João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Barbeiro, a Arte de Cortar Cabelo

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Barbeiro, a Arte de Cortar Cabelo

João José Leal

Essa rapaziada de cabeça raspada, topete à moda Neymar, mais parecendo índio comanche do velho faroeste americano em pé de guerra, não freqüenta a nossa tradicional barbearia. Preferem os Barber-Shops, essa moda de salão vinda do estrangeiro. No entanto, caminhando pelas ruas da cidade, vejo que a geração mais velha, boa parte já careca, garante a sobrevivência das velhas barbearias, dos antigos salões da beleza visual masculina, onde a ordem mais ouvida era “cabelo e barba”. É verdade que, agora, o corte de cabelo é quase a única pedida. A maioria dos homens faz barba em casa mesmo, na primeira hora do dia, asseio matinal que acompanha o lavar do rosto e o escovar dos dentes, antes do merecido café, que ninguém é de ferro.

Agora, com os modernos aparelhos, cortar a barba é um ritual, rotina diária de simples vaidade que nós, homens, praticamos diante do espelho, rosto coberto por aquela espuma de creme Bozzano, esfregado a pincel até formar a cobertura glaceada que nos transforma em Papai Noel por alguns instantes. Depois, ato reflexo, as nossas mãos, uma, a esticar a bochecha e, outra, a manejar a lâmina para a rasura da derme que vai nos deixar de cara lisa, a reluzir sob o efeito da loção antisséptica e refrescante, também da Bozzano, porque o consumo das novas marcas fica por conta da juventude, sem olfato para apreciar o cheiro de álcool e mentol espalhado pela casa.

Sim, os jovens estão indo aos Barber-Shops e os mais velhos fazem a barba em casa. Mas, a barbearia tradicional, continua resistindo e vai continuar. Não vemos mais o barbeiro, navalha na mão, no vai-e-vem sobre a pedra ou o estropo de couro a afiar a lâmina de arrepiar pelos, em busca do fio para o corte raso da barba do freguês de cara escumada. Fora isso, a barbearia mudou pouco. Continuam aquelas pesadas cadeiras giratórias frente ao espelho, a clientela sentada à espera da vez, conversando sobre futebol, mulheres, política, contando piadas sem censura.

Em pé, rodeando uma cabeça, o barbeiro vestido em seu tradicional avental de ofício, mão hábil no manejo da tesoura Solingen, garantia de qualidade da ferramenta de trabalho e o abre-e-fecha incessante das lâminas para o corte da cabeleira, despencando em mechas sobre a toalha amarrada ao pescoço do passivo cliente.

Durante muito tempo, Anselmo Modesti, mestre da tesoura, cortou meus cabelos. Agora, corto o que restou da minha cabeleira, com meu amigo Evelério Barg. Ao lado, trabalham também Darossi e Delcastanher, três mestres e profissionais exemplares da tesoura, mais de 60 anos cortando os cabelos, ajeitando e embelezando a cabeça de algumas gerações de brusquenses.

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