Não há nada melhor do que resgatar a visão das coisas que a gente tinha quando elas aconteceram. Hoje, veja só, a gente revê 1988 a partir de uma página do próprio O Município, publicada na edição especial de Natal daquele ano. Com direito a uma retrospectiva do ano mais significativo daquela cena local de rock que fez História. A página se chamava BQ Callin’ e era assinada por mim e pelo Luís, o responsável pelos textos resgatados aqui hoje.

Bandas de rock aos montes: Da Besta, Insultos, Shit, Pós-arrouto, Fuck You, Intensidade, Adrenalina e mais uma pilha de projetos e vontades. A união das bandas para a realização de shows, zine, gravação de demo. O visual da gurizada, assumindo um ideal punk 77 um tanto quanto puro e às vezes (nem sempre) até ingênuo. As letras. Irritadas, políticas, irônicas, asquerosas… reflexos da realidade. O panfleto ainda é mais útil e revolucionário que a tua alienação, o teu tédio e a sua preguiça.

Continuando, com as notícias mais recentes daquele final de ano:

Dia 19 de dezembro, segunda-feira, se resolveu o último capítulo da saga Bandeira Federal em São Paulo. A TV Cultura transmitiu a final do concurso do programa Boca Livre. O Bandeira abocanhou o terceiro lugar, numa façanha importantíssima para eles e para BQ. Em  1º ficou o Não Religião, uma banda paulista que já tem registro em vinil na coletânea Contra Ataque, do selo independente Ataque Frontal. O Necrópole (uma banda skate punk) levou o segundo prêmio. […] Os jurados foram o Renato Filho (do selo Ataque Frontal), Leopoldo Rey (Revista Bizz e 97 FM), Roger (do Ultraje a Rigor) e Tutu (do grupo Tarcila). Os comentários para o Bandeira foram todos bons e o Leopoldo Rey reafirmou que o Deschamps foi o melhor vocalista da noite.

Além das bandas locais, dos shows das bandas de fora no Amarelo Vinte, na Fideb e onde mais houvesse espaço… e da invasão territorial do Bandeira em São Paulo (que rendeu uma invasão coletiva no ano seguinte…), ainda teve a atenção da mídia nacional ao nosso movimento provinciano, que rendeu “uma página  inteira no caderno Viva da Folha de São Paulo” que repercutiu “nos jornais, rádios e TVs catarinenses.”

1988 foi também teve o zine Pelas Internas, reforçando a frente defendida pelo Contracorrente. No rádio, na então 104.1 FM, continuava na ativa a versão áudio do Contracorrente. O fundamental Raízes do Rock deu lugar ao PIB, capitaneado por Deschamps e Fabiano Debrassi.

1988 foi, mesmo, o ano em que o rock brusquense ficou poderoso. Frágil e muito poderoso.