O Programa Ciência sem Fronteiras (CsF) foi criado em 2011, e além de promover bolsas de estudos no exterior para brasileiros que estão cursando ensino superior, visa também atrair pesquisadores estrangeiros, a fim de estabelecer parcerias que possibilitem o desenvolvimento de algumas áreas tecnológicas do Brasil.

Nas últimas semanas, o CsF esteve em evidência após o Ministério da Educação anunciar a interrupção de novas bolsas por falta de recursos financeiros e, além disso, caso haja dinheiro para o programa no ano que vem, este será destinado apenas para alunos de pós-graduação, o motivo, seria a falta de preparo dos alunos de graduação.

A extinção do Projeto Ciência Sem Fronteiras condena nosso parque industrial a continuar no maior dos atrasos. É claro que para alguns “industriais” isso não fará muita diferença, mas o mais triste é perceber uma geração de jovens condenada a este retardamento, são eles os filhos de nossos médicos, engenheiros, advogados. Ver o parque industrial brasileiro condenado a decadência, é muito triste”, salienta o professor Luiz Deschamps, formado em letras, língua e literatura francesa pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Assim como Deschamps muitos professores e alunos brasileiros se revoltaram contra as mudanças anunciadas pelo Ministério da Educação. Além de aprimorar o curriculum, uma experiência fora do país possibilita um grande crescimento na vida pessoal, é o que conta a estudante de jornalismo Gabriela Neves, que acaba de voltar de um intercâmbio nos Estados Unidos da América. “Eu queria muito poder estudar no exterior, mas não tinha condições de bancar o estudo então, através de uma conhecida que mora na cidade de Kennesaw, próximo de Atlanta, no estado da Geórgia, eu pude ir, e de 10 de dezembro á 11 março eu trabalhei e consegui juntar dinheiro para estudar inglês durante três meses, na Kennesaw State University“, conta.

A experiência de estudar e trabalhar em um país diferente do seu de origem transformou a vida da estudante. “O amadurecimento é imensurável, eu estava longe dos meus pais e tive que andar com as próprias pernas. Acho muito bom estudar fora, mas a experiência de poder conciliar com o trabalho é melhor ainda. A minha função lá, era, como o da maioria dos imigrantes, limpeza de casas, e isso me tornou muito mais humana, mais madura, mais compreensível”. Gabriela completa: “a suspensão do Ciência sem Fronteiras é um retrocesso sem tamanho, enquanto o governo brasileiro esta fechando as portas para investir nos seus profissionais, países como Canadá, Irlanda, contratam e ainda bancam estudo para profissionais brasileiros. Não é um gasto, é investimento.  O retorno é muito mais valioso”.

 

Financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoa de Nível Superior (Capes), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e por empresas parceiras, o CsF até este ano concedeu 101.446 bolsas de estudos. Atualmente são mantidos 11.810 alunos fora do país, o custo médio de um participante para o governo gira em torno de R$ 100 mil por ano. Um processo que está tramitando no senado, liderado por 15 senadores, procura reavaliar e corrigir possíveis falhas do programa. Além disso uma das principais iniciativas é a continuidade do CsF com a garantia dos recursos mínimos necessários, incentivando o apoio do setor privado, assegurando que o programa passe a ser uma política permanente de estado e não apenas do governo.

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Grazielle Guimarães – 19 anos – estudante de Jornalismo na UNIVALI