Celesc 70 anos: a história da energia elétrica em Brusque antes e depois da empresa estadual

Empresa foi criada em 1955 para garantir infraestrutura elétrica adequada em Santa Catarina

Celesc 70 anos: a história da energia elétrica em Brusque antes e depois da empresa estadual

Empresa foi criada em 1955 para garantir infraestrutura elétrica adequada em Santa Catarina

Desde os primeiros geradores movidos por imigrantes até a Celesc moderna, a eletricidade transformou não apenas Brusque, mas todo o estado de Santa Catarina, moldando o futuro de todo o território.

A trajetória da Celesc, que completa 70 anos em 2025, não só faz parte dessa história como é marcada por inovação, expansão e impacto social, conectando pequenas comunidades à energia que impulsiona a economia.

Em Brusque, a história da eletrificação começa em 1911, muito antes da Celesc chegar. Naquele ano, o empresário João Bauer iniciou os estudos para levar eletricidade à Vila de Brusque.

Dois anos depois, em 1913, Bauer inaugurou a primeira usina elétrica da região, na localidade de Guabiruba do Sul, aproveitando a força do salto d’água da Planície Alta. Passado mais de um século, o cenário se transformou por completo, e o acesso à energia elétrica, também.

Primeira usina da microrregião de Brusque

Para que a usina se tornasse realidade, Bauer contratou o engenheiro Max Selinke, auxiliado por João Belli, Osvaldo Gleich e Guilherme Diegoli, que projetaram o aproveitamento do salto para mover turbinas e geradores.

O empreendimento foi instalado com dois conjuntos de turbinas de 135 KWA, totalizando 270 KWA, e uma linha de 14 km que transportava energia até a estação distribuidora na Rua das Carreiras (atual Hercílio Luz).

Mesmo antes da aprovação formal do Conselho Municipal, Bauer iniciou a instalação em 8 de junho de 1912, assinando o contrato oficial em 10 de agosto de 1912. A obra recebeu celebração pública em dezembro, com piquenique e apresentação da Banda Musical “Concórdia”.

Acervo Museu Casa de Brusque

Nos primeiros meses de 1913, a energia chegou de forma experimental a cinemas, clubes, salões, algumas residências e iluminação pública parcial.

A inauguração oficial ocorreu em 13 de novembro de 1913, aniversário de Bauer, quando o superintendente Guilherme Krieger acendeu o primeiro lustre sob aplausos da comunidade.

Saiba mais obre a história da usina de Bauer:

Usina do Salto e os primeiros grandes grupos

Enquanto isso, em Blumenau, um grupo de empresários recebeu da Câmara Municipal a concessão para construir a Usina do Salto, no rio Itajaí-Açu, com financiamento da Alemanha.

Há divergências sobre os nomes dos responsáveis: a Celesc (1994) cita Gustav Salinger, Paul Zimmermann e Carl Jansen; pesquisas recentes apontam Gustav Salinger, Peter Christiano Feddersen e Paulo Zimmermann; e o livro Colônia Blumenau Sul do Brasil registra Feddersen, Jensen e Zimmermann.

Segundo a pesquisadora e escritora Angelina Wittmann, antes da Usina do Salto, Frederico Guilherme Busch já havia instalado, em 1909, uma pequena hidrelétrica no Ribeirão Gasparinho, fornecendo energia para Blumenau, cuja iluminação pública urbana foi inaugurada em 19 de fevereiro de 1908, a primeira do Estado.

Estação de Salto Weissbach da época | Foto: Acervo de Angelina Wittmann

A pesquisadora destaca que o grupo de empresários/políticos garantiu a concessão por meio de conexões políticas e obteve financiamento europeu.

“A usina entrou em operação em 25 de dezembro de 1914, fornecendo energia para toda a cidade, exceto na área de concessão de Busch”.

Em 1920, tanto o empreendimento em Brusque, quanto o de Blumenau, foram vendidos a investidores de São Paulo, tornando-se a Empresa Força e Luz Santa Catarina.

“Entre 1961 e 1962, a empresa foi incorporada pela Celesc. Até hoje, as edificações históricas de ambas as usinas permanecem, mesmo que em diferentes níveis, conservadas”, complementa Angelina.

Prédio sede da Empresa Força e Luz Santa Catarina | Foto: Arquivo Histórico José Ferreira da Silva

Criação da Celesc e primeiros desafios

Nos anos 1950, os pequenos geradores mantidos por imigrantes já não atendiam à crescente demanda por eletricidade, impulsionada pelo surto desenvolvimentista do governo Juscelino Kubitschek.

Para garantir infraestrutura adequada, o governador Irineu Bornhausen criou a Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc) em 9 de dezembro de 1955.

A empresa foi autorizada a funcionar pelo Decreto Federal nº 39.015 em 11 de abril de 1956 e instalada formalmente em 4 de agosto de 1956. Na época, a eletricidade ainda era privilégio de poucos, e racionamentos eram frequentes.

O Plano Regional de Eletrificação registrou que Joinville sofria cortes diários entre 6h e 11h e 13h e 18h, e aos domingos entre 6h e 17h. A Celesc atendia apenas 16 municípios, incluindo Florianópolis, Joinville e Mafra.

Expansão e consolidação

Nos anos 1960, a Celesc assumiu papel de planejamento do sistema elétrico estadual e incorporou empresas regionais, iniciando seu ciclo de expansão. Entre 1961 e 1962, vieram as primeiras subsidiárias: Cia. Pery de Eletricidade (Curitibanos), Cia. Oeste de Eletricidade (Concórdia), Cia. Serrana de Eletricidade (Lages) e Força e Luz de Blumenau.

Em 1962, a empresa atendia 39 cidades e mais de 87 mil consumidores, e em 1965 já tinha 100 mil clientes. Até 1967, inaugurou cinco usinas hidrelétricas: Garcia, Celso Ramos, Palmeiras, Pery e Governador Ivo Silveira, além de linhas de transmissão estratégicas, como Tubarão–Lages–Herval do Oeste–Xanxerê e Tronco Norte.

Em agosto de 1963, a sede administrativa mudou-se para Florianópolis. Em 1966, foi criado o CATI em Ilhota, embrião do atual Centro de Aperfeiçoamento e Treinamento da Celesc.

Durante o período do milagre econômico (1968–1973), a Celesc incorporou cerca de 50 municípios, chegando a 300 mil consumidores em 1974. Entre 1973 e 1974, integrou os sistemas de Laguna, Chapecó e Caçador, e firmou contratos de interligação com Eletrosul, CEEE e Copel, preparando-se para receber energia da futura usina de Itaipu.

Celesc/Divulgação

Eletrificação rural e modernização

Na década de 1980, a Celesc atingiu meio milhão de clientes (1980) e, em 1989, um milhão. Investiu fortemente em programas de eletrificação rural, como ENERCAP, Comunitário Rural, Luz no Campo e Luz para Todos, beneficiando milhares de famílias. Incorporou cooperativas e empresas rurais, incluindo a ERUSC, ampliando o atendimento interiorano.

Nos anos 1990, reforçou o sistema com novas linhas de transmissão, entroncamentos estratégicos e o Sistema Digital de Supervisão e Controle.

Mais de 100 mil km de redes, 1,4 milhão de postes, 120 mil transformadores e dezenas de subestações integravam o sistema, consolidando a Celesc como uma das maiores distribuidoras do país.

Holding e diversificação

No início dos anos 2000, a Celesc integrou o Sistema Interligado Nacional, garantindo segurança energética ao Estado. Em 2004, atingiu dois milhões de clientes, número equivalente à população catarinense quando foi criada.

Em 2006, a empresa foi estruturada como holding, com subsidiárias de geração e distribuição, mantendo participações em outras empresas de energia e saneamento. Em 2007, adquiriu o controle da SCGÁS, expandindo sua atuação à distribuição de gás canalizado no Estado.

Investimentos e inovação em Brusque

Leuterio Scussiato, gerente da agência da Celesc em Brusque, detalha a atuação da empresa no município e explica que a agência atende, junto a outros dois municípios, um total de aproximadamente 81.300 consumidores, entre empresas, comércio e residências.

“Especificamente em Brusque, são cerca de 67 mil unidades consumidoras. A Celesc busca sempre inovar, principalmente com tecnologias modernas que melhorem o atendimento e a qualidade da energia aos consumidores”.

Ele cita como exemplo a substituição das redes de cabo nu por redes semi-isoladas, que reduzem ocorrências causadas pela vegetação, e a instalação de religadores, que auxiliam no retorno da energia e agilizam manobras operacionais.

“Na parte comercial, a empresa está investindo em um novo sistema, o SAP, que vai agilizar o atendimento do consumidor. O sistema já se encontra em fase final de implantação e já apresenta resultados”, afirma Scussiato.

O gerente destaca a importância estratégica de Brusque para a Celesc e diz que o município é muito relevante não só pelo polo têxtil, setor pelo qual se diferencia, mas também pelo comércio e pelas demais empresas instaladas na cidade.

“Por isso, estamos investindo na ampliação da capacidade da Subestação Rio Branco, na construção da nova Subestação de Botuverá e na linha de distribuição ligando Rio Branco a Botuverá, além de revitalizar e ampliar os alimentadores e instalar cabos semi-isolados, aumentando a segurança e a qualidade do atendimento”.

Atualmente, Brusque já conta com três subestações, localizadas nos bairros Rio Branco, Bateas e São Pedro, e até o final de 2026 receberá a nova subestação de Botuverá, consolidando os investimentos da Celesc na cidade.

“Essas melhorias reforçam a posição da empresa como referência nacional e internacional, reconhecida por sua eficiência, inovação e impacto social, mantendo vivo o legado das primeiras turbinas de João Bauer e das pioneiras usinas de Blumenau”, conclui o gerente.


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