosto, setembro e outubro de 1869.

Comparada às outras emigrações europeias, como a de portugueses açorianos (mais de 6 mil pessoas para Desterro, hoje Florianópolis; porém não conta muito, pois o Brasil era Colônia de Portugal e, assim, por pertencimento, são considerados colonizadores), alemã e italiana, os números relativos aos poloneses são pouco expressivos.

Some-se a isso o fato que muitos poloneses eram registrados como russos (caso da família Schlösser, em 1896), austríacos e até mesmo como alemães, o mais comum. De qualquer maneira, nomes e sobrenomes com tantas consoantes, deveriam soar como algo muito estranho aos ouvidos dos agentes encarregados pela imigração nos portos de desembarque aqui no Brasil (Rio de Janeiro, São Francisco do Sul, Itajaí). Esse, com certeza, é um dos motivos pelos quais se encontram grafias as mais diversas para o nome de um mesmo indivíduo.

O envolvimento, porém, das famílias na construção de uma identidade, mesmo que coletiva (o primeiro grupo era composto por 80 pessoas, o segundo, 22 e o terceiro, 44), foi um fator decisivo para a própria preservação deles enquanto construtores de sua história aquém-mar.

História que começa nas colônias, com toda sorte de fatos adversos, como enchentes, bugres, falta de serviços, problemas administrativos, doenças, mata, animais bravios, cujas narrativas se alteram em torno de um homem: Sebastião wos Saporski.

Polonês, Saporski organizou a ida dos primeiros imigrantes de Brusque para Curitiba, a partir de maio de 1871. Ruy Cristovam Wachowicz cita que “Os poloneses, recrutados por Saporski na Silésia, foram estabelecidos na colônia Príncipe Dom Pedro no loteamento Sixteen Lots, abandonado pelos irlandeses. Os poloneses foram, pois, colocados na Colônia Príncipe Dom Pedro dentro de uma política de repovoamento da área. Foram, portanto, os poloneses fixados na região, já sob administração alemã.

Observe-se que os dirigentes alemães tudo fizeram para afastar os norte-americanos (antes, estabelecidos no mesmo lugar – nota da autora) e o conseguiram. Entretanto, com relação aos poloneses, ao contrário, tudo fizeram para mantê-los na região. Consideravam que os poloneses não eram obstáculo a sua hegemonia. Tal atitude se explica porque estavam acostumados a conviver com eles na Europa.

A construção de estradas continuava paralisada, engenheiro ou novo agrimensor ainda não havia sido contratado, conseqüentemente dinheiro ainda não havia chegado à colônia. Frise-se, no entanto, que o governo Imperial não desfrutava de boa situação financeira, face à Guerra do Paraguai, que estava no auge. Nessas circunstâncias, Saporski chamava-os para o Paraná.”

É, portanto, em meio a tais problemas, que acontece a fuga ou o êxodo de Brusque para Curitiba, em setembro de 1871. Wachowicz comenta que “este (Saporski) sabia muito bem que a administração da colônia procuraria impedir por todos os meios sua saída”.

O impedimento não seria só com relação à direção das colônias, mas principalmente com relação à Sua Majestade D. Pedro II, a quem Saporski relata ter solicitado a transmigração. Mas não existe nenhum documento assinado por D. Pedro atestando ou autorizando tal ato – o da transmigração, que consistia em levar imigrantes de uma Província (no caso, Santa Catarina) para outra (Paraná), haja vista que o monarca encontrava-se em viagem ao Egito, em setembro de 1871.

Alguns pesquisadores/historiadores/escritores insistem que a transmigração foi um ato oficial. Encontrar o referido documento assinado por D. Pedro II que comprove essa verdade continua a ser um desafio.

A autora
Maria do Carmo escreve sobre Imigração Polonesa em Brusque desde a década de 1980. Têm mais de cem artigos publicados em jornais e boletins culturais, além de quatro livros sobre o tema. Nesta sexta-feira, 23, lança a obra “Uma Geografia (e outras histórias) para os Polacos” – uma leitura sobre o ambiente encontrado pelos primeiros imigrantes poloneses.

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