Brusque 1905: a ponte metálica que veio de Longe
Circulando pelas ruas e avenidas brusquenses, cruzamos diariamente as nove pontes sem nos dar conta de que são importantes caminhos de integração da nossa gente, vivendo numa cidade dividida ao meio pelas águas do Rio Itajaí-Mirim. Se hoje é assim, no começo nossos antepassados, que trabalharam duro para fundar a Colônia Brusque e os que lhes seguiram, viveram mais de 40 anos sem uma ponte sequer. Uns do lado esquerdo e outros do lado direito eram obrigados a usar canoas e balsas para fazer a travessia do rio.
Para a época — Brusque, uma pequena Colônia perdida na região do Médio Vale do Itajaí-Mirim — a construção de uma ponte com tamanha envergadura era uma obra de engenharia praticamente impensável, pelo alto custo e complexidade técnica. Tanto é que a estrada para o litoral foi concluída em 1875, sem que a sonhada ponte tivesse sido sequer projetada. E assim, foram décadas de luta para que a obra fosse realizada.
Não se tem informações sobre as tratativas e discussões que resultaram no projeto de engenharia e na decisão de se construir a primeira ponte. O que se sabe mesmo é que, em 1904, naturalmente com o projeto elaborado, o industrial e então prefeito Carlos Renaux foi à Europa para comprar a estrutura metálica da primeira ponte a ser construída sobre o Itajaí-Mirim.
Segundo notícia do jornal Novidades, retornou da Alemanha no final de dezembro e permaneceu em Itajaí à espera do navio cargueiro, que trazia as peças de ferro da ponte. Dali, provavelmente, o transporte rio acima da pesada carga foi feito pela moderna lancha Selma, de propriedade do prefeito, que também chegara da Alemanha no mesmo navio e que passou a ser a maior embarcação navegando pelo nosso rio.
Em Brusque, tudo indica que a construção dos alicerces e pilares em pedra já estava avançada. Menos de um ano depois, na tarde de 22 de novembro de 1905, a cidade estava em festa, a rua principal ornamentada com flores, bandeirolas coloridas, faixas de boas-vindas e de agradecimento ao governador e autoridades estaduais. A comunidade brusquense tinha uma razão muito forte para tanta festa e entusiasmo. Graças ao arrojo do prefeito Carlos Renaux, chegara a hora da inauguração da primeira ponte sobre o Itajaí-Mirim, então a única do Estado de Santa Catarina pelo seu “considerável vão livre”.
Como acontece até hoje, trabalhadores humildes se sacrificam para construir uma obra pública e os chefes ficam com a glória. Batizaram a ponte com o nome do governador Vidal Ramos, que não esteve presente ao ato inaugural. Anos depois, outros operários se sacrificaram trabalhando na construção de uma nova ponte no mesmo local, que foi batizada com o nome de um outro governador. Essa ponte durou vinte anos e caiu. Outra foi construída e destruída. Uma quarta aí está, servindo à comunidade. O nome oficial continuou, mas os brusquenses a ela se referem como a Ponte Estaiada. Menos mal!
