“Juro-vos senhores que uma consciência muito perspicaz é uma doença, uma doença autêntica, completa. Para uso do cotidiano seria mais do que suficiente a consciência humana comum…”
(Dostoiévski)

Fui buscar algum significado para a palavra assédio, e me veio, entre outras essa de “conjunto de sinais ao redor ou em frente, estabelecendo um cerco com a finalidade de exercer o domínio, ou também insistência impertinente, perseguição, sugestão ou pretensão constantes em relação a alguém”. E claro isso se alastra para a questão moral e sexual. Penso que é uma questão que está em alta nos dias de hoje, e me faz pensar nos diversos âmbitos em que somos assediados por outros e por nós mesmos. Penso que, talvez, esse período de incertezas em que vivemos nos cria uma necessidade de apegos. E aos apegos, surge a ideia de pertencimento, onde talvez possamos ver nossa solidão diminuída. Me questiono se, para sairmos da dúvida da angústia, do sem rumo, não nos tornamos reféns dos “ismos”. Sejam eles: anarquismo, nacionalismo, imperialismo, cientificismo, racismo, feminismo, machismo, utopismo, naturalismo… e por aí vai… Vejo os “ismos” como formas fechadas e catalogadas que substituem uma carência do sujeito pós-moderno.  A carência de uma certeza que diminua a horripilante sensação de dúvida, um amparo sobre quem somos no mundo. Diante disso aparece o assédio. Somos assediados por diversos “ismos” político-ideológicos, e principalmente pela obrigatoriedade de nos posicionarmos e escolhermos algum deles para sermos amparados, abraçados…mas também formatados, encaixotados, prisioneiros. Nós mesmos nos deixamos assediar cotidianamente com as novas mídias, com a felicidade aparente, com o corpo ideal, o gênero certo, a sexualidade definida…somos assediados por discursos para termos a certeza de quem somos. No entanto, há algumas pessoas, talvez ainda uma grande maioria que não seguem modelos, não seguem “ismos” e não se permitem serem cerceados  por sinais, reféns de um cerco que as domine. Ainda existem pessoas que não se sentem perseguidas ou sugestionadas, pessoas que vivem a vida e tratam seus dilemas e necessidades de viver vivendo a vida, sendo o que são, quando são, e abertas a mudanças, sem assediarem, sem serem assediadas, já que possuem uma incerteza básica, a de que não sabem. São as que duvidam, que se angustiam, mas também se alegram e que vivem o dia-a-dia na busca do acontecer, do experimentar sem carregar uma etiqueta que as reprima e as condicione a um tipo de comportamento conciliável com este ou aquele argumento pautado em “ismos” nada originais, sujeitos a mod(ismos). Pessoas que, mesmo com uma sociedade falida, onde o pano de fundo é o assédio para esta ou aquela clausura, ainda acredita em compromisso, durabilidade e constância. Ainda acredita que o mundo é fruto de seu esforço e trabalho, e que o sentido e relevância da vida, somente elas podem construir. Sem ismos e sem assédio.

 

Silvia Teske – artista