Conheça a história do padre Vilson Groh, brusquense dedicado a comunidades pobres
Brusquense fala sobre seu trabalho na periferia, em Florianópolis, e conta como foi a visita ao papa Francisco
Brusquense fala sobre seu trabalho na periferia, em Florianópolis, e conta como foi a visita ao papa Francisco
Vilson Groh, de 62 anos, padre brusquense que vive na periferia de Florianópolis, é tipicamente um homem do povo. É no meio dos pequenos, dos pobres, daqueles que vivem na vulnerabilidade social, que ele se sente mais feliz. Há 35 anos sua vida é dedicada a colaborar para com a construção das políticas públicas e promover a cidadania entre as comunidades.
O padre esteve no bairro Thomáz Coelho, em Brusque, na terça-feira, 21, no aniversário de 94 anos de sua mãe – Adélia Groh -, e falou com exclusividade ao Município Dia a Dia. Ele relatou um pouco sobre suas inspirações e projetos e também falou sobre a visita ao papa Francisco no Vaticano, no dia 16 de fevereiro.
Evangelização
Groh saiu de Brusque aos 22 anos, após cursar Filosofia na Fundação Educacional de Brusque (Febe). Assim que chegou em Florianópolis começou a fazer Teologia. No último ano deste estudo iniciou um trabalho no Morro Mocotó – uma das áreas mais pobres da capital.
Além da vontade de ser um instrumento de Deus no meio das pessoas, a principal inspiração para a evangelização do padre foi um texto bíblico do evangelho de Mateus, que é de sua ordenação sacerdotal e diz: “Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver”.
Atrelado a isso, o que também lhe motivou na caminhada foi o documento confeccionado durante a terceira Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, em Puebla de los Angeles, no México, em 1979, que traçou duas importantes prioridades, na sua visão. “Opção preferencial pelos pobres e a juventude”. Segundo ele, houve um processo de compreensão deste documento, que foi fundamental para sua jornada.
“O caminho da evangelização passava por uma relação de comunhão e participação na busca da perspectiva da libertação. O documento falava dos rostos, das faces empobrecidas, das crianças, dos adolescentes, dos negros, dos vitimizadas pelo sistema, apresentava o rosto do Cristo sofredor”, diz Groh, que ressalta: “É reconhecer o outro e ao reconhecer o outro se rompe com as indiferenças e rompendo com as indiferenças se é capaz de agir no resgate da dignidade humana”.
Foram com estes embasamentos religiosos que em 1983 o padre foi morar no morro e iniciou a luta pela terra e urbanização do local. Foram 15 anos de trabalho voltado aos sem-teto, à regularização fundiária e ao acolhimento de crianças, jovens e adultos. Neste período, segundo ele, foram regularizadas e urbanizadas mais de 64 áreas de terra na Grande Florianópolis.
Instituto Vilson Groh
Após esse trabalho, a prioridade tornou-se a educação, com intuito de gerar oportunidades para este público. E foi por meio da intensidade destas ações que se chegou, há cinco anos, a criação do Instituto Vilson Groh (IVG), que abrange diversas comunidades da capital, oferecendo apoio socioassistencial, oficinas culturais, artísticas e desportivas, entre outras atividades.
Atualmente, são sete organizações ligadas ao IVG, que tem o objetivo de congregá-las e ajudar no processo de assessoria para a construção de políticas públicas, no processo pedagógico, no exercício da cidadia e do bem comum, e também na captação de recursos. “O instituto nasceu para ser um fortalecimento da construção desta rede, para oferecer um olhar mais humano, gerar oportunidades”, diz o padre, que salienta que “o olhar não é de vitimizar o outro, mas de mostrar o potencial que ele tem e oferecer mecanismos para que oportunidades sejam geradas”.
O IVG realiza cooperação internacional com a Itália, por meio de um programa de cooperação educativa. Atualmente jovens italianos vêm para Florianópolis para colaborar com o trabalho social.
Além disso, o instituto tem uma forte relação com a região de Empada, no Sul de Guiné-Bissau, na África. O projeto de educação tem o objetivo de estruturar condições para o desenvolvimento do local, por meio de bolsas de estudo, kits com materiais escolares, alimentação no período de estudo e colônia de férias.
Cerca de 1,3 mil crianças da África são apadrinhadas por brasileiros, que colaboram com aproximadamente R$ 300, em média, com cada uma por ano para que possam permanecer na escola. “Nossa relação com a África é muito forte, inclusive pelas características similares. Hoje 86% das pessoas que moram no morro são negros”, afirma Groh.
Em apenas dois meses de 2017, mais de 5 mil crianças, adolescentes e jovens já foram atendidos pelo IVG. Ano passado, indiretamente, mais de 16 mil participaram de algum dos projetos do instituto. “Pra mim é um prazer passar na rua e ver as pessoas falarem que por causa daquele projeto ou daquele curso concluíram a faculdade ou redescobriram o sentido da vida. É perceber que a beleza da vida rompe a brutez”, conta o padre.
Visita ao Papa
Groh se encontrou com o papa Francisco, no Vaticano, em Roma, no dia 16 deste mês. Durante a audiência – como é chamada a reunião -, ele apresentou os projetos sociais realizados na periferia, mostrou um álbum de fotos das ações e entregou ao papa cerca de 30 cartinhas de crianças atendidas pelo projeto. Na ocasião, como forma de retribuir o carinho dos pequenos, o papa gravou um vídeo com mensagens de esperança e amor para eles.
Conforme o padre, os 20 minutos com o papa foram muito “densos”. Foi o próprio papa que abriu a porta para Groh e lhe deu as boas-vindas. O sacerdote brusquense foi só elogios para o maior nome católico do mundo. “O papa é um homem extremamente místico, extremamente acolhedor, extremamente humano. No entanto, ao mesmo tempo ele te revela uma face muito divina e uma preocupação muito profunda com o ser humano”.
O padre diz que o papa Francisco traz em suas falas um olhar de misericórdia, principalmente aos empobrecidos, além de ressaltar a importância da cultura do encontro. Entre outros assuntos que o papa abordou com Groh, ele destaca o cuidado com a sustentabilidade e humanidade da Amazônia brasileira, a necessidade do trabalho das pequenas comunidades e o papel da igreja na caminhada dos fiéis.
O papa pediu que o padre brusquense lesse o “Evangelii Gaudium” ou Alegria do Evangelho – primeira Exortação Apostólica pós-Sinodal escrita pelo papa Francisco. Outra curiosidade, revelada por Groh, é que foi o próprio pontífice que juntou as cartas trazidas por ele e colocou debaixo da estátua de São José. O material fica no local enquanto o papa dorme. “O papa disse que enquanto ele dorme São José reza para que os pedidos das cartas aconteçam”, conta.
Groh, ao fim da audiência, se comprometeu a ser fiel eternamente na sua caminhada em meio aos pobres. Segundo ele, o papa gostou do que escutou. “Eu percebi o quanto isso foi importante para ele (papa). Esse encontro reconhece o trabalho, reconhece essa compressão”, diz o padre.
Relação com Brusque
O padre tem uma forte relação e cooperação com Brusque. Além de sua mãe Adélia, 94, ele tem mais oito irmãos na cidade. Seu pai – Floriano -, falecido há 33 anos, também morava no município. Seus pais trabalhavam como operários da RenauxView.
Groh destaca que Brusque tem grande potencial para as missões, muitos movimentos de jovens e grandes lideranças que seguiram a vida consagrada. Ele diz que a população, bem como a classe empresarial, tem muita riqueza material que poderia ser melhor distribuída para os continentes mais sofridos e para o próprio Brasil.
“Não podemos nos limitarmos e contentarmos em ir na missa aos domingos, que já é uma grande coisa sim, mas temos que nos comprometer com a realidade do outro, e isso significa nos tornarmos próximos da realidade do outro”.
Segundo o padre, é preciso investir nas possibilidades e não fazer assistencialismo, já que há muita coisa ainda para ser feita. “Não podemos ficar estacionados com o pacto da mediocridade, olhar apenas o nosso umbigo, temos que ter um olhar esperançoso e gerarmos oportunidades”, afirma.
Instituto Padre Groh
Para conhecer, colaborar ou fazer uma visita na periferia, em Florianópolis, e conhecer o trabalho do padre Groh entre em contato pelo telefone (48) 3039-1828 . Mais informações no site.