Covid-19: estudo catarinense aponta que vacina tríplice viral reduz chance de sintomas
Mais de 400 trabalhadores da saúde colaboraram com a pesquisa
O estudo que mostra redução dos sintomas e do risco de tratamento em pacientes com Covid-19 com a vacina tríplice viral está disponível na medRxiv. A plataforma on-line da área da saúde disponibiliza artigos antes de serem revisados pelos pares, os chamados pré-prints. A pesquisa foi realizada pelo Centro de Pesquisa do Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago, da Universidade Federal de Santa Catarina (HU-UFSC), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc).
A pesquisa analisou a eficácia da tríplice viral no combate à Covid-19, como é conhecida a vacina MMR, que age especificamente contra sarampo, caxumba e rubéola. O estudo, feito com 424 trabalhadores da saúde entre agosto do ano passado e março deste ano, mostra que o imunizante não previne a infecção pelo SARS-CoV-2. Mas, com uma dose, ela reduz em 48% o risco de o paciente ter sintomas e 76% o risco de necessitar de tratamento específico para esta doença – antibioticoterapia para infecção pulmonar, corticoterapia para hiperinflamação e anticoagulação para fenômenos tromboembólicos – ou hospitalização; com duas doses, os números sobem para 51% e 78%, respectivamente.
“Com o resultado, podemos propor que a vacina MMR seria útil em várias populações do mundo que não têm acesso à vacina para a Covid-19 e em uma nova epidemia ou pandemia como medida de emergência, até tratamentos específicos ou vacinas para cada caso estiverem disponíveis para a população em geral”, concluiu o estudo. O artigo também aponta que, apesar de os resultados serem interessantes, precisam ser confirmados em um estudo maior.
De acordo com o professor Edison Natal Fedrizzi, coordenador do estudo, o artigo também foi enviado para uma revista internacional, onde será analisado por outros pesquisadores antes de ser publicado definitivamente.
Além dos dados que demonstram eficácia da tríplice viral contra a Covid-19, o artigo discute por que isso ocorre. Segundo Fedrizzi, ao longo dos anos, vários estudos demonstram que esse tipo de imunizante, que usa microorganismos vivos e atenuados, apresenta uma excelente resposta imunológica a vários outros agentes, a chamada imunidade heteróloga. Já as vacinas específicas contra Covid-19 atuam na produção de anticorpos, moléculas que agem diretamente contra o coronavírus.
“As vacinas específicas para a Covid-19 provavelmente darão um tempo de proteção maior, por causa da produção dos anticorpos específicos contra a Covid. As vacinas inespecíficas, como estamos analisando com a tríplice viral, têm a finalidade de estimular a imunidade inicial, inata, para a proteção contra outras infecções por um período de 6 a 12 meses, dependendo do estímulo antigênico realizado”, explicou Fedrizzi.
Além da Fapesc, o estudo também conta com apoio do Laboratório FioCruz – Bio-Manguinhos, Secretaria Estadual de Saúde (SES – LACEN) e Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis (SMF).
A Fapesc investiu aproximadamente R$ 2,2 milhões em ações contra Covid-19 em Santa Catarina, incluindo pesquisas e desenvolvimento de produtos para combater a pandemia e seus efeitos. O estudo da tríplice viral é um dos cinco projetos aprovados no edital 06/2020 e recebeu cerca de R$ 100 mil para o desenvolvimento.
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