E lá se foi ele. Um dos últimos pioneiros, um dos últimos gigantes do nascimento do rock’n’roll. O cara que influenciou os caras que você ama – ou, se você nasceu bem depois, o cara que influenciou os caras que influenciaram os caras que você identifica com o rock’n’roll.

Chuck Berry tinha 90 anos e sua morte foi anunciada no último sábado. Não tem muito como se surpreender o final de uma vida assim longa. Mas, claro, a gente sempre tende a esquecer que certas figuras são mortais. Especialmente quando são forças da natureza. E, mesmo que ele tenha vivido muito, qualquer um que goste de rock tem que lamentar a morte de Chuck Berry. É mais um lembrete de que eles estão indo embora. Todos os grandes, todos os que desenharam a trilha sonora mais importante do século XX.

O que seria da nossa vida musical sem, entre muitas outras canções certeiras, Johnnie B. Goode, No Particular Place to Go, Maybellene, Roll Over Beethoven, Sweet Little Sixteen, Rock and Roll Music, Back in the U.S.A., Menphis, Tenessee, Little Queenie? O repertório dele é basicamente a História do Rock. Beatles e Stones fizeram covers de suas composições – no caso dos Stones, a primeira gravação da banda foi uma cover de Berry, Come On. Precisa dizer mais alguma coisa sobre o tamanho da sua influência?

É só pensar nas músicas, nos arranjos, nos riffs, no “duck walk” (aquele jeito de andar pelo palco com os joelhos dobrados), nos temas das letras… que não é nada difícil chegar à conclusão de que Chuck Berry é muito mais fundamental para o rock’n’roll do que Elvis Presley. Faça o exercício: é mais fácil pensar no rock sem Elvis do que sem Berry. Ainda bem que tivemos ambos, Berry e Elvis, além de um belo punhado de grandes nomes pioneiros. Deles, poucos continuam aqui: Jerry Lee Lewis (81 anos), Little Richard (84) e Fats Domino (89) ainda resistem. Que tenham vidas ainda mais longas.

Talvez seja demais pedir que eles ainda sejam produtivos – o que não era o caso de Chuck Berry. Ele tinha anunciado o lançamento de um disco neste ano. “Chuck” seria o primeiro álbum de inéditas em 38 anos, mas ainda não tinha definido uma data de lançamento. Sairá como disco póstumo. Ouvir… será um ato reverente de despedida.