Cessna 182P: a história do primeiro avião a realizar um pouso em Brusque
Proprietário foi o responsável por construir a primeira pista homologada da cidade
Proprietário foi o responsável por construir a primeira pista homologada da cidade
O empresário Henning Jönk, fundador da HJ Tinturaria, foi muito mais do que um nome importante da indústria têxtil de Brusque.
Visionário e apaixonado por aviação, ele se tornou proprietário de um Cessna 182P, o primeiro avião a pousar na cidade, um feito que marcou época e revelou o espírito ousado de quem sonhava alto.
O escritor e pesquisador Saulo Adami, conheceu Jönk de perto e recorda com admiração o perfil curioso e culto do empresário.
“É uma das pessoas que eu tive mais prazer em conhecer na cidade. Era uma pessoa extremamente culta, lia muito e sempre se interessou por literatura, viagens e aviões”.
Segundo ele, essa paixão de Henning por aviação começou ainda na infância quando, aos três anos de idade, ele testemunhou a passagem do dirigível Hindenburg sobre Brusque.
“Imagina uma criança de três anos ser acordada às cinco da manhã para ver a passagem de um transatlântico dos ares. Aquilo nunca mais saiu da memória dele”.

O sonho de voar acompanhou Jönk por toda a vida. O filho, Henning Jönk Filho, lembra que o pai falava disso desde criança.
“Ele contava que, quando trabalhava na lavoura, via os aviões passarem e dizia: ‘um dia eu vou ter um avião’. Esse sonho se concretizou em 1997, quando conseguiu comprar a sua primeira aeronave, um Cessna 182P”.

Com o avião em mãos, o empresário deu o passo seguinte: construiu a própria pista de pouso nos fundos da casa e da empresa, cortando ao meio uma antiga plantação de arroz. Ela também foi a primeira pista da cidade.
“Ele fez uma pista de 680 metros e até retirou uma linha de energia que cruzava o terreno. Em setembro de 1997, ele pousou o avião ali pela primeira vez”, recorda o filho.

A iniciativa fez de Jönk o dono do primeiro aeródromo particular de Brusque, batizado de Aeródromo Marrecão.
“Não era de uso comercial, era um sonho pessoal. No começo, muita gente achou uma loucura, mas o pai sempre foi visionário. Queria o avião ao lado da casa. Depois o local chegou a ser homologado e usado por amigos, até que o crescimento da região inviabilizou o espaço”, conta Henning Filho.
Segundo ele, o terreno hoje abriga um condomínio, mas preserva a memória do projeto original. “O pai já havia dividido a área pensando no futuro. Ele sempre enxergava lá na frente”.

A paixão de Jönk pelos aviões também inspirou outros moradores da cidade. Saulo Adami lembra que o pioneirismo acabou motivando o surgimento de um grupo local de aviadores.
“O fato dele ser proprietário de um avião atraiu muita atenção. Com o tempo, outras pessoas também compraram suas aeronaves, o que acabou originando uma associação de aviadores, hoje sediada na região de Laranjeiras, em Itajaí”.
O avião que marcou o primeiro pouso em Brusque é um modelo de 1973, comprado por Jönk em São Paulo.
“Era um avião antigo, mas muito bem conservado. Ele cuidava de cada detalhe da manutenção e contava com o apoio do piloto Luciano, que depois seguiu carreira na aviação comercial. Todo sábado, o pai saía para voar pelos aeródromos da região. Era o lazer dele”, relata o filho.
Mesmo já com idade avançada, Jönk tentou aprender a pilotar.
“Com mais de 70 anos, ficou difícil. Mas ele nunca desistiu de estar perto do avião. Nos últimos anos de vida, com dificuldade de locomoção, deixou de voar, mas não quis se desfazer da aeronave. A gente até dizia: ‘Pai, tem gente interessada em comprar’, e ele respondia: ‘Não está à venda’. Para ele, aquele avião era parte da história dele”, conta Henning Filho.

Henning Jönk faleceu em 14 de dezembro de 2024, aos 91 anos, deixando um legado que ultrapassa o setor industrial.
“A ideia da família é preservar o avião, porque ele representa o sonho e a determinação do pai. Foi o primeiro a pousar em Brusque, e essa história merece ser contada às próximas gerações”, diz o filho.
Para o pesquisador Saulo Adami, o legado de Jönk é o retrato de um tempo em que a visão empreendedora e a curiosidade moviam os limites da cidade. “Ele uniu a mente inquieta de um leitor com a coragem de um pioneiro. E é isso que o torna inesquecível”.

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