Devido as fortes chuvas, produtores da região perderão mais da metade da safra
Lavouras de milho e feijão foram danificadas por causa do mau tempo
Lavouras de milho e feijão foram danificadas por causa do mau tempo
As fortes chuvas que caíram em Santa Catarina nos últimos dois meses causaram perdas significativas para a agricultura. Segundo a Secretaria de Estado de Agricultura, o custo estimado com a perda da colheita é de R$ 307 milhões. Guabiruba e Botuverá, na região, também foram afetados pelo período chuvoso.
O Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Cepa) da Epagri calculou os prejuízos das chuvas em Santa Catarina. O levantamento mostrou que o Vale do Itajaí está entre as regiões mais atingidas em todo o estado. A Epagri divulgou relatório no qual informa que foram 41 dias de água caindo ininterruptamente em Botuverá. Embora o município e Guabiruba não sejam grandes produtores agrícolas, os prejuízos são consideráveis, conforme as secretarias de agricultura das duas cidades.
“Com certeza, as lavouras foram muito danificadas por causa dessa chuva”, afirma o secretário de Agricultura de Botuverá, Márcio Colombi. Ele estima que cerca de 40% das lavouras de milho serão perdidas por causa do excesso de chuva. O feijão também foi fortemente atingido, conforme Colombi, e corre o risco de 80% do que foi plantado não poder se colhido e vendido.
O secretário diz que a Souza Cruz já informou que aproximadamente 40% da produção de fumo em Botuverá será perdida. O cenário não é nada bom para os lavradores botuveraenses, mas poderia ser pior se os fumicultores não tivessem se adiantado e plantado antes da chuva.
Outras culturas também foram afetadas indiretamente, como a produção de mel. Com a chuva, as flores não desabrocharam e com isso as abelhas produzem menos mel. O presidente da Associação de Apicultores de Botuverá (Apibo), Antônio Bonomini, afirma que praticamente toda a produção não servirá para a venda ou consumo.
“A produção está muito comprometida. Se continuar assim, vamos colher pouco mel, de 15% a 20% do que era esperado”, lamenta o apicultor. Até o momento, Bonomini estima que pelo menos 60% da da safra já foi perdida. A esperança é que o tempo fique estável e sem chuva, para que aconteça a florada (flores desabrocharem) e parte do que já foi investido seja resgatado.
O período de recolhimento do mel é entre novembro e dezembro. O prazo está quase no fim, por isso, há pouca esperança para este ano. No entanto, o presidente da Apibo afirma que em março, se o clima colaborar, é possível colher novamente. Com sorte, mais de 15%.
A fruticultura não é tão forte na região, mas há alguns agricultores. Gente como Ângelo Venzon, do Lageado Alto de Botuverá, que cultiva a uva. O cenário está igualmente ruim para ele. As dificuldades começaram já durante o inverno, que foi fraco. A uva precisa do frio para se desenvolver.
O segundo obstáculo veio com a chuva. “Essa safra está fraca”, comenda Venzon. Ele diz que terá de tomar todos os cuidados possíveis para conseguir salvar 30% da safra. Ele teme que o índice de aproveitamento seja ainda mais baixo se o clima não melhorar.
Milho é o mais afetado
Em Guabiruba, os milharais foram severamente danificados pela chuva, segundo o presidente da Associação para o Desenvolvimento Rural de Guabiruba (Aderg), Arno José Kohler. Ele conta que os produtores simplesmente não conseguiram plantar milho em outubro por causa da chuva.
O pouco que foi plantado está morrendo, afogado pela água em excesso que assolou o município nos últimos 40 dias. “A safra foi muito prejudicada, não sei se vamos conseguir colher metade do que plantamos”, diz Kohler, que também é agricultor.
Não bastasse o cenário desfavorável para o milho, a cultura de aipim também foi danificada. “Teve gente que não chegou nem a plantar o aipim”, diz o presidente da Aderg. Segundo ele, o plantio de batata doce e legumes de modo geral também foi muito prejudicado.
O secretário de Agricultura do município, Moacir Boos, diz que por volta de 50% da safra de milho já não serve mais para a venda e consumo. Ele diz que de modo geral, incluindo todas as culturas, as perdas podem atingir 50%. O secretário afirma que, além do milho e da fruticultura, o arroz também foi atingido. Embora o arroz seja plantado na água, ele precisa criar raízes – e isto não é possível com muita chuva.
Boos afirma que há muito tempo não acontecia um período tão longo de chuva em Guabiruba. “Sempre tem uma época no ano em que chove mais, mas igual a este ano eu só me lembro que da década de 1980. Depois disso, não lembro de outro período assim”, afirma.
Consequências podem atingir o consumidor
As consequências desta chuva excessiva em Santa Catarina serão sentidas pelos consumidores. Por exemplo, a bacia leiteira do Alto Vale registrou perdas de 2,2 milhões de litros de leite, equivalente a 4,3% da produção estadual. O presidente da Apibo chama a atenção para a escassez de mel nos supermercados. “O preço do mel deverá subir”, afirma Bonomini.
Com menos produtos nos supermercados, a tendência do mercado é que os preços nas prateleiras subam. As perdas de R$ 307 milhões, obviamente, terão de ser compensadas pelas empresas, que deverão repassar parte do prejuízo aos consumidores.