Cinema com 500 poltronas fez sucesso nas décadas de 60 e 70 em São João Batista
Cine São João exibiu clássicos e enfrentou o período de censura do governo militar
Cine São João exibiu clássicos e enfrentou o período de censura do governo militar
Há 40 anos, o único cinema que existiu em São João Batista fechava suas portas. Daquela época, restaram apenas as lembranças dos que tiveram o privilégio de assistir aos clássicos na telona, e especialmente da família de Leopoldo João Campos, falecido em 2009, a quem pertenceu o estabelecimento.
Foi no fim dos anos de 1950, quando os irmãos dentistas Leopoldo e Pedro deixaram Santo Amaro da Imperatriz para exercer a profissão em São João Batista. Após alguns anos, Pedro mudou-se para Alfredo Wagner, e com suas ambições de crescimento, instalou um pequeno cinema com um projetor de 35 milímetros, junto ao outro irmão José.
Por intermédio dos irmãos mais velhos, Leopoldo teve a ideia de ampliar as salas de projeção para outras cidades, como São João Batista. Para isso, as mesmas fitas de filmes usadas pelos irmãos nas outras regiões eram replicadas no município.
No início, apenas uma sala de cinema foi usada para a exibição dos filmes. Ela ficava no piso superior da casa de Leopoldo, na rua Getúlio Vargas, no Centro. De olho no futuro, o dentista e o irmão sentiram que o cinema era um ótimo negócio e investiram em um espaço maior, ao lado de casa. Novas tecnologias foram buscadas para a projeção das fitas, como máquinas e projetores mais modernos, adquiridos em Curitiba.
O filho de Leopoldo, Eloísio Leopoldo de Campos, 60 anos, lembra que como era tudo mais difícil naquele tempo, o pai e o sócio faziam parcerias com cinemas de outras regiões e alugavam as fitas dos filmes para exibirem em São João Batista.
Sala de exibição
A sala do Cine São João contava com 500 poltronas de madeira envernizada, e uma tela ampliada de 10 metros por quatro metros.
Foi construído ainda dentro da sala um palco para apresentações de teatros, formaturas escolares e palestras.
Leopoldo dava oportunidades para aos batistenses e ensinou muitos jovens a operarem as máquinas de projeção de fitas. No início, o irmão Irineu era quem fazia a exibição e as esposas ficavam nas bilheterias. Havia ainda os ‘lanterninhas’ que controlavam os expectadoras que usavam a sala do cinema para namorar ou alavancar um relacionamento. Muitos, inclusive, chegavam a ser convidados a deixar o local.
“Lembro que meu pai contratou dois irmãos gêmeos, apelidados de Tico e Teco, que começaram a operar os projetores. Depois eles foram embora, e minha mãe e meus tios aprenderam o ofício”.
Algumas sessões eram exclusivas e fechadas a um público de maior idade, outras eram livres e com entradas até mesmo subsidiadas por pessoas da sociedade. “Foram muitas matinês. Sessões exclusivas para crianças, que eram exibidas nos domingos à tarde”, lembra Eloísio.
Fatos marcantes
Em 1961 houve uma grande enchente em São João Batista, quando a represa do bairro Garcia, em Angelina, rompeu. Muitas famílias ficaram desalojadas e o cinema e a casa de Leopoldo foram os locais que deram apoio aos moradores, especialmente da cidade baixa.
A mudança política em 1964, com o golpe militar, trouxe fortes proibições ao cinema. O policiamento começou a praticar a censura. O governo ainda cobrava uma taxa de impostos e controlava os títulos exibidos.
Naquele período, para qualquer sessão ou evento realizado era obrigatoriamente necessária a permissão da Delegacia de Polícia Civil.
Apesar da grande perseguição política aos cinemas, Leopoldo se adaptou às mudanças e seguiu com o empreendimento.
O Cine São João sobreviveu até o ano de 1979. Porém, com a falência geral dos cinemas, as salas foram alugadas para outras atividades. As máquinas de projeção e as cadeiras foram vendidas para igrejas evangélicas. Com o passar dos anos, os cinemas migraram para os shoppings.
Filmes exibidos
O Cine São João exibiu clássicos da história do cinema como as produções protagonizadas por Mazzaropi, filmes de bang-bang, obras estreladas pelo ator Giuliano Gemma. Títulos como O Exorcista, Zorro, O Manto Sagrado, Jesus de Nazaré, entre outros, passaram pelo local.
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