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Cresce número de idosos que moram sozinhos em Santa Catarina

Dona Aurora Coelho e seu João Decker falam sobre suas atividades na terceira idade

Cada vez mais independentes, com muitas atividades na rotina e donos de sua liberdade. Assim pode ser definido 12,6% da população de idosos que moram sozinhos em Santa Catarina. As pessoas acima de 60 anos já representam quase 45% da população do estado. O número cresceu 84,5% entre 2000 e 2010, conforme dado do Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE).

Os brusquenses Aurora Coelho, 74 anos, moradora no bairro Santa Rita, e João Decker, 65, do Centro, fazem parte deste grupo. No entanto, a decisão, que não foi por opção, hoje deixa ambos felizes. Eles perderam seus cônjuges e tiveram que aprender a viver de forma diferente do que estavam acostumados.

Depois de ficar casada por 35 anos, Aurora perdeu seu marido. Ele teve um infarto fulminante e faleceu quando ela tinha 58 anos. Logo após o ocorrido, iniciava um novo ciclo para a mulher. Os dois primeiros anos foram os mais difíceis – foi um luto profundo, Aurora não queria nem sair de casa. No entanto, incentivada pelos dois filhos e quatro netos, começou a encarar a dor com outros olhos.

Hoje faz três anos que ela mora sozinha. Já chegou a cuidar durante seis anos de sua mãe de 90 anos. Para Aurora, morar sozinha significa “ter mais liberdade, fazer o que se quer, comer o que se gosta, sem ter compromisso”.

Ela, que é dona de casa, diz que há sempre muito o que se fazer no dia a dia e que não tem tempo de se sentir triste ou só. A idosa cozinha, limpa a casa, faz crochê e bordados, cuida do jardim, lê histórias de romance, faz parte do clube de mães do bairro e viaja. “Faço tudo sozinha, caminho, pego ônibus. Só numa emergência para pedir para os filhos me levarem para algum lugar. Enquanto tiver condições, quero continuar morando assim”.

Aurora conta que vê os filhos com frequência, mas que considera importante que tanto ela como os filhos tenham liberdade. “Quando fiquei viúva foi muito difícil. Depois superei e compreendi o que havia acontecido e hoje gosto muito da minha vida, ela é muito boa. Se fizermos tudo com amor, ternura e carinho encontraremos alegria no dia a dia. Vivo feliz e fazendo novas amizades”, afirma.

Adaptando-se à nova vida

João Decker, formado em Estudos Sociais e Direito e coordenador do Fórum Sindical de Brusque, optou em morar sozinho há sete meses, após o falecimento de sua esposa, que foi casado por 38 anos.

Carinho dos filhos é combustível para Decker superar a perda da esposa e melhor se adaptar à vida sozinho / Foto: Daiane Benso

Ele diz que não está sendo fácil se adaptar a essa nova realidade, mas os três filhos, noras e uma neta o preenchem com amor e atenção. “Ainda há um vazio muito grande, mas tenho dois filhos e as noras que almoçam de segunda a sexta-feira na minha casa. Minha família é muito maravilhosa, se preocupam muito comigo, e isso me faz feliz”.

Decker conta que durante a semana tem uma colaboradora que cozinha e cuida dos afazeres domésticos, mas no fim de semana é ele que cozinha e organiza a casa. “Sempre ajudei minha esposa e fui criado numa família em que dividíamos os afazeres, então pra mim é fácil fazer essas coisas”.

O brusquense ainda preenche se tempo com o trabalho e com atividades voltadas à igreja. Ele que já foi ministro da Eucaristia e durante mais de 30 anos catequista no bairro Águas Claras, faz parte da Pastoral da Família da Igreja Matriz São Luís Gonzaga. “Deus me dá forças e quem está com ele não tem medo. E foi por meio de estudos bíblicos feitos pelo pessoal da igreja que tive forças e continuo forte nesta caminhada”.

Decker ainda afirma que não quer morar com os filhos e não quer que eles morem com ele, já que cada um tem a sua família. “É tudo tão recente ainda. Mas enquanto puder fazer as coisas, continuarei vivendo sozinho. Meus filhos me ligam e estão sempre comigo”, conta.

Tendência mundial

A psicóloga, especialista em Logoterapia, Janaina Mafra, afirma que optar por uma vida mais solitária parece ser uma tendência mundial e que cada vez mais homens e mulheres moram sozinhos. Segundo ela, o ato de morar só começa a ser associado a melhores condições de vida.
“Atualmente o morar só não é mais visto como ser só. Fato este que vem retirar o estigma de que o indivíduo, seja adulto ou idoso, tenha algum problema de relacionamento ou seja visto como abandonado”.

Janaina diz que as pessoas saudáveis, ao se sentirem sozinhas, não paralisam. Geralmente, elas recorrem a grupos sociais, à internet, à ajuda profissional, à igreja, etc. “Há muitas pessoas que se sentem sozinhas, passam pelo vazio existencial mesmo morando com a família ou cercadas por uma multidão. O estar só é vivido por cada um de maneira muito particular”.

A psicóloga alerta, no entanto, que o idoso, quando sozinho, pode enfrentar alguns problemas, tanto os relacionados aos riscos ambientais e as limitações físicas quanto a problemas de ordem social. “Muitas vezes o idoso acaba se isolando dentro de sua própria casa. Outro problema decorrente desta situação são as quedas, associadas à alteração de visão, desgaste das articulações, fraqueza muscular. Por isso é preciso que algumas medidas simples sejam tomadas, como deixar a luz do corredor acesa à noite e não tomar banho descalço”, orienta.


Idosos no Brasil 

A terceira idade no Brasil cresceu cerca de 11 vezes nos últimos 60 anos, passando de 1,7 milhão para 18,5 milhões de pessoas nesta faixa etária. Em 2050 estima-se que um em cada três brasileiros seja idoso.


Idosos em Brusque

Em Brusque, segundo IBGE de 2010, eram mais de 7 mil idosos entre 60 a 74 anos. O dado mostra que são 3.188 homens e 3.885 mulheres.