Conheça o médico com o registro profissional ativo há mais tempo em Brusque

Germano Hoffmann, aos 95 anos, viu a evolução da ciência nas últimas sete décadas

Conheça o médico com o registro profissional ativo há mais tempo em Brusque

Germano Hoffmann, aos 95 anos, viu a evolução da ciência nas últimas sete décadas

A medicina está em constante evolução. Novos tratamentos, aparelhos, medicamentos e vacinas são descobertos e, assim, a humanidade avança no aumento da expectativa de vida e na cura de doenças. Germano Hoffmann, de 95 anos, viu e participou de muitas dessas mudanças nas últimas décadas. Ele é o médico de Brusque com o registro no Conselho Regional de Medicina (CRM) há mais tempo em Brusque, desde 1959.

Germano é de uma família de origem alemã – seu avô, que nasceu na Europa, veio para o Brasil no século XIX. Seu pai, Moritz Germano Hoffmann, se tornou padeiro após se especializar em Blumenau e teve um empreendimento famoso na cidade. Germano é um dos três filhos de Moritz e Ida Willrich – uma filha morreu ainda nos primeiros meses de vida, enquanto Erich, que faleceu em 2020, se tornou contador.

Início da caminhada

Germano estudou no Grupo Escolar Alberto Torres, hoje o Colégio Cônsul, mas, na época, Brusque não tinha o que era chamado ginásio, ou ensino fundamental. Incentivado pelo pai, ele decidiu continuar seus estudos no Colégio Catarinense, em Florianópolis, mesmo com a mãe sendo contrária.

Foto de Germano com o pai e funcionários da padaria está em livro “Cartas para minha mãe”, que ele escreveu com dois filhos | Foto: Bruno da Silva/O Município

A decisão de se mudar para a capital foi o início da trajetória de Germano rumo à sua formação profissional. Ele terminou os cinco anos de ginásio e mais três de curso científico em 1946. Um ano antes, quando estava passando férias em Brusque, sentiu uma forte dor de barriga – foi diagnosticado com apendicite. Precisou ficar internado por sete dias no Hospital Azambuja. Nesse período, ele ficou encantado com o respeito e o tratamento que os médicos recebiam de pacientes e outros funcionários.

“O hospital só tinha uma sala operatória e estava ocupada. Por causa dessa cirurgia e da esterilização com formol, demorou mais de um dia para eu ser operado. Achei interessante como o doutor Humberto Mattioli Filho corria o hospital para, ele mesmo, aplicar as injeções e fazer curativos, fazia tudo”.

Decidido a seguir essa carreira, ele foi para Curitiba para se formar médico, na antiga Faculdade de Medicina do Paraná, que foi transformada na Universidade Federal de Paraná no seu segundo ano de curso. Ele se formou em 1954 e, depois, passou um período na Santa Casa de Misericórdia, em São Paulo.

Conheceu sua esposa Lya Vianna Hoffmann em Florianópolis e se casou em 1956 – eles tiveram sete filhos. No ano seguinte, retornou para Brusque, reforçando a junta médica da cidade. Outra grande diferença para a medicina atual era a especialização dos médicos. Germano se formou generalista, assim como seus colegas daquele período.

“Hoje, a medicina é tão avançada que já existem especialistas que estudam somente um órgão. O conhecimento aumentou muito, tão rapidamente, que custa para o médico ficar atualizado, por isso ele acaba se especializando em uma coisa só”, analisa.

Carreira marcante

O primeiro trabalho de Germano em Brusque foi a partir de 1957 no posto de saúde do Jardim Maluche, que foi construído pelo prefeito Carlos Moritz, com quem diz ter aprendido muito.

“Ele reservou o posto para mim. No tempo que eu era estudante, ele me pegava nas férias e ia visitar o Azambuja. Ele era o rei, o mais procurado, o dono da medicina em Brusque. Fazia desde a unha encravada até a amigdalite, tudo que é tipo de cirurgia”.

Naquela época, ele lembra, as unidades de saúde tinham outras funções, como ferver e fornecer leite para famílias carentes. “As pessoas vinham de longe para buscar. Várias famílias se reuniam para mandar uma pessoa só, que pegava várias. Quem cozinhava o leite era a senhora Hilda Eccel”.

A medicina, por muito tempo, teve uma abordagem curativa. Os médicos eram chamados para resolver os problemas de forma imediata, para curar, diferente do aspecto preventivo que tem hoje em dia. “As seringas não eram descartáveis, eram de vidro. A gente tinha um equipamento para esterilizar agulhas e seringas com água quente. Perdia um tempo grande”, conta.

Seringas de vidro eram esterilizadas em água quente | Foto: Bruno da Silva/O Município

Ele lembra da epidemia que a cidade teve de malária, além de muitos os casos de verminose, asma, ataques epilépticos, tétano e tifo, entre outros.

“A gente tinha dificuldade para diferenciar a malária do tifo no início, os sintomas eram muito parecidos. Com o tempo, a gente passou a conseguir identificar só de analisar um pouco. Mas a malária era tanta, que o governo federal chegou a instalar um posto só para isso aqui em Brusque”.

Por muito tempo, grande parte dos partos foram realizados por parteiras, em casa. Quando ele voltou para trabalhar na cidade, as maternidades tinham pouca demanda. Germano lembra que havia alguns pais que inclusive ficavam na porta das salas para evitar que médicos homens ajudassem.

A maioria dos atendimentos eram a domicílio. Germano e seus colegas eram chamados para atender às mais diferentes enfermidades, munidos de equipamentos e medicamentos para tentar encontrar a solução para o paciente. Ele passou por cenas tristes, mas também por momentos de satisfação e alegria por ter conseguido salvar a vida de alguém.

“Alguns, quando não tinham dinheiro, ofereciam um pato, um galo ou um marreco como pagamento. Muitas vezes, quando cheguei aqui, era chamado para ir junto com o padre para ir na casa das pessoas. O padre dava primeiro a extrema unção e depois eu ia consultar para eles continuarem vivos”, lembra, bem-humorado.

Germano participou de vários momentos marcantes da medicina brusquense | Foto: Arquivo pessoal

Germano tem registro no CRM desde 1959. Atualmente, todos os recém-formados precisam dessa inscrição para atuar na profissão, o que era diferente quando ele iniciou na atividade.

No ano em que ele fez sua inscrição no conselho, ele se recorda que um representante do CRM esteve em Brusque para fazer o registro dos profissionais que já trabalhavam aqui, mas ainda sem essa certificação.

Nem todos quiseram fazer a inscrição no conselho naquele momento, mas Germano optou por se registrar. Ele ficou com o CRM SC 0168, um dos 200 primeiros médicos a terem esse documento, e que está ativo até hoje.

Caminhada ao lado da história

Em sua carreira, ele atendeu no Sintrivest, Sindmestre, na fábrica de tecidos Carlos Renaux, Iapfesp, Samdú, no Fundo Rural, além dos hospitais Evangélico, Azambuja e, esporadicamente, no Dom Joaquim. Seu último emprego foi na empresa dos irmãos Krueger, em 2003. Ao longo das décadas, Germano passou por diversos momentos importantes da medicina brusquense.

Um deles foi a instalação do Serviços à Assistência Médica Domiciliar de Urgência (Samdu), o equivalente ao Samu atualmente. Ele se recorda que a unidade era apenas para cidades grandes, mas que Adelino Alves, em conversas diretas com o então presidente João Goulart, conseguiu trazer para Brusque.

“Foi um tempo de muito esforço para a gente, eu, o doutor Nica (João Antônio Schaefer) e o doutor Chico. Nós três pagamos todo o móvel, o aluguel e a gente dava plantão 24 horas, e descansava 48. Ainda atendíamos no posto de saúde. Para conseguir trazer para cá, o Adeino deixou tudo pronto, disse que ia colocar o nome de Maria Thereza Goulart, esposa do Jango”.

Entre todos esses locais que trabalhou e os atendimentos a domicílio, seu Germano ficou cada vez mais conhecido na cidade. Ele acredita que, outro fator que fez de seu nome bem conceituado em Brusque, foi a participação em cirurgias como médico convidado em inúmeras oportunidades.

Orgulho do passado, do presente e do futuro

Essas e outras histórias estão sendo reunidas por Germano, que além de médico foi vereador e presidente da Câmara de Brusque, além de presidente da paróquia evangélica luterana, a filha Iasmine e o filho Ricardo em um livro, que está em produção. “Fui eu que construí a capela mortuária perto da maternidade velha. Estou escrevendo um livro sobre minha vida, vai dar muita coisa”, garante.

Mesmo longe dos consultórios há algum tempo, Germano segue sua ligação com a medicina. Em 2019, ele participou do lançamento da pedra fundamental do prédio da Saúde da Unifebe.

Diferente do que ele precisou fazer – deixar seu estado por falta de faculdade de Medicina -, hoje, os filhos e netos de Germano, não precisam ir para longe de casa para correrem atrás de seus sonhos. E são vários que seguiram na área da saúde, motivo de orgulho para ele.

Neto de Germano, Paulo Vicente Hoffmann é cirurgião oncológico em Blumenau | Foto: Bruno da Silva/O Município

“São três netos médicos, dois netos e um filho dentistas, mais dois netos e um filho bioquímicos e ainda um se formando como veterinário na família. Me sinto alegre com esses cursos de saúde aqui”.


Receba notícias direto no celular entrando nos grupos de O Município. Clique na opção preferida:

WhatsApp | Telegram


• Aproveite e inscreva-se no canal do YouTube

Colabore com o município
Envie sua sugestão de pauta, informação ou denúncia para Redação colabore-municipio
Artigo anterior
Próximo artigo