O filósofo italiano Antonio Gramsci – pai do chamado “marxismo cultural” e mentor intelectual da esquerda brasileira e mundial – indicava que uma das estratégias para se difundir o comunismo através da cultura era desvirtuar o sentido das palavras, usando-as em sentidos diferentes e produzindo uma confusão intencional na linguagem. Um caso claro dessa confusão está no uso das palavras “ditadura” e “democracia”. Sabemos que democracia é um regime político no qual deve imperar a liberdade e o respeito pelos direitos do ser humano, além da pluralidade de ideias, partidos, etc. Esse sentido é, por assim dizer, o sentido oficial da palavra. Mas quando alguém da esquerda usa a mesma palavra, não é exatamente isso que pensa, embora por vez possa ser isso e por outra não. Quando criticam, por exemplo, as ditaduras militares da América Latina, como a da Argentina, do Brasil, do Chile e do Uruguai, usam a palavra no sentido oficial. Mas ninguém vai ouvir um socialista desse tipo criticando o governo de Cuba. Parece que uma nuvem espessa se abate sobre a inteligência do indivíduo, e ele “se esquece” de nominar a única ditadura que ainda não acabou, a que matou mais gente e que, até hoje, não respeita a liberdade de seus cidadãos.
Esse é um fenômeno muito curioso, pois é difícil saber até onde vai a deficiência intelectual para chamar cada coisa por seu nome próprio e onde começa a pura desonestidade de quem quer esconder intenções escusas por trás de um vocabulário “adaptável”.
Nesta semana, o governo da Venezuela, que caminha a passos largos para uma ditadura dessas que a esquerda brasileira “não enxerga”, avisou que vai liberar o uso de armas letais contra as manifestações populares que assolam o país. A Venezuela é o país do Hugo Chaves, o fanfarrão que cunhou o termo “socialismo do século XXI”. Seu sucessor, Nicolás Maduro, não consegue conter o empobrecimento exponencial da nação, e trata seus opositores como inimigos da “democracia”.
Ora, o governo brasileiro está alinhado ideologicamente com toda essa gentalha. Enquanto isso, a palavra “democracia” é usada por aqui a torto e a direito. Se essa balela de “educação crítica”, que corroeu as escolas e universidades brasileiras, tivesse algum mérito, todo mundo perceberia essa embromação. Ao que parece, o objetivo era exatamente o contrário: espalhar a desinformação, a analfabetização e o culto a uma ideologia esfarrapada. Nisso seu sucesso tem sido estrondoso.
Seremos capazes de salvar nossa frágil democracia desse processo de autodestruição?