Casal brusquense que chegou ao ‘fim do mundo’ pedalando volta para casa por conta do coronavírus

Eles planejavam viajar de bicicleta por três anos, mas tiveram aventura interrompida

Casal brusquense que chegou ao ‘fim do mundo’ pedalando volta para casa por conta do coronavírus

Eles planejavam viajar de bicicleta por três anos, mas tiveram aventura interrompida

A viagem de bicicleta dos brusquenses, Marcelo Furtado, de 37 anos, e Milena Madrigal Rodrigues, 21, que estava prevista para durar três anos, foi interrompida por conta da pandemia do coronavírus, e encurtada para oito meses.

Eles estavam em Ushuaia, na Argentina, a cidade mais ao sul do mundo, e pretendiam ir até a Costa Rica, na América Central, mas tiveram que mudar seus planos radicalmente.

Assim que chegaram em Ushuaia, a preocupação com o Covid-19 começou a aumentar. Milena, a primeira mulher catarinense a chegar à cidade pedalando, conta que os planos deles era de passar um mês no local, mas a dificuldade de achar hospedagem os fez ir embora em uma semana.

“Queríamos ficar um mês, porque queríamos trabalhar lá, fazer um dinheiro para comprarmos nossos equipamentos de filmagem, já que é uma cidade turística, mas não deu, porque começou a pandemia, e o pessoal não estava mais aceitando viajantes”, lembra.

Arquivo pessoal

Eles utilizavam o CouchSurfing (rede social que é conceta turistas que querem hospedagem grátis durante uma viagem e pessoas que gostariam de receber esses visitantes) e o Worldpackers (aplicativo que ajuda projetos e pequenos negócios a encontrar viajantes dispostos a trocar algumas horas de trabalho por hospedagens e benefícios exclusivos), para diminuir os gastos em hospedagem.

“A gente começou a sentir muita diferença quando a gente chegou lá, porque o pessoal não queria receber nenhum viajante, e a gente sofreu bastante, porque não tínhamos dinheiro para pagar hostel ou hotel, mas por sorte, conseguimos encontrar uma menina no CouchSurfing que hospedou a gente por uma semana e meia”, conta Milena.

Quando estavam na Argentina, as fronteiras estavam começando a ser fechadas, e, como estavam em uma ilha, precisavam passar pela fronteira com o Chile, antes de voltar para a Argentina e seguir viagem para o Brasil.

Com pouco dinheiro, eles fizeram um apelo nas redes sociais para arrecadar recursos, contando o que estava acontecendo. “Até então, a gente vendia chocolates na viagem para arrecadar dinheiro, porque até então nosso único gasto era com comida, a gente nunca pagava hospedagem”.

Por conta da pandemia, eles voltaram para a cidade de Rio Grande, na Argentina, que fica a 200 quilômetros de Ushuaia. Com a ajuda dos pais, conseguiram chegar até Rio Grande e ficaram um mês lá de quarentena.

“Alugamos uma casa, gastamos todas as nossas economias. Nossa sorte foi que a província que a gente estava nos ajudou bastante, deu cesta básica. A gente viu que não tinha mais condição de a gente se manter, porque cada dia naquela casa era dinheiro que estava indo fora”.

Para conseguir voltar ao Brasil, eles entraram em contato com um comboio de brasileiros que também estava em Ushuaia, mas que estavam de carro ou moto. Eles marcaram para retornar para casa, porém, antes precisaram reunir vários documentos: autorização dos consulados, fazer exames, ter toda a papelada para atravessar a fronteira.

A volta para casa

O comboio de brasileiros saiu de Ushuaia, e os brusquenses embarcaram em Rio Grande, levando as suas bicicletas desmontadas dentro de uma kombi.

Milena conta que todos os carros do comboio de 15 pessoas eram parados por policiais em barreiras sanitárias para serem inspecionados.

“Solicitavam todos os documentos, mediam a nossa temperatura, não poderia sair do carro para nada, nem para dormir em postos de gasolina, e a comida começou a acabar. Para ir no banheiro nos postos de gasolina, tinha que ser de uma em uma pessoa”.

Arquivo pessoal

Os policiais esterilizavam todos os carros por fora, com um jato. Em alguns lugares, eles escoltavam o comboio para ter certeza que eles não entrariam nas cidades, para não ter contato com a população. “A gente entende que eles estavam certos em cuidar de toda a população”, destaca Milena.

Foram cinco dias de muito tensão, em um percurso de 4,1 mil km, que eles tiveram que dormir em beira de estrada.

“Teve um casal de idosos junto com a gente, que não aguentarou a viagem, tiveram que parar em uma cidade depois do segundo dia para ir para o hospital, porque o senhor estava com princípio de enfarto. Ele abandonou o motorhome no meio da estrada, e retornaram para o Brasil de avião”, diz

No meio da noite, a polícia parava o comboio para checar os documentos. Eles passaram os cinco dias sem tomar banho, e perceberam os outros brasileiros muito abalados. “A gente já estava mais acostumado, porque chegamos a ficar três dias sem banho quando passamos por lugares desertos na Patagônia”.

Arquivo pessoal

O maior medo do casal era de atravessar a fronteira com o Chile e não conseguir voltar para a Argentina, mas no fim deu tudo certo. “Foi muito tenso, uma aventura e tanto, mas graças a Deus conseguimos chegar”.

Quando atravessaram para o Brasil, sentiram uma enorme diferença e um grande relaxamento das medidas de segurança. 

“Não tinha nenhum policial na fronteira esperando a gente. Ficamos sem chão, porque no Brasil não tinha ninguém para fiscalizar, sentimos falta disso aqui”, ressalta.

Arquivo pessoal

Planos para o futuro

Os dois estão em quarentena em Brusque há uma semana, e vão cumprir o período de segurança de isolamente social.

“Não eram nossos planos voltar em oito meses, mas ficamos felizes de pelo menos chegar até o Ushuaia”, admite.

Eles estão reorganizando para lançar um livro em breve contando a história sobre a aventura que viveram até chegar ao fim do mundo, mas também têm planos de retomar as viagens.

“Esperar a pandemia acabar, ver o que vai acontecer, para a gente retornar a viajar de novo”, completa.

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