Quando o assunto é cinema, parece que todo mundo, prontamente, tem uma opinião. Mas cá entre nós: deixemos para longe o cinema comercial que predomina nas grandes salas e falemos apenas de cinema como expressão artística. Como pretendo provocar um pouco, vou além: não abordarei sequer um filme de Tarantino, Kubrick, nem Hitchcock, muito menos Wes Anderson. Não porque os referidos cineastas não tenham seus méritos na sétima arte, mas porque já estamos acostumados com uma quantidade absurda de blogueiros cinéfilos falando sobre todos esses caras. Também porque são sempre “os caras” e nunca uma mulher, uma pessoa negra ou homossexual.

Acontece que estamos mal acostumados com o modo que é feito, distribuído e visto o cinema. A cada semana, novas produções caríssimas, executadas por drones e super máquinas, em altíssima definição, repetindo as mesmas fórmulas para filmes de diferentes temas e gêneros, chegam às locadoras, aos serviços de streaming e ao shopping center. E isso interfere diretamente em como consumimos um filme, que na era do hiperconsumo passou a servir só como lazer – ou pior – para distração.

Ainda assim quero dizer que não há nada de errado em assistir Os Guardiões da Galáxia em 3D, mas é complicado quando reduzimos mais de cem anos de arte numa produção passageira e cheia de tendências de mercado. Por último e não menos importante: faz-se urgente entender que o cinema não vem somente de Hollywood.

Foto: A Via Crucis – Ficção de Deborah Cardoso Duarte e Nelson dos Santos Machado, lançada no ano de 1972, em Florianópolis. O Filme retrata de maneira experimental e simbólica a exploração do homem no trabalho e a opressão política.

Certamente, se eu indicasse uma lista de obras importantíssimas do cinema moderno e contemporâneo, não seria muito difícil encontrar bons artigos detalhados na internet – melhores do que os meus, aliás. Mas meu intuito aqui é outro: pelo convite da amiga Claudia Bia, que recentemente se atentou a uma postagem que fiz sobre a produção audiovisual da região, vou tentar rapidamente detalhar o que você não pode perder no que diz respeito ao cinema feito em Brusque.

1 Café Preto Filmes – A produtora independente encabeçada por Sérgio, Betina e Leandro comemorou no último dia 19 de maio seu primeiro ano de atividades. O evento foi realizado no auditório da UNIFEBE e trouxe palestras e pré-estreia dos filmes Vermelho Unissex (ficção, Dir. Sérgio Azevedo) e A Casa Morta dos Meus Avós (documentário, Dir. Leandro Cordeiro). Vale lembrar que a Café também lançou em 2016 o documentário Do Outro Lado, que narrou a trajetória do nadador Matheus Reine a caminho das paralimpíadas.

2 Galo de Gala – Nos últimos dois anos, o curso de Publicidade e Propaganda da UNIFEBE, com projeto encabeçado pelo escritor e coordenador de curso Rafael Zen, organiza uma noite de mostra de filmes independentes feito pelos alunos. A próxima edição será no dia 01 de junho, no teatro do CESCB às 19h e tem como tema Identidade de Gênero e Novas Belezas. A mostra conta com premiação por categoria e trará 5 documentários inéditos, além de uma produção surpresa feita pela equipe do evento. Certamente é um momento único para cidade, visto que se trata do primeiro evento em Brusque a abordar estes assuntos. A melhor parte: EVENTO GRATUITO E ABERTO AO PÚBLICO.

3 Quem é Carmen? 14 alunos de cinema do Coletivo Hiato, que ao longo de um ano trabalharam ao lado do cineasta Ricardo Weschenfelder, estreiam no dia 02 de junho o curta-metragem Carmen, no Cine Gracher Havan. Roteiro, produção e montagem são inteiramente dos alunos e as atuações ficam por conta de Talita Garcia e Luis Henrique Petterman, ambos atores da peça Ao Som dos Teares, que recentemente foi reapresentada e agora estreia turnê estadual.

4 Quatro Parênteses – Com projeto aprovado pelo Fundo Municipal de Apoio a Cultura de Brusque em 2016, o filmmaker Alessandro Vieira investiga, através de uma pequena série documental, cinco monumentos históricos de Brusque que dialogam com a arquitetura, história e poesia. Após uma longa experiência com trabalhos comerciais, este projeto marcará o debut de Alessandro e sua linguagem autoral.

5 Cineclube Aura (e última cena) – Desde outubro de 2015, ao lado do meu grande amigo, o cineasta Ricardo Weschenfelder, organizo um cineclube gratuito que promove sessões e debates sobre filmes fora do circuito comercial. Já rodamos filmes de vários países e de todas as épocas. As sessões não acontecem em datas específicas, mas sempre são divulgadas na página do Coletivo Hiato e no nosso (bom-dia-boa-tarde-boa-noite) grupo do WhatsApp. Sintam-se todos convidados a participar!

 

Guilherme Müller – fotógrafo freelancer e cofundador do Coletivo Hiato, onde organiza e edita publicações de autores de Brusque e região, promove oficinas e eventos do grupo nas áreas da literatura e do cinema.