Chegamos aos últimos pecados capitais da nossa série. Reafirmamos que a reflexão sobre esses vícios não tem um interesse meramente religioso, pois evitá-los é uma questão de inteligência, antes que de fé ou de piedade. Os vícios ou pecados capitais são inimigos da felicidade humana nesta vida, independente da existência de uma vida futura e de seus possíveis prêmios ou castigos.
A avareza é o vício de quem se apega exageradamente ao dinheiro e aos bens materiais. Quanto a esse aspecto da vida, Aristóteles já indicava dois vícios opostos: a avareza e a prodigalidade. Enquanto o pródigo esbanja tudo o que tem sem nenhum controle, o avarento quer reter e acumular bens exageradamente. Quem sabe lidar de modo equilibrado com os bens materiais é chamado liberal, e sua virtude é a liberalidade. [Esses são bem representados pela imagem da “empada”- em oposição à “coxinha” – como descrito no espetacular texto do Editorial do Municipio Dia a Dia da última sexta!].
A essência do pecado da avareza é projetar no que é material o que deveria estar no espiritual. Assim, os avarentos acumulam dinheiro e bens, vangloriam-se de suas conquistas materiais, mas se esquecem de cuidar de suas almas. São mesquinhos e interesseiros, revelando uma pequenez interior que contrasta com a grandeza ou a pretensão de grandeza de seu patrimônio material. Mas o problema não está no dinheiro ou nos bens, pois, desde que conseguidos com decência e competência, devem ser usufruídos com todos os méritos. O problema está na postura interior da pessoa, de tal forma que esse vício também habita a alma de muita gente materialmente pobre, para quem tornar-se rico é mais importante que ter caráter. A corrupção é uma das inúmeras filhas desse vício capital.
A Ira é o descontrole diante das violentas emoções da raiva, ódio ou rancor. É como uma fábrica permanente de ácido, sendo secretado e lançado no organismo do indivíduo dominado por esse vício. A emoção, por si mesma, não é boa nem má. Senti-la, em alguma proporção, é fundamental para uma vida equilibrada. Pessoas incapazes de se encolerizar tornam-se apáticas e desprezíveis, enquanto as que se encolerizam em demasia são insuportáveis, trocando frequentemente os pés pelas mãos. Muitos estão a um passo do crime, uma vez que, quando a emoção cega a razão, a pessoa já “não responde por si mesma”, como se costuma dizer.
Nossa vida é uma constante busca de equilíbrio, e esse equilíbrio é sempre frágil. Reconhecer as armadilhas que nos fazem tropeçar é fundamental. Que a reflexão sobre os vícios e virtudes se torne uma prática mais frequente, num mundo cada vez mais desequilibrado e perdido!