João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Bitcoin

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Bitcoin

João José Leal

Dinheiro não dá em árvores nem se pesca de caniço e anzol. Isso, eu aprendi, ainda jovem, quando estudava na universidade. Naquela época, apareceu uma dessas correntes com a proposta de se ganhar dinheiro fácil.

Na verdade, garantia ao “investidor” ganhar um bom par de sapatos, de famosa marca, por apenas um quarto do valor. Bastava, você ingressar na corrente, pagar 40 cruzeiros para um amigo vendedor, fazer o mesmo com outros cinco amigos e mandar o dinheiro para fábrica que lhe remetia um belo calçado no valor de 200 cruzeiros.

Paguei os 40 cruzeiros para meu amigo, que conseguiu vender as cinco cotas e receber seus sapatos feitos a mão, em couro cromo alemão. Mas, não consegui convencer outros cinco amigos dispostos a acreditar na certeza do negócio e bancar o valor do meu par de sapatos. Logo, notei que outros casos semelhantes estavam ocorrendo. Os elos foram sendo quebrados e, em pouco tempo, já não se falava mais em corrente do sapato.

Fiquei no prejuízo. Mas, aprendi a lição: sempre é preciso pagar o sapato que calçamos. E o jeito foi colocar meia sola no meu velho sapato para enfrentar a caminhada diária pelas ruas da então provinciana capital catarinense. Outras correntes chegaram e se foram, sempre deixando alguém ou muita gente no prejuízo. Inclusive, as sugestivas e, não menos enganosas, pirâmides financeiras, versão moderna das correntes dos anos 1970.

Agora, parece ser a vez dessa tal de Bitcoin, que já impressiona pelo nome em inglês. No nosso idioma, é conhecida por criptomoeda ou moeda digital, unidade monetária que só circula no mundo virtual e cibernético dos computadores. Você não pode ter uma bitcoin nas mãos, colocá-la na carteira nem no bolso. Ontem, uma só bitcoin estaria valendo R$ 52.700,00.

Os entusiasmados adeptos dizem que a bitcoin é a moeda do futuro que já chegou. Isso é possível. Afinal, a informatização chegou para regular todos os escaninhos da complicada rede de atividades econômicas e sociais pós-modernas. No entanto, a propaganda do novo produto não parece confiável. T

Todas, numa só voz, convidam você para ganhar dinheiro fácil. Em muito casos, é claramente enganosa, com anúncios tipo: “Morador de Paraisópolis fatura R$ 1,4 milhão com Bitcoins (Globo.com)” ou, ainda, “Homem compra US$ 27 em Bitcoins e, quatro anos depois, eles valem US$ 1 milhão (UOL)”.

Por isso, seus críticos dizem que se trata de mais uma bolha financeira, prestes a estourar. Pessoalmente, sinto-me velho, sem vontade nenhuma de participar dessa nova corrida do ouro. Além disso, serviu-me a lição de meus tempos de universitário: um sapato novo sempre terá o preço a ser pago.

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