ARTIGO – Mercado de carbono: uma nova oportunidade para a economia de Santa Catarina
Paloma Bassani
Advogada especialista em Direito Ambiental
Santa Catarina possui uma economia diversificada e potente, o que implica um duplo papel diante do novo mercado de créditos de carbono, regulamentado em Brasília no final do ano passado. Tornar a adesão a este mercado praticamente obrigatória pode ser um desafio, mas também deve ser visto como uma oportunidade para as empresas do estado.
Por um lado, setores como agroindústria, construção civil, indústria têxtil e polo metalmecânico serão forçados a se adaptar às novas regras. Assim, precisam registrar suas emissões em inventários de gases de efeito estufa (GEE) e estabelecer metas de descarbonização.
Por outro lado, essa adaptação, embora desafiadora, representa uma porta de entrada para a modernização e a competitividade. Afinal, como defendia o filósofo Francis Bacon: a tarefa não é apenas encontrar oportunidades, mas criá-las.
Estado forte, SC já começou a criar as suas oportunidades. Destaca-se, nesse sentido, a iniciativa promovida pela Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc) de um hub de descarbonização, com objetivo de converter 100% dos dejetos da suinocultura em energia e biogás nos próximos dez anos.
O agronegócio catarinense, por sua vez, também encontra diversas oportunidades. A produção primária não está incluída nas obrigações de conformidade do mercado regulado, mas possui um vasto leque de práticas de agricultura regenerativa que a qualificam como uma importante fonte geradora de créditos de carbono.
Práticas como a integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), a recuperação de pastagens degradadas e o plantio direto permitem que os produtores transformem a sustentabilidade em um ativo financeiro.
A própria vegetação nativa também pode ser fonte de projetos, incluindo áreas de preservação permanente e de reserva legal, que podem ser reunidas por meio de consórcios entre proprietários rurais.
Nesta ocasião, chama a atenção os projetos de reflorestamento ou a implementação de sistemas agroflorestais, que combinam mata nativa com cultivos agrícolas, como o da erva-mate. Essa iniciativa não só gera renda, como também demonstra na prática que é possível conciliar produção com preservação.
As oportunidades não se limitam ao campo. A indústria também pode gerar seus próprios créditos ao investir em eficiência energética, como a modernização de maquinários, ou ao adotar tecnologias de captura de carbono diretamente de suas chaminés. A lógica é a mesma em todos os casos: cada tonelada de emissão evitada se transforma em um ativo financeiro.
É por isso que a jornada de carbono, no fundo, é uma questão de escolha: a escolha entre ser vista como um custo ou um investimento, a escolha entre remediar o passado ou projetar o futuro.
Santa Catarina, ao abraçar as oportunidades do mercado de carbono, não está apenas respondendo a uma lei. Santa Catarina está escolhendo ser um polo de inovação, prosperidade e respeito ao meio ambiente.
