Como pode ser tão simples e ao mesmo tempo tão complexo solucionar o problema da oferta alimentar de uma Cantina Escolar? Afinal é só cumprir uma Lei, certo?! Que responsabilidade tem a Escola, a cantineira ou os pais? De quem é a responsabilidade em fazer cumprir uma Lei existente desde 2001, reforçada por uma portaria desde 2006? O que impede que a mudança para uma cantina saudável aconteça, passados 15 anos da criação dessa lei? Somos pais, responsáveis pela integridade física e pela saúde integral de nossos filhos. Trabalhamos muitas horas por dia para lhes garantir isso e…

… a indústria alimentícia se aproveita da nossa distração, ocasionada por termos foco direcionado à correria do dia a dia, para nos oferecer produtos processados como se fossem caridosas soluções enlatadas para o nosso desleixo com a própria saúde.  Vendem a ideia de que a vida tem que ser um eterno piquenique, nos iludindo com pequenas porções de prazeres que os enriquece e que cabem em inocentes pacotinhos, caixinhas, latinhas. Contam ainda com a alegria e satisfação de seus clientes mais fiéis: as crianças (nossos filhos) como reforço.

Crianças que sofrem verdadeira agressão ao serem usadas através da ingênua falta de discernimento em tomar decisões, arrematada pelo despreparo dos pais para protegê-las, pois estamos tão inertes quanto elas nesse mundo de guloseimas sem fim.

O Marketing da indústria alimentícia venceu! Esse mundo foi introduzido em nossos lares por conta gotas. Iludidos desde a infância, desenvolvemos apego a tais produtos, nos apaixonamos visceralmente por nossos algozes e agora chegamos a uma encruzilhada onde nos deparamos com o “passar trabalho”, reabrindo o caminho para ter comida “de verdade” à mesa.

Toda essa facilidade impede a Cantina Escolar de querer mudar, porque os alimentos dentro dos pacotinhos são imortais, não dão trabalho ou fazem sujeira, é só colocá-los nas prateleiras e não haverá um centavo de perda, pois eles não estragam nunca, nem se estiverem abertos e expostos ao tempo! Nem inseto ou micro-organismo é capaz de ingerir tal produto. Esta questão sozinha seria o suficiente para que alimentos industrializados não fossem oferecidos às crianças. Porque se um produto de pacotinho é imortal, ele não pode promover a saúde de quem quer que seja. Não me admira tantas alergias, tantas intolerâncias, tantos problemas de saúde com tão pouca idade.

Temos alternativas! Retomar a cultura alimentar, ainda viva em nossa memória pela lembrança dos almoços em família em torno de uma mesa repleta de comidas caseiras, feitas com amor e dedicação ou sucumbir de vez ao mundo de caixinha, que nos adoece e aprisiona, tornando essa realidade fria, insalubre e artificial, a lembrança de infância dos nossos filhos.

Vamos fazer de conta que está tudo bem? Submetendo nossas crianças a esse mundo de comidas processadas prontas, com a desculpa de que é porque eles gostam, porque não temos tempo, ou porque é mais prático, mesmo sabendo que serão eles que pagarão caro, podendo lhes custar a saúde ou se tornar um fardo de terríveis hábitos a carregar pela vida sem conseguir se livrar, por não terem sido orientados e conduzidos a fazer o certo, mas o mais fácil? Sem mais desculpas! Somos todos coniventes com isso!

As Escolas e as Cantinas estão tão inertes quanto nós. Essa é uma luta que depende de todos para que a Cantina Saudável se torne realidade. Depende de uma comunhão entre Pais, Escola e Cantina, não somente como um acordo comercial, mas como partes que têm interesses comuns quanto à manutenção e à promoção da saúde das crianças. Essa tríade deve promover melhorias na cantina, mesmo sabendo que: 1 –  alimentos saudáveis geram mais custos e têm vida curta; 2 – os pais deverão se desacomodar para respeitar as exigências feitas pela escola; 3 – a escola deverá criar e implantar um plano progressivo com vistorias constantes. É preciso que todos se envolvam nesse processo – alunos, APPs, Grêmios Estudantis, nutricionistas, diretores, coordenadores, professores e alunos, para que juntos façamos a Lei se tornar realidade, em nossa cidade.

Entre os caminhos a serem escolhidos nessa encruzilhada, é certo que vantagens e desvantagens trazem o impasse da escolha, mas o comodismo em fazer nada, em cobrar nada ou em não se incomodar com nada, foi o principal responsável pela situação que se mantém. Muitas escolas por todo o país já implantaram a mudança, pois quando todos se unem por uma causa, nada mais é empecilho.

Manifeste seu apoio a Cantina Saudável na escola do seu filho e vamos defender o resgate da nossa cultura alimentar através do descascar mais e desembalar menos. Vamos comer e incentivar nossos filhos a comerem COMIDA DE VERDADE! Nossos filhos merecem essa mudança e a Lei lhes assegura esse direito.

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Janaina Kühn Barni – Nutricionista – Educação Alimentar infantil e Rotina Familiar