João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

Brusque, anos 1970: casas com Jardins e o Café Pigalle

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - joaojoseleal@omunicipio.com.br

Brusque, anos 1970: casas com Jardins e o Café Pigalle

João José Leal

Quando cheguei a esta cidade no final de 1971, Brusque ainda não conhecera o processo de verticalização que hoje desenha uma silhueta de torres de concreto e vidraças na paisagem urbana brusquense. As casas não eram cercadas por altos muros e portões eletrônicos, que nos confinam no interior das quatro paredes e demarcam a intimidade de nossas já assustadas vidas.

Lembro-me bem daquelas casas com gerânios na soleira das janelas e duendes em cerâmica, protegendo os bem-cuidados jardins das casas brusquenses. Neles ainda floresciam rosas, camélias, dálias e azaleias. No mês de agosto, estas últimas vestiam os jardins de pétalas rosadas, que cintilavam aos nossos olhos. A encosta da Primeiro de Maio, em frente à antiga Fábrica Renaux, da Igreja da Azambuja e a do Clube Bandeirante eram conhecidas pelos seus tapetes encarnados de azaleias, um espetáculo floral que atraía o olhar encantado dos brusquenses e visitantes.

Floricultura, existia sim. Mas, para vender flores para as festas e os poucos velórios. Mesmo assim, concorrendo com as margaridas, copos-de-leite e as rosas colhidas nos jardins das casas, que as mulheres levavam como a última homenagem ao falecido, num tempo sem capela mortuária e quando o ritual do velório ainda se fazia na residência da família.

Imóveis para alugar, quase não existiam, mas tivemos sorte. Minha esposa, Ana Maria, logo se apaixonou por uma bela casa situada na rua Sebastião Belli, com uma agradável varanda lateral. Nas janelas, floreiras com gerânios vermelhos que faziam lembrar a paisagem europeia. No bucólico jardim, um pequeno gramado e, claro, canteiros floridos, guardados pela Branca de Neve e os seus simpáticos companheiros, os anões Mestre, Dunga, Zangado e toda a turma, indicando que ali se podia viver com tranquilidade e em paz.

Cada família em sua casa, o que não impedia os vizinhos, que melhores não era preciso, de se conhecerem pessoalmente. É interessante! Hoje, boa parte das pessoas vive em apartamentos com vizinhos pelos lados, por cima e por baixo. Mas ninguém se conhece, ninguém se fala, quando muito um seco e indiferente bom dia ou boa tarde porque o lema da vida moderna é “cada um na sua”.

O Fórum funcionava no único edifício da cidade, o Centenário, em frente à Praça Barão de Schnéeburg, o que me permitia ir a pé para o trabalho, cumprimentando as pessoas com quem cruzava no trajeto. Uma parada para tomar um cafezinho no Pigalle fazia parte da rotina. Como em outras cidades daquela época, o bar, lanchonete e cafeteria era o ponto de reunião de lojistas, advogados e funcionários públicos e particulares.

Nas mesas, a pequena xícara fumegando com o negro líquido, os fregueses conversavam sobre política, futebol e mulheres. Afinal, era preciso colocar as fofocas em dia.

 

 

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