Como agiam as mulheres que furtavam bolsas nos ônibus de Blumenau

Reportagem teve acesso ao relatório da investigação e conta como os policiais chegaram à quadrilha

Como agiam as mulheres que furtavam bolsas nos ônibus de Blumenau

Reportagem teve acesso ao relatório da investigação e conta como os policiais chegaram à quadrilha

Mulheres bonitas, vestidas de maneira informal, que visitavam Blumenau de tempos em tempos e gastavam milhares de reais em compras no comércio da cidade. Hospedavam-se em hotéis, permaneciam de dois a três dias, pagavam em dinheiro e voltavam para a cidade de origem, Curitiba (PR). Na semana seguinte, retornavam e cumpriam o mesmo roteiro.

Como variavam os estabelecimentos e permaneciam por pouco tempo na cidade, ninguém percebia que o grupo era, na verdade, uma quadrilha. Entre uma compra e outra em lojas de vestuário e joias, as mulheres furtavam bolsas em ônibus do transporte coletivo de Blumenau.

Três delas, além de um homem, foram presos nesta quarta-feira, 20, na estação de pré-embarque em frente à Catedral, na rua Sete de Setembro. Pelo menos outras duas pessoas ainda estão foragidas.

Policiais vinham acompanhando as atividades da quadrilha desde o primeiro semestre do ano passado. O Município Blumenau teve acesso ao relatório das investigações, que traz detalhes dos crimes e do trabalho policial.

Os policiais envolvidos batizaram a operação de Efésios 4:28, em referência à passagem bíblica: “Aquele que furtava, não furte mais; antes trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tem necessidade”.

O Município Blumenau

Cartões de crédito
O principal objetivo das ladras (e do ladrão) era conseguir cartões de crédito para, no mesmo dia, fazer compras no comércio. Mulheres idosas eram o alvo preferido, porque muitas delas andam com as senhas dos cartões anotadas em bilhetes dentro da bolsa, ou mesmo no verso do cartão.

Em maio do ano passado, por exemplo, uma vítima entrou num coletivo no terminal da Proeb. Horas mais tarde, percebeu que a carteira não estava na bolsa. Quando consultou o extrato da conta bancária, descobriu um rombo de R$ 11 mil em transferências eletrônicas e compras.

No mês seguinte, outra idosa que embarcou na linha Proeb-Fonte foi atacada. Ela relatou à polícia que uma mulher de cabelos pretos a havia empurrado dentro do coletivo. Depois, a carteira desaparecera. Minutos depois, um saque com o cartão dela foi feito num caixa eletrônico do Neumarkt Shopping.

A quadrilha imitava táticas adotadas por outro grupo, descoberto em 2016. O bando vinha do Paraná e, depois de lesar diversas pessoas, retornava ao estado de origem. Numa dessas incursões, três anos atrás, quatro mulheres foram detidas num hotel do bairro Ponta Aguda.

Com aqueles casos na memória, os policiais civis começaram a investigar a nova onda de furtos.

Investigação
Primeiro, os policiais começaram a monitorar hotéis que ficavam nas proximidades dos locais dos furtos denunciados. Também foram mapeados os caixas eletrônicos e estabelecimentos procurados pela quadrilha para gastar o dinheiro das vítimas.

Num dos hotéis visitados, a recepcionista lembrou de três mulheres e um homem paranaenses que haviam deixado o estabelecimento dias antes. Ela havia notado que o grupo sempre voltava da rua cheio de sacolas de compras. No período da hospedagem, uma das mulheres inclusive estava grávida.

Com uma primeira pista, a polícia descobriu o veículo usado pela quadrilha, pertencente a Fernanda da Silva Santos, 29 anos. Com uma fotografia dela, os investigadores conseguiram que vítimas a reconhecessem como a autora dos empurrões dentro dos ônibus.

Em julho do ano passado, os quatro presos nesta quarta foram vistos por policiais sentados no Terminal do Garcia. À paisana, os investigadores subiram num Troncal 10 junto com os bandidos. E tiveram oportunidade de observar como funcionavam os crimes.

Emerson Alves, 34 anos, namorado de Fernanda, posicionava-se de maneira a encobrir a visão de quem estivesse por perto. Daniela Gomes Gonçalves, 22, e Fernanda eram as responsáveis por empurrar a vítima, enquanto uma terceira mulher, de 26 anos, retirava as carteiras das bolsas, ocultando-as sobre um casaquinho que levava sobre o braço. Esta última suspeita segue foragida, e por isso não teve o nome divulgado.

Em menos de 10 minutos, duas mulheres foram abordadas. Porém, em nenhum dos casos os bandidos tiveram sucesso, o que impediu as prisões em flagrante. Naquela mesma semana, oito pessoas registraram boletim de ocorrência de furtos dentro de ônibus.

Prisão
Com o avanço das investigações, que tiveram o auxílio de estabelecimentos comerciais e hotéis, a polícia pediu à Justiça a prisão preventiva dos suspeitos. Nesta quarta-feira, elas foram cumpridas pelos policiais que integram a operação.

Fernanda, Daniela e Emerson entrariam num ônibus na rua Sete de Setembro quando foram abordados pelos policiais. A Justiça havia decretado a prisão preventiva dos três e de outra mulher envolvida, ainda foragida. No momento da prisão, outra jovem estava com o grupo e foi detida, mas não permaneceu presa.

Fernanda foi levada para o presídio feminino, em Itajaí. Emerson está no Presídio Regional de Blumenau. Daniela não permaneceu na cadeia porque tem um bebê nascido há poucos meses.

Contraponto
A reportagem conseguiu conversar com Fernanda por poucos minutos nesta quinta-feira, 21. Ela disse que não falaria sobre o assunto enquanto não conversasse com um advogado. A reportagem não conseguiu contato com um defensor do grupo até o fechamento deste texto.

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