A história da maioria dos clubes de futebol amador é cheia de altos e baixos. O número de variáveis para o funcionamento das equipes é bem diferente dos times profissionais, que mantêm uma estrutura muito maior e mais firme. 

No amador, algumas equipes surgem, se destacam e depois, por uma série de acontecimentos, acabam desaparecendo. É o caso do Flamenguinho, do bairro Ribeirão Porto Franco. Fundado em 1998, o time chegou a ser duas vezes campeão municipal, mas, há dez anos, foi desativado.

Ex-presidente, técnico e capitão do Flamenguinho, Amauri Cestari participou da fundação do clube e conta que o nome do time surgiu porque, na cidade, já existiam clubes inspirados por outras equipes grandes, como Palmeirinha, Grêmio, Figueira, Botafogo, Fluminense e São Paulo. “Sobrou o Flamengo para gente. Eu sou são-paulino, foi uma coincidência”.

Além dos campeonatos municipais, o Flamenguinho também disputou vários torneios em Botuverá e cidades da região. Cestari lembra que o time chegou a enfrentar a equipe juvenil do Brusque em uma preliminar de uma partida profissional do quadricolor contra o Avaí.

Porcos e bezerros

Durante o relativamente curto período na ativa, o Flamenguinho deixou sua marca nos torneios da cidade. Ao invés dos tradicionais troféus e medalhas aos vencedores, começaram a premiar os clubes com porcos e bezerros.

“Troféu fica às vezes de lado, mas o pessoal queria comer. Depois disso, outros clubes começaram a fazer o mesmo e a gente ganhou também muitos porcos e bezerros de premiação. A gente ia com o caminhãozinho para os torneios, porque, se ganhávamos, já trazíamos para casa”, conta Cestari.

Em uma das oportunidades que o Flamenguinho saiu com um porco como prêmio, após um torneio no Ourinho, os jogadores passaram por maus-bocados para chegar com o “troféu” em casa.

“O time inteiro foi para o torneio em cima do jipe a gás. E acabamos estourando os quatro pneus, e o porquinho sendo segurado atrás. Tinha gente sentada no pára-choque, outros pendurados. Viemos de lá para baixo com os pneus furados, chegamos em casa meia-noite e ainda tinha que cuidar da estufa para colher o fumo de manhã”.

Apesar dos perrengues, Cestari recorda da época com muita alegria. “O que fizemos nessa história, hoje não faríamos mais, fomos jogar em Blumenau, Gaspar, Itajaí, Tijucas, São João Batista…Mas foi muito bem aproveitado”.

Memória perdida

Mesmo com a dificuldade de fechar o time só com atletas do bairro, que é pequeno, o Flamenguinho confeccionou um estatuto e teve uma sede, com um campo de futebol, salão e cancha de bocha. Cestari destaca que uma característica forte da equipe era a organização.

“Éramos muito unidos, mobilizava a comunidade. A gente fazia reunião com sócios e jogadores, marcava com alguns dias de antecedência, e todo mundo demonstrava interesse e participava. Tinha muita gente para assistir os jogos”.

O clube organizou bailes, realizou confraternizações entre os sócios e outros eventos, mas, aos poucos, a equipe se desmobilizou e foi se perdendo.

“Agora o salão foi vendido e colocaram uma tecelagem lá. O campo foi virado para plantar fumo, agora construíram uma casa lá. Até fizeram um campo novo mais à frente, mas ninguém mais joga, está lá parado. Os jogadores foram ficando velhos, não teve mais interesse dos jovens para a renovação, então a gente continuou por um tempo até que parou. Não tem mais nada”.

As medalhas e os troféus foram se perdendo com o tempo. Datas e documentos também. Desde então, os eventos e as atividades no Ribeirão Porto Franco foram diminuindo, mas as lembranças de um tempo mais alegre, mesmo que borradas ao longo do tempo, permanecem.

“A gente se reúne com alguns colegas e comenta ainda, mas o que fica são as memórias. Infelizmente, foi assim. Foi uma época muito boa”.


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