Em uma cidade como Brusque, que conta com muita história de colonização alemã e preserva muitas dessas características, não poderia faltar a culinária tradicional germânica, que muitas famílias ainda praticam nas cozinhas de suas casas.

Seja com receitas que passaram de geração em geração ou por interesse pessoal na cultura dos antepassados, pratos com itens tradicionais como o chucrute e o marreco recheado estão presentes no dia a dia de muitos brusquenses.

Receitas de família
Na estante, junto às enciclopédias e romances – muitos deles em alemão -, a escritora brusquense Helga Erbe Kamp guarda com carinho os livros de receitas. O Großes Illustriertes Kochbuch (Grande livro ilustrado de receitas), escrito por Mathilde Erhardt, foi publicado originalmente em 1901, e a edição de Helga foi passada de geração em geração. Já muito manuseado, o livro contém diversas receitas de pratos salgados e doces da culinária alemã.

Helga Kamp criou sua própria receita do chucrute | Natália Huf

“Jornais alemães estavam oferecendo grandes quantias por uma cópia desse livro”, conta ela, que não tem pretensões de se desfazer da relíquia familiar. Porém, mesmo com todas as receitas deste e de outros livros à mão, Helga e o marido não são tão adeptos dos pratos típicos alemães: “Meu marido detesta batata. Ele diz que comeu demais quando serviu à marinha alemã durante a guerra”, diz.

Mas uma iguaria típica bastante presente na alimentação do casal é o Sauerkraut, conhecido no Brasil como chucrute, que ela mesma prepara com a ajuda da cozinheira da família. Como é um produto fermentado, o casal ingere pelos benefícios à saúde, como os lactobacilos.

“Como eu não encontrava a receita do chucrute, criei a minha própria”, ri Helga. Para preparar a conserva, ela opta pelos repolhos brancos orgânicos que compra na feira. Para temperar, utiliza o Kümmel, o equivalente alemão do cominho, e sementes de zimbro.

Segundo a receita da escritora, após temperar o repolho lascado, deve-se guardar em conserva para o processo de maturação, que varia de acordo com a temperatura do ambiente. Em geral, são cerca de duas semanas até ficar próprio para consumo.

Livro de receitas alemão de 1901 é relíquia na família da escritora | Natália Huf

Além do chucrute – cujo nome em português deriva do francês choucru, que significa repolho cru -, outra receita que Helga pretende testar e preparar em casa são as almôndegas de batata com toucinho, presente em outro livro dedicado à culinária alemã que possui em sua estante.

“Hoje, a tendência é simplificar a cozinha, e estes pratos são complicados. Além disso, aqui em casa temos uma alimentação mais natural, não consumimos tanta carne.”

Aposta certeira
O brusquense Carlos Gomes decidiu levar o gosto pela cultura e tradição alemãs para sua vida profissional. Integrante do Grupo Amigo de Canto Alemão, ele e a esposa Rejane sentiam falta de locais que oferecessem culinária tradicional germânica em Brusque.

“Fora do período da Fenarreco, não se encontra comida alemã em Brusque, tem que ir para as cidades vizinhas para comer um marreco recheado”, diz. Assim nasceu a ideia do que se tornaria a Wernerhaus.

Ele, que sempre gostou de cozinhar, trabalha junto com o filho Mauricio em uma cozinha anexa à residência da família, na rua Pedro Werner. Percebendo o grande movimento e procura por comida alemã nos almoços da Fenarreco, decidiram montar um cardápio com diversas iguarias: marreco recheado, Eisbein (joelho de porco), Kasseler (bisteca de porco defumada), salsichas alemãs e outras refeições.

“Eu já tinha contato com  a cultura, com a música, e há alguns anos comecei a cozinhar e me dedicar a isso, mas como hobby”, conta Gomes, que foi criado muito próximo à parte alemã de sua família, tendo crescido com esses pratos que hoje prepara.

Kasseler, prato alemão feito com bisteca de porco defumada, chucrute, repolho roxo e purê de batata | Natália Huf

“Quase todos os pratos têm o chucrute e o repolho roxo, que são acompanhamentos bem comuns na Alemanha, e o agridoce, que faz parte da culinária de lá. O marreco vem com outros acompanhamentos, e o recheio tem miúdos, carne de porco, de gado.”

Apostando em pratos bem preparados e com preços acessíveis, Gomes começou a trabalhar profissionalmente com cozinha alemã no início deste ano e, segundo ele, o movimento é bem satisfatório, para algo que está começando. A Wernerhaus atende pedidos para almoço ou janta por telefone ou WhatsApp, e o proprietário sugere que os clientes busquem as marmitas no local.

“Gostamos de ter tudo fresquinho, por isso é melhor que os pedidos sejam feitos com antecedência”, ressalta. “A produção não é grande, tem um pedido, fazemos a compra, a comida é entregue. Não tem sobras nem descarte.”

Clique no seu prato preferido e aprecie!
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