Brusquenses gastam mais tempo que a média estadual para ir de casa ao trabalho

Pesquisa que consiste em um mapeamento do estado entrevistou pessoas sobre o tempo que elas levam para chegar ao trabalho

Brusquenses gastam mais tempo que a média estadual para ir de casa ao trabalho

Pesquisa que consiste em um mapeamento do estado entrevistou pessoas sobre o tempo que elas levam para chegar ao trabalho

Com a urbanização e crescimento populacional somado ao crescimento da frota de veículos, a mobilidade urbana apresenta-se como um dos principais desafios para as autoridades municipais. Pesquisa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio-SC) divulgada na semana passada mostra que cerca de 15 cidades concentram a maior parte da população economicamente ativa de Santa Catarina – o que reflete diretamente em mais veículos circulando por estas cidades-polo e resulta em filas e congestionamentos. Brusque é um destes municípios que tem de enfrentar a ‘imobilidade’ urbana para fomentar o desenvolvimento econômico e social.

A pesquisa consiste em um mapeamento de todos os municípios do estado. Foram entrevistadas pessoas sobre o tempo que elas levam de casa até o trabalho e também se o emprego delas é na mesma cidade em que moram. O resultado demonstrou que Blumenau, Itajaí, Florianópolis, Joinville, Brusque e outros municípios são referência para as cidades-satélite.

De acordo com o levantamento, 20,95% da população de Guabiruba trabalha em outro município; em Botuverá, o percentual é de 10,42% dos habitantes. Brusque é um dos principais destinos – pela proximidade. O secretário de Desenvolvimento Econômico, Jorge Ramos, diz que a cidade conta com um grande número de vagas em aberto e por isso recebe estas pessoas de fora. “O principal atrativo é, sem dúvida, o emprego, sendo que os setores têxtil e de serviços são os que mais empregam”, afirma.

“Acredito que quando o município passa a se desenvolver, a vinda de novos profissionais é muito importante e natural. Eles passam a consumir aqui e a cidade ganha com isso”, diz Edemar Fischer, presidente da Associação Empresarial de Brusque (AciBr).

A população dos municípios vizinhos de Brusque não vem para cá apenas para trabalhar. Muitos deles buscam na cidade o acesso à Educação. No Centro Universitário de Brusque (Unifebe) , cerca de 30% dos estudantes são oriundos de outros municípios. De acordo com o vice-reitor, Alessandro Fazzino, o principal local de origem é São João Batista, no Vale do Rio Tijucas. Logo em seguida vem Guabiruba e, em percentuais menores, Botuverá, Gaspar, Itajaí, Major Gercino e Canelinha.

“A regionalização faz parte do plano estratégico da Unifebe, até pela carência que existe em outras cidades”, afirma Fazzino. Segundo ele, há linhas de ônibus que passam por todos estes municípios diariamente para trazer os universitários – o que demonstra que a demanda é grande. Para o vice-reitor, até mesmo outros municípios historicamente ligados a outros pólos estão se virando para Brusque. “Hoje, é mais fácil vir de Gaspar a Brusque do que de Gaspar a Blumenau”, afirma.
Desafio

Segundo o levantamento, Brusque está entre as cidades com maior número de veículos por habitante. Há 39,8 automóveis a cada 100 pessoas. Botuverá também consta no ranking – em décimo – com 34,9. A frota brusquense tem crescido exponencialmente nos últimos anos, sendo que desde 2003 ela mais que dobrou. Aliado a isso está o aumento populacional, que foi de 38,70% entre 2000 e 2010, de acordo com a pesquisa da Fecomércio-SC.

“As vias nunca vão conseguir acompanhar o crescimento da frota. É uma luta contra o tempo”, afirma o secretário de Trânsito e Mobilidade de Brusque, Paulo Sestrem. Ele diz que o poder público tem percebido este movimento cada vez maior de pessoas da região para trabalhar por aqui e o planejamento viário do município contempla este aspecto.

Ele lista o anel viário como a principal obra de mobilidade a ser executada, ainda em 2015. Sestrem diz que a ideia da Secretaria de Trânsito e Mobilidade (Setram) é fazer com que os motoristas não passem por dentro da cidade se não for necessário, aliviando os congestionamentos nos horários de pico.

A saída para evitar o colapso do sistema atual, diz Sestrem, é o “transporte de massa e alternativo”, em outras palavras, o ônibus e a bicicleta. A prefeitura está confeccionando um plano cicloviário que também abrangerá bairros mais distantes.

Em Guabiruba, o prefeito Matias Kohler afirma que duas ações de mobilidade serão realizadas ainda este ano: a primeira é a pavimentação do trecho que falta da rua São Pedro, e a segunda, a licitação do transporte coletivo. “Queremos fazer com que as pessoas possam circular no município de ônibus”, explica. Kohler também diz que está em estudo o planejamento para o redirecionamento do trânsito. No que se refere à Botuverá, a principal obra de mobilidade do momento é a pavimentação do trecho municipalizado da SC-486.

Tendência natural
Esta tendência de conurbação – que é a junção das cidades num só centro urbano – é reflexo do modelo de cidade adotado no Brasil, afirma a mestre em geografia Rafaela Vieira. Ela explica que o país preferiu seguir o padrão americano para organizar os municípios, ou seja, há uma região central para o qual todos vão para fazer tudo. Isto pode ser mais claramente percebido na pesquisa sobre o tempo que os trabalhadores levam para chegar em casa depois do trabalho.

Brusque apresenta alguns números acima da média estadual. Por exemplo, 69,29% da população leva até 30 minutos para chegar no emprego – a média em Santa Catarina é de 59,18%. Ainda de acordo com os dados da Fecomércio-SC, 10,55% dos brusquense gastam entre 30 minutos e uma hora para ir do emprego para a residência diariamente, enquanto que a média estadual é de 9,73%. Cerca de 1,5% demora mais de uma hora para chegar no trabalho.

Luz no fim do túnel
Para Rafaela, que também é professora da Univali, a saída para não esgotar o sistema é investir na mudança de modelo. “Se deveria trabalhar com cidades mais compactas, em que nem tudo precisa estar no centro. Isso evita o deslocamento para acessar os serviços, melhorando a mobilidade”, explica. Neste padrão, os bairros passariam a contar com os serviços da prefeitura e da iniciativa privada, criando “centrinhos”.
Além disso, a especialista em geografia também diz que se deve investir mais em um trasporte de massa, seja ele rodoviário ou ferroviário. “Mas também temos que melhorar as calçadas, para pequenos deslocamento a pé, e as ciclovias, para as bicicletas”, diz.

“Os principais municípios estão enfartados em seu sistema viário”, afirma Eduardo Guerini, mestre em gestão de políticas públicas. Ele cobra que haja uma política nacional de incentivo ao uso de transporte coletivo. “Estas cidades têm gargalos estruturais por falta de política para o tema”, diz.
Rafael complementa esta visão dizendo que é preciso não apenas privilegiar o sistema de massa, mas também integrá-lo. “Para municípios com menos de 100 mil habitantes, fica caro sustentar o sistema. É importante que as cidades pensem juntas no transporte coletivo, integrando o sistema”, afirma ela.

Guerini, que também é professor na Univali, afirma que os municípios não têm capacidade de investimento e o governo federal deve apoiá-los. “Fala-se muito em mobilidade urbana, mas se faz pouco”, comenta.

 

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