Baixa produção de mel preocupa apicultores e meliponicultores da região

Poucas toneladas foram colhidas em 2019; condições climáticas são apontadas como principal fator

Baixa produção de mel preocupa apicultores e meliponicultores da região

Poucas toneladas foram colhidas em 2019; condições climáticas são apontadas como principal fator

As colheitas de mel em Brusque e região foram bastante preocupantes até janeiro de 2019, de acordo com membros de diretorias de associações de apicultores (criadores de abelhas com ferrão) e meliponicultores (criadores de abelhas sem ferrão). Poucas toneladas foram colhidas, e o principal fator apontado pelos produtores é o clima. Em alguns apiários, a colheita trouxe apenas 30% dos resultados do ano anterior.

O vice-presidente da Associação de Apicultores de Botuverá (Apibo), Renato Zucco, relata que a safra 2018-19 só não foi pior que a 2017-18 em seus apiário e meliponário porque naquele ano sequer houve uma colheita significativa. “Há 40 anos pratico a atividade e no ano passado mal tirei 50 quilogramas de mel. Neste ano, foram 700. Houve épocas em que foram duas toneladas.”

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A Apibo possui hoje cerca de 70 apicultores associados de diversos municípios do Vale do Itajaí, mas atualmente não há levantamentos oficiais da produção total. Zucco afirma que a média, na década passada, chegou a ser 40 toneladas por ano.

O técnico da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) em Botuverá, Edegar Becker, vê com muito mais otimismo a produção de mel para 2019 no município, aguardando 10 toneladas dos 70 apicultores até junho, quase dobrando a produção em relação à temporada anterior. “No final deste ano ocorreu um período de tempo bom e houve uma boa floração de plantas, o que favoreceu o aumento de produção”, explica.

Em levantamento da Epagri, foi aferido que Botuverá possui 70 apicultores que colheram 6,5 toneladas de mel entre julho de 2017 e junho de 2018.

Em 2016, a Federação das Associações de Apicultores e Meliponicultores de Santa Catarina (Faasc) elaborou um recenseamento de apicultores, colmeias e quantidade de mel produzido.

Clima
O ano de 2019 foi atípico na visão de Zucco, porque não havia mel em suas colmeias durante setembro, outubro e novembro, meses de primavera. “Em 30 dias de dezembro, as colmeias encheram, as condições favoreceram, as abelhas trabalharam bem e o mel veio. Mas de qualquer forma, nunca mais haverá safras como nas décadas passadas. Não há muito o que fazer com o clima.”

O clima ideal para a produção de mel tem estações bem definidas, poucas chuvas e poucas noites nubladas. As chuvas lavam as flores, levando néctar e pólen ao solo. Ou seja, após um dia de chuva, a abelha coleta menos componentes do que o normal para produzir o mel. O clima correto, aliado à abelha saudável e à técnica apurada por parte do apicultor ou meliponicultor, é essencial para uma boa safra.

“Sabia-se que era necessário o frio, e depois a primavera. Com as mudanças climáticas, a árvore nem sabe se é verão o inverno, muito menos a abelha. Sabia-se que de setembro a dezembro se colhia mel, e depois, em março, por causa da florada de eucalipto. Hoje não dá pra saber direito. Se chover demais, não dá”, explica Zucco.

Produção e qualidade
A maioria do mel de Santa Catarina é silvestre, ou seja, as abelhas produzem a partir do néctar e do pólen de diversas flores diferentes. Assim, o mel de diferentes safras de um mesmo local pode ter aromas e sabores diferentes.

Há quem, por exemplo, aproveite sua floresta de eucalipto ou seu pomar de laranjeiras para instalar um apiário ou meliponário. Assim, as propriedades do mel são diretamente associadas a estas plantas, pois a abelha colhe polén e néctar exclusivamente delas.

Quem se interessa pela produção de mel pode procurar diversos cursos que são oferecidos e comparecer a reuniões e convenções. Os enxames costumam ser coletados na natureza, utilizando a cera em caixas como atrativo.

“É necessário aprender as técnicas. eu, por exemplo, troco rainhas, tenho núcleos de fecundação, costumo produzir abelhas rainhas da melhor forma, para que as gerações de abelhas sejam mais fortes. É um hobby para mim, e em geral, na região, a apicultura é um hobby, um complemento à renda. São raros os que investem demais para sustento próprio”, comenta Zucco.

Apicultura é hobby para boa parte dos agricultores da região | Foto: Renato Zucco/Arquivo pessoal

Agrotóxicos
Zucco afirma que, em regiões onde a agricultura possui forte papel econômico, a apicultura tem sofrido mais devido ao uso de agrotóxicos. Em Brusque e região, este problema é bem menor.

Ele sugere que na região Oeste, por exemplo, os agricultores poderiam avisar os apicultores sobre aplicações de agrotóxicos. Assim, o apicultor fecha suas colmeias com antecedência para evitar que seus insetos sejam contaminados.

“A aplicação de agrotóxicos mata os insetos que destroem plantações. A abelha não sabe que não pode ir na flor, na plantação com agrotóxico. Ela sai, volta e contamina a colmeia. E o mel que vem desta situação não dá para consumir. A exportação fica dificultada, provavelmente por contaminação. Nosso mel custava R$ 10 o quilo, hoje é vendido a R$ 6”, explica.

Além dos agrotóxicos, há também doenças e parasitas que podem afetar a abelha. A abelha africana, com ferrão, é a mais resistente a este tipo de dificuldade.

Enxames são coletados na natureza com a ajuda de caixas com cera apropriada | Foto: Renato Zucco/Arquivo Pessoal

Em Lontras
O presidente da Associação Lontrense de Apicultores (Alapi), Volnei Rocha, explica que em 2019 explica que colheu apenas 30% do total que produziu no ano anterior. E esta é a média na região, de acordo com as conversas com outros produtores. Ele associa a má safra às condições meteorológicas desfavoráveis na primavera, como a ausência do orvalho.

“Em setembro houve uma boa florada, com clima favorável, de altas temperaturas e de altos e baixos, muitas vezes sem orvalho. Em outubro e novembro,as noites foram nubladas, ou seja, o orvalho não conseguiu se formar. Sem orvalho, a abelha não coleta néctar”, comenta.

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Rocha explica ainda que quando o clima não é favorável para que haja a abertura de muitas flores, é quase impossível ter boas safras. O calor é fundamental para que haja a criação do orvalho em noites de céu sem nuvens. As técnicas do apicultor também contam bastante, além, claro, das próprias abelhas, que precisam estar bem saudáveis e nutridas para cumprirem suas missões.

“Nunca havíamos tido uma sequência de três anos ruins na produção. Agora tivemos três anos seguidos em que a apicultura sofreu queda brusca, e a pior foi neste ano. Para 2019, esperamos uma melhora, mas depende do clima. Mudanças bruscas de temperatura tornam a organização difícil. Me preparei para colher 5 mil, colhi mil. Investi alto e recebi um pé no traseiro. É esperar a nova safra”, lamenta.

Os apicultores da região de Lontras têm de 25 a 30 mil colmeias em 25 município. A Alapi não costuma fazer os cálculos da produção somada dos apicultores. De acordo com Rocha, não é possível ter noções exatas, mas sabe-se que quem colhia entre três e 2,5 toneladas de mel há alguns anos passa a colher entre meia e uma tonelada.

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