Após três anos casados, o casal Sérgio Fortes de Jesus e Elenice da Silva Oliveira, ambos com 39 anos, mudaram-se de Rodeio Bonito (RS) para São João Batista. Na bagagem, junto com os dois filhos do primeiro casamento de Nice, Amanda, 18, e Gabriel, 15, o casal trouxe o desejo de trabalhar, fixar residência e ampliar a família.

De forma planejada, o casal engravidou e então iniciou os preparativos para o enxoval. Até o terceiro mês, Nice conta que enjoou muito, diferente das duas primeiras gestações. Ao completar três meses e uma semana, a mãe sofreu um princípio de aborto e foi fazer o primeiro ultrassom. “O médico olhou e disse que estava tudo bem, que era feto único. Voltamos para casa e continuei trabalhando normalmente”, conta Nice, que é diarista.

No quarto mês, a barriga da mamãe já estava grande demais, o que causou estranhamento. E então, no quinto mês, quando o casal foi fazer o ultrassom para saber o sexo do bebê é que veio a surpresa. “O médico olhou e disse que estava vendo dois bebês. A gente já se assustou. Mas então ele disse que tinha mais um escondidinho, e viu que seriam três meninas”, lembra a mãe.

Sem conseguir acreditar na notícia, e ao mesmo tempo feliz, o casal voltou para casa e naquela noite não conseguiu dormir. “Ficamos a noite toda conversando, pensando em como seria”.

Na família de Nice o histórico de gestação múltipla é comum: um tio e um irmão tiveram gêmeos. Mas trigêmeos, ela foi a privilegiada. “Quando descobrimos a gravidez, eu e o irmão dela brincamos. Ele dizia que seriam gêmeos e eu dizia que se não fossem trigêmeos nem seria filho meu”, lembra Sérgio. E, então, os anjos disseram amém ao casal.

Arquivo Pessoal

Ajuda da comunidade
Ao descobrirem a gestação tripla, o casal buscou ajuda na Secretaria de Assistência Social do município, que ajudou com viagens ao Hospital e Maternidade Carmela Dutra, em Florianópolis, e com a arrecadação de roupas e fraldas para as meninas.

As patroas de Nice também não mediram esforços em fazer campanhas e mobilizar a comunidade com doações. “Eu comprei só três pares de meias rosas para elas. O restante de roupas ganhei tudo. Elas têm roupas para usar até os dois anos. Ganhei também três berços. Fraldas ganhamos bastante no começo, mas como usa muito, agora já precisamos comprar. Só para mandar para creche, vão 18 por dia”, diz a mãe.

A família passou a ser sustentada somente pelo salário de Sérgio, que muitas vezes precisou ainda se ausentar para auxiliar a esposa nas consultas médicas, que ocorriam a cada 15 dias. “A gente recém tinha comprado a casa. A dívida é alta, mas priorizamos em manter a casa e alimentar nossa família”, afirma o pai.

Nice ainda conseguiu amamentar as meninas até os cinco meses, sempre complementando com um leite na mamadeira. “Foi muito gostoso poder amamentar duas de cada vez. Em cada rodada de mamar, uma ficava na mamadeira, e assim ia revezando”, conta a mãe.

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Escolha dos nomes
Nice lembra que uma vez ouviu a história de uma mãe que teve gêmeas e batizou as filhas de Maria. E, o sonho de poder ter as suas Marias seguiu com ela. “Sempre pensava que se fosse abençoada por Deus para ter gêmeas, faria igual e então tive a graça de ter a Maria Helena, Maria Izabel e Maria Valentina”.

A história das três Marias ficou bastante conhecida no município e hoje são lembradas dessa forma. “Elas são meu presentão de Deus. Pedia sempre que Ele mandasse elas cheias de saúde, porque amor eu tenho de monte para dar na mesma proporção para os cinco. E Deus me atendeu, porque elas nunca tiveram nenhum problema. Nem as vacinas que costumam dar febre, não deu nelas”.

Decisão de nascer
O médico que acompanhou a gestação de Nice queria fazer a cesariana com 36 semanas. Porém, as três Marias decidiram nascer com 34 semanas e três dias. “Eu já estava internada, pois por duas vezes tive princípio de trombose e estava me tratando. Foi quando entrei em trabalho de parto em um domingo. Mas os enfermeiros quiseram aguentar até na segunda-feira, pois precisava de muitos médicos”, lembra.

E foi em 12 de março de 2018, com uma sala de cirurgia com 13 profissionais na equipe médica, entre pediatras, obstetras, cardiologistas e enfermeiros, que as três Marias vieram ao mundo.

A primeira a nascer foi Maria Helena, com 2,245 kg, que hoje é o grude da mamãe. Em seguida veio Maria Izabel, com 2,160 kg, que é apegada ao papai. Por fim, Maria Valentina chegou com 2,05 kg, para ser a parceira da irmã Amanda.

As meninas ficaram por seis dias apenas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), porém elas e a mãe permaneceram no hospital por 23 dias. “Como nos primeiros dias elas perderam peso, os médicos não deixaram a gente vir para casa antes de chegarem novamente ao peso que estavam quando nasceram”, explica Nice.

Maria Izabel e Maria Valentina são gêmeas univitelinas, ou seja, idênticas. Já Maria Helena, que estava em outra placenta, possui traços diferentes das irmãs.

Arquivo Pessoal

Rotina imprevisível
A casa de Sérgio e Nice hoje não segue mais uma rotina regrada. Todos os planos feitos pelo casal tomaram rumo diferente a partir da chegada das três Marias. “Passamos a adaptar nossa vida. Têm pessoas que perguntam como a gente dá conta, mas é questão de adaptação. Dá até impressão que as três dão menos trabalho do que os outros filhos que nasceram sozinhos”, comenta a mãe.

Ela ressalta que para o coração de mãe, não existe nenhuma diferença em ser mãe de trigêmeas para os outros dois filhos. “O amor é o mesmo. Consigo multiplicar entre meus filhos. Eu sou apaixonada por criança, acho que é por isso que Deus me mandou as três. O amor faz a gente dar conta de tudo. Deus sabe para quem dá”, afirma.


Você está lendo: As três Marias de São João Batista


– Introdução
– Surpresa no dia do parto 
– Gêmeos em dobro
– Unidas pela maternidade
– O ABC da psicóloga
– Gerações de gêmeas
– Vencendo a morte
– Rua dos cinco gêmeos 
– Superação após a perda 
– Os meninos da casa