Com o crescimento constante da frota de Brusque, a qualidade da formação de novos motoristas e motociclistas é fundamental.

Para os instrutores consultados por O Município, o perfil do novo motorista é de jovens com vontade de aprender e sem os vícios de pessoas que aprenderam a dirigir em casa, com algum familiar, como era comum antigamente. As mulheres também vêm tomando conta e equilibrando as salas de aula antes ocupadas majoritariamente por homens.

Nas salas da autoescola, regras, normas e técnicas são apuradas na ponta do lápis, mas o tema mais recorrente é a educação: saber reconhecer que gentileza e prudência podem salvar vidas. Para o instrutor da autoescola Diplomata, Teodoro Pereira, a educação no trânsito já deveria ser discutida muito antes da sala de autoescola.

Para ele, a partir dos 18 anos alguns conceitos são mais difíceis de serem assimilados, e o aluno vive uma ansiedade para tirar a carteira de motorista, o que pode dificultar o foco nas aulas.

“Os alunos fazem a aula teórica porque são obrigados, por isso muitos consideram as aulas chatas. O trânsito precisa ser discutido desde a infância, porque mudar uma personalidade já formada é mais complicado do que conversar com uma criança”, explica.

A formação de um cidadão mais atento à situação do trânsito vem se tornando uma dificuldade na medida em que o assunto deixa de ser discutido em casa e na escola.

“O aluno chega despreparado porque não conversa sobre o trânsito em casa, na escola ou com os amigos. A partir daí alguns são mais flexíveis ao diálogo, aprendendo sobre o respeito ao espaço do outro, de ver o outro motorista como se fosse você mesmo, mas outros não se importam com estas dicas”, avalia.

Mas para Célio Marquez, proprietário da autoescola Marquezan, a nova geração de motoristas aprende com facilidade. Uma das características dos jovens que estão aprendendo a dirigir nas autoescolas é a ausência de vícios no volante. Diferente de tempos passados, em que a maioria das pessoas que iniciavam as aulas já havia dirigido com auxílio dos pais ou mesmo amigos, esse tipo de situação vem sendo cada vez menos comum.

“A juventude hoje tem vontade de aprender, e está sendo tranquilo ensinar. O mais importante é que eles não vêm com vícios e começam do zero, o que facilita o trabalho dos instrutores”, explica.

Mulheres ao volante
Antes minoria, as mulheres passaram a ser a maior parte dos alunos em autoescolas. Instrutor há cinco anos na Lideral, Carlos Roberto Meyer explica que a cada ano aumenta o número das jovens interessadas em tirar a habilitação.

“São meninas novas, na faixa dos 18 a 21 anos, que procuram independência e autonomia. Infelizmente não temos uma cidade bem servida de transporte público de qualidade, e isso faz aumentar o número de mulheres que compram carros, motos e motonetas”, diz.

Além das mulheres mais jovens, as mais experientes também têm procurado a autoescola por um motivo diferente, segundo explica Meyer. Com a Lei Seca cada vez mais rígida e aplicada nos municípios da região, os homens pedem às esposas que tirem a carteira de habilitação para dirigirem após o consumo de álcool.

“A gente fez uma pesquisa de perfil, para entender o motivo de as pessoas estarem na autoescola, e essa resposta foi bastante comum entre mulheres”, diz o instrutor.

Atração pelo câmbio automático
A maior dificuldade do novo motorista no que se refere às aulas práticas é aprender a troca de marchas. O constante processo de arrancada, subidas de morro, desaceleração com redução de marcha e outros movimentos que exigem a embreagem e o câmbio são estranhos a quem está começando.

Por esse motivo, o veículo com câmbio automático vem atraindo cada vez mais adeptos. “Esse tipo de veículo facilita muito para quem está aprendendo, até por questões de segurança. Ele pode manter as duas mãos no volante, evitando olhar para a marcha, outra grande dificuldade do motorista iniciante”.


Queda na emissão de CNHs
Levantamento realizado junto ao Departamento Estadual de Trânsito (Detran) revela que o número de Carteiras Nacionais de Habilitação (CNH) emitidas em Brusque teve uma redução considerável entre 2012 e 2016. Enquanto há cinco anos foram habilitados 3,2 mil novos motoristas, no último ano o registro aponta 2,4 mil, uma redução de mais de 25%.

Em comum, os representantes de autoescolas culpam a crise econômica. “Entre 2012 e 2013 tivemos grande movimento de pessoas vindas de fora, que aqui tiravam carteira de habilitação. Depois da crise essas pessoas voltaram para suas terras e este movimento encerrou. Além disso, muita gente pensa duas vezes antes de adquirir um veículo, o que reflete também na carteira de motorista”, avalia Marquez.