Cerca de 240 exames deixaram de ser realizados com mamógrafo da Rede Feminina

Questões nos bastidores imobilizam ação da entidade, que alerta para falta de assistência às mulheres

Cerca de 240 exames deixaram de ser realizados com mamógrafo da Rede Feminina

Questões nos bastidores imobilizam ação da entidade, que alerta para falta de assistência às mulheres

O mamógrafo da Rede Feminina de Combate ao Câncer (RFCC) deixou de realizar cerca 240 exames desde que parou de funcionar, na metade de março. A interrupção ocorreu porque o Hospital e Maternidade de Brusque (HEM), onde o equipamento está instalado, está fechado devido à greve dos funcionários.

De acordo com a presidente da Rede Feminina, Sônia Zink, o acordo entre a entidade e o HEM previa a realização de 80 mamografias mensalmente. Portanto, aproximadamente 240 exames deixaram de ser feitos porque o mamógrafo está instalado numa instituição paralisada.

“Tivemos muitos casos graves nos últimos dias”, afirma Sônia, para quem a situação é preocupante. Ela diz que busca uma solução rápida para a volta dos exames o quanto antes.

O problema é causado porque o mamógrafo da RFCC foi doado pela Secretaria de Desenvolvimento Regional (SDR) de Brusque (atual ADR), nome em 2014, para a entidade. No entanto, não houve a formalização da doação.

O mamógrafo estava no HEM porque a Rede fez acordo por uma cota mensal de exames com o hospital. No restante do tempo, a unidade hospitalar poderia utilizá-lo livremente. Depois da greve dos funcionários do hospital, o aparelho deixou de ser usado.

A presidente da RFCC diz que não sabe como está a situação jurídica. Ela afirma que não foi respondida pela Agência de Desenvolvimento Regional (ADR) de Brusque acerca do assunto desde o início do problema.

Há duas principais alternativas para que o mamógrafo volte a operar. Necessariamente, ele deve ser transferido para outra entidade. Existe uma briga nos bastidores sobre qual será o destino. Por um lado, a Rede Feminina recebeu uma proposta formal do Hospital Azambuja, que lhe agrada; enquanto que a Secretaria de Saúde de Brusque e a Gerência Regional de Saúde preferem que ele vá para o Hospital Dom Joaquim, para atender somente via SUS.

Posse do equipamento
Existe uma dúvida, levantada nos últimos dias, sobre a posse do equipamento. O consultor jurídico da ADR de Brusque, Edemir Aguiar, esclarece que o mamógrafo ainda está em nome do governo do estado, via ADR, mas a posse dele é, de fato, da Rede.

Segundo Aguiar, o equipamento não passou pelo procedimento correto quando foi cedido pela SDR à RFCC.  O problema ocorre porque, de acordo com o advogado, não foi feito um projeto de lei para ser votado na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc). Houve apenas uma reunião.

O advogado ressalta que, ainda que esteja, no papel, no nome da SDR, o mamógrafo é da Rede e pode ser levado para onde for necessário. Segundo Aguiar, trata-se somente de regularização burocrática e não há motivo para que o mamógrafo fique “preso” no HEM.

De acordo com o consultor jurídico, agora será feito um processo administrativo interno, que será remetido ao setor de Patrimônio, em Florianópolis, e depois irá à votação na Alesc. Esse caminho deve levar meses.

Azambuja faz proposta à Rede Feminina

Maior hospital de Brusque, o Azambuja fez uma proposta à Rede Feminina para que o mamógrafo vá para a instituição. Marcos Deichmann (PEN), vereador e coordenador do Centro de Imagem, postou vídeo em uma rede social no qual explicou a situação.

Ele diz que propôs à RFCC que o mamógrafo vá para o Azambuja, em troca, a entidade receberia uma cota mensal de 90 mamografias (dez a mais do que no HEM), mais dez ultrassons gratuitos. “Porque o diagnóstico da mamografia, às vezes, precisa ser complementado com o ultrassom. Não são todos os casos, então oferecemos dez ultrassons”.

Além disso, o Azambuja propôs que, caso a cota de 90 exames seja atingida, as pacientes da Rede Feminina mais carentes sejam atendidas por meio de uma ação social. “Com essa ação, todas mulheres carentes receberiam benefício encaminhado pela Rede Feminina, seriam cobrados R$ 45 por mamografia, que é o valor pago pelo SUS, de custo”, diz o vereador.

Na avaliação de Deichmann, a proposta é generosa e seria benéfica para a Rede Feminina. Ele trabalha no setor de imagem do Azambuja há mais de 20 anos e questiona se o Hospital Dom Joaquim teria a mesma infraestrutura para receber uma mamógrafo.

O vereador e coordenador diz que, da mesma forma, levar o equipamento para o Centro de Serviços em Saúde poderia resultar no sucateamento dele por falta de manutenção.

Ele também afirma que existem pessoas trabalhando, nos batidores, para que o Azambuja seja prejudicado neste assunto. “É única e exclusivamente pessoal de duas ou três pessoas que não gostam do Hospital Azambuja. São essas pessoas que estão travando essa questão documental”, afirma.

Deichmann, no vídeo, foi além e pediu a assinatura do documento para a cessão do mamógrafo até hoje. “Até terça-feira à tarde [hoje], não vou citar nomes ou me colocar contra. Me comprometo, na sessão da Câmara [de hoje], eu vou colocar o verdadeiro motivo de isso estar sendo travado, dar nomes”.

Secretário quer equipamento no SUS

O secretário de Saúde de Brusque, Humberto Fornari, posiciona-se contra a ida do equipamento para o Azambuja. Ele alega que o mamógrafo poderia ser usado 100% para o SUS, se fosse para o Hospital Dom Joaquim.

O secretário argumenta que, deixando o mamógrafo no SUS, a fila por exames seria agilizada. Ele discorda que haveria prejuízo às pacientes da Rede Feminina. Fornari afirma que isso foi discutido em uma reunião no dia 25 de abril.

“Naquela ocasião, ficou acordado que o mamógrafo ficaria sob responsabilidade da Secretaria de Saúde, que definiria o melhor local”, diz. Segundo ele, a Ecomax não aceitou o acordo, por isso o Dom Joaquim foi a segundo opção.

Fornari afirma que o objetivo é puramente ampliar os atendimentos no SUS e não se trata de punição ao Azambuja. Segundo ele, o hospital tem uma cota de procedimentos já quase totalmente preenchida.

A gerente regional de Saúde, Ivonir Zanatta Webster, a Crespa, argumenta que o equipamento pode fazer até 1 mil exames mensalmente, contentar-se com apenas 100 não faria sentido. “O Azambuja já tem um aparelho”, afirma.

Crespa diz que a decisão será da Rede Feminina, mas ela se posiciona para que o aparelho vá para o Hospital Dom Joaquim. “Mesmo assim, a Rede teria que entrar em contato com a Secretaria de Saúde, é uma questão de respeito e de hierarquia”.

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