Cinema de Brusque completa 100 anos de histórias

Em 1915, empresário Carlos Gracher dá início ao Cine Esperança, precursor do Cine Guarany, Cine Real, Cine Teatro Real e Cine Gracher

Cinema de Brusque completa 100 anos de histórias

Em 1915, empresário Carlos Gracher dá início ao Cine Esperança, precursor do Cine Guarany, Cine Real, Cine Teatro Real e Cine Gracher

O ano de 2015 marca o centenário do cinema em Brusque. Tudo começou em 1915, quando o empresário Carlos Gracher apresentou a magia do cinema aos brusquenses. No início, as sessões eram itinerantes, mas logo foi inaugurado o Cine Esperança, anexo ao Hotel Schaefer, com a exibição de filmes mudos.

“Não sabemos o que oportunizou o meu avô a ter acesso a isso. O que sabemos é que ele sempre foi uma pessoa que gostava de trazer novidades”, diz a diretora administrativa do Grupo Gracher, Gisela Gracher Stieven.

No Cine Esperança as cadeiras tinham assentos de palha e as sessões não tinham hora fixa para iniciar. Só começavam quando os frequentadores mais assíduos do cinema chegavam. Na plateia, duas cadeiras eram reservadas à frente para o delegado de polícia poder cuidar dos espectadores.

“No tempo do meu avô, se interrompiam as sessões para se ter um descanso e também poder tirar um rolo e colocar o outro para continuar passando o filme”, destaca.

Anos depois de inaugurado o cinema, Carlos Gracher recebeu de seu sogro uma das primeiras casas construídas na rua principal de Brusque – atual Cônsul Carlos Renaux e onde hoje está o Hotel Gracher – que era a antiga sede de um convento. Gracher reformou toda a casa, comprou aparelho sonoro e instalou no salão o Cine Guarany, inaugurado em 3 de março de 1934 com a exibição do filme “Voz do Meu Coração”.
De acordo com o livro “Gracher: Uma empresa faz 100 anos”, escrito em conjunto por Nayr Gracher, Saulo Adami e Tina Rosa, as sessões do Cine Guarany eram muito concorridas. A forma de fazer cinema já havia se modificado. Os filmes não eram mais mudos e, por isso, o aparelho Vitaphone combinava a imagem do filme com seus sons gravados em disco.

O cinema estava cada vez mais popular em Brusque e, em pouco tempo, já havia se tornado uma das principais atividades de lazer da cidade. “O cinema era a grande forma de as pessoas se encontrarem e também uma das poucas formas de diversão naquela época. Se ia no cinema de uma forma diferente, tinha todo um glamour, se colocava as melhores roupas. Os horários funcionavam em função da movimentação desse público que costumava ir ao cinema depois da missa”.

Cine Real e Cine Teatro Real

Em 1949, já com a participação do filho, Arno Carlos Gracher, o cinema em Brusque teve mais uma evolução. A sala foi toda remodelada e passou a se chamar Cine Real. Suas 500 cadeiras ficavam lotadas e as sessões eram anunciadas com música em alto-falantes embutidos na fachada do cinema.

No entanto, em 1952, as atividades do Cine Real foram interrompidas por um incêndio na cabine de projeção, durante a apresentação do filme Sensação no Circo.

No livro, Nayr Gracher, esposa de Arno Carlos Gracher, descreve o acontecimento. “A cabine era construída inteiramente em cimento armado e forrada com folhas de zinco. Nos tempos do primeiro e do segundo cinema, os filmes eram tocados a carvão, um palito que se acendia e ditava a qualidade da projeção de um filme: quanto mais claro o fogo, mais nítida ficava a projeção. Quem projetava o filme, naquela noite, deixou a janela do projetor aberta e seu descuido provocou a tragédia”, conta.

Segundo ela, todos os materiais que compunham os filmes eram altamente inflamáveis. A plateia viu o fogo projetado na tela, mas até então ninguém se deu conta de que o fogo não fazia parte do filme. “O Cine Real tinha uma única porta de saída. Alguém gritou: ‘fogo’ e começou o tumulto dentro da sala de projeção”.

O incêndio obrigou o Cine Real a fechar as portas por algum tempo. Em 1956, o cinema foi demolido e em seu lugar foi construída uma sala maior – com 1.250 lugares – resultado de uma sociedade entre Arno Carlos Gracher, Bernardo Krischner, Erich Bueckmann, Valério Walendowsky e João Antônio Schaefer.

O Cine Teatro Real foi inaugurado em 1957 com o filme “Tudo que o Céu Permite”. A sessão inaugural ficou lotada. Assim, a tradição do cinema em Brusque teve continuidade.

Cada novo filme entrava em cartaz no sábado. Aos domingos, as sessões eram às 14 e às 16 horas. À noite só havia sessão às 20 horas. Pela sala de cinema do Cine Real passaram os maiores campeões de bilheterias: Os Dez Mandamentos (1956), Ben-Hur (1959), Cleópatra (1963), Sansão e Dalila (1950), O Planeta dos Macacos (1968), King Kong (1976), Guerra nas Estrelas (1977) e o Incrível Hulk (1978).

Tempos difíceis

Com a ascensão da televisão, o cinema teve uma fase ruim. Houve queda nas bilheterias e para trazer o público de volta ao cinema, foram colocados grandes filmes em cartaz, promovidas apresentações de companhias de expressão nacional que trouxeram ao palco do Cine Teatro Real artistas como Procópio Ferreira, Bibi Ferreira, Tônia Carrero, entre outros.
“Lá pelos anos 1980, o cinema não estava conseguindo se manter devido ao grande auge da televisão. Tivemos que encontrar alternativas para passar por isso. Eles acabam ressurgindo nos shoppings, em ambientes menores, que em nada lembram as salas antigas, o glamour. Hoje, o cinema é um programa para fazer com a família, com os amigos. É diferente de ver um filme em casa”, destaca Gisela.

Cine Gracher

Em 1994, o Cine Teatro Real é fechado por quatro anos para a construção do Shopping Gracher. O novo cinema foi construído no mezanino do antigo, com 220 poltronas. Em 2005, a cidade ganhou mais duas salas de cinema e, os três espaços juntos têm capacidade para 436 pessoas. O nome passa de Cine Teatro Real para Cine Gracher.

Cinco anos depois, o cinema passou por mais uma modernização e passou a exibir filmes com a tecnologia 3D. “Só tinha em Florianópolis e Joinville. Em 2010 modernizamos a nossa sala de projeção, passamos para o digital e com ele, veio o 3D. Nos cinemas da região, essa tecnologia só foi acontecer um ano depois”, lembra Gisela.

Em 2013, o Cine Gracher inicia a parceria com a Havan e inaugura mais três salas na loja de Brusque. A expansão não parou por aí, e neste ano, foram inauguradas mais três salas do Cine Gracher na Havan de Porto União, no Norte de Santa Catarina.

“A nossa família acompanhou toda essa evolução do cinema, não só em Brusque, mas no mundo todo, porque os filmes também mudaram. O cinema hoje tem que funcionar de segunda a segunda, em vários horários para atender todos os públicos”.

Para Gisela, a história do Cine Gracher está ligada à história de Brusque. “Esses 100 anos está muito junto com a história da cidade. Muita coisa aconteceu no nosso cinema, pessoas que se conheceram ali e formaram uma família, as travessuras das crianças, as pessoas têm muita lembrança”.

Filmes campões de bilheteria em Brusque

1934 – Voz do meu Coração
1949 – Sansão e Dalila
1955 – Tudo o que o Céu Permite
1956 – Os Dez Mandamentos
1959 – Ben-Hur
1963 – Cleópatra
1968 – Planeta dos Macacos
1977 – Guerra nas Estrelas
1978 – O Incrível Hulk
1984 – The Day After – O dia seguinte
1986 – Mad Max
1997 – Titanic
1999 – O Sexto Sentido
2001 – Harry Potter
2003 – Matrix
2006 – A Era do Gelo
2009 – Se eu Fosse Você
2011 – Rio 3D
2012 – Amanhecer
2013 – Velozes e Furiosos

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