João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

Brusque 1915: “CALAMIDADE INAUDITA”

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

Brusque 1915: “CALAMIDADE INAUDITA”

João José Leal

Esta é a manchete em letras garrafais, como se diz na linguagem jornalística, publicada no jornal Novidades de Itajaí, para destacar que o lugre brusquense tinha afundado às 7 horas da manhã do domingo anterior, dia 19 de setembro de 1915. Lugre, é bom que se esclareça, é um tipo de embarcação a vela, geralmente, com três mastros e bastante utilizado no transporte marítimo do começo do século passado.

A reportagem informava que o sinistro ocorreu quando o “magnífico veleiro carregado com 900 dúzias de madeira,” estava sendo rebocado para cruzar a barra do Itajaí-Açu. No momento em que a embarcação parecia segura para iniciar a viagem mar adentro, “caiu na cava de uma onda, uma verdadeira montanha d’água”, causando o rompimento do cabo de reboque. Um segundo cabo também não resistiu e o lugre continuou à deriva, com o seu destino a ser traçado pela “fúria destruidora das águas tempestuosas”.

A partir daí foi uma luta tenaz e em vão para salvar o “barco pertencente ao industrial brusquense João Bauer”. O redator caprichou no verbo para descrever a gloriosa, porém, perdida batalha de salvamento. Correndo “o risco de ser ele mesmo tragado pelo oceano proceloso”, o pequeno rebocador travou uma luta infrutífera para evitar que o lugre fosse arrastado contra o banco de areia. Diante do perigo iminente, o barco lançou suas duas âncoras e “aproou ao mar, lutando de velas içadas na esperança de o vento arrefecer, num desespero horrível”.

Toda a heroica luta foi em vão. As “ondas impiedosas” subiam às alturas, invadiam e trespassavam o convés de popa à proa e obrigaram “cada homem da tripulação a segurar-se com todas as forças para não ser jogado ao mar”. A embarcação foi sendo arrastada em direção ao banco de areia na saída da barra “e depois de algumas horas de luta cruel e ingloriosa, o garboso e ligeiro lugre Brusque estava encalhado, exposto ao embate das vagas do oceano furioso”.

A partir daí, escreveu o jornal, iniciou-se uma outra perigosa batalha para se estender “um cabo de vaivém” entre o Brusque e a terra firme, a fim de salvar os tripulantes e suas bagagens. Num pequeno bote, que parecia afundar a todo o momento, dois comandantes de outras embarcações e mais três destemidos marujos lançaram-se às ondas para realizar essa perigosa missão. Quando a tarefa parecia impossível, o cabo foi finalmente levado à terra, onde “mais de 200 homens, ricos e pobres, apenas o bote chegou, atiraram-se ao cabo e puxaram até que estivesse inteiramente esticado”.

Finalmente, foi dada a ordem para os tripulantes deixarem o lugre. Todos, felizmente, se salvaram e o comandante Apolinário Marques Brandão, como manda a lei marítima, foi o último a deixar o barco.

Assim como hoje os acidentes automobilísticos são notícias cotidianas nos meios de comunicação, no começo do século passado, naufrágios de frágeis embarcações eram notícias dos jornais para deixar familiares e amigos chorando a perda de entes queridos tragados pelas águas oceânicas em fúria.

 

 

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