José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

Dias melhores

José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

Dias melhores

José Francisco dos Santos

A música “Dias Melhores”, da banda mineira Jota Quest, é uma daquelas que costuma grudar na memória. Já percebi que, sempre que a música toca, as pessoas cantam ou resmungam junto, acompanhando o ritmo. A letra está longe de ser uma grande obra poética, mas a sacada dela talvez seja exatamente sua simplicidade. Tem alguma coisa na linguagem poética que comunica algo diretamente à nossa alma. É isso que percebo em “Dias Melhores”. Em versos tão simples, o poeta resgata um anseio interior, que sai pela boca, no canto ou no resmungo de quem se identifica, mesmo sem tomar consciência clara disso, com o que está escondido por trás das palavras.

É certo que todos ansiamos por dias melhores, mas tem gente demais apenas esperando por eles. É uma espera passiva, de quem sonha que algo vai acontecer e as coisas vão mudar. Lembro-me de quando eu era criança, olhando a situação não muito animadora das condições em que vivi na infância e matutando sobre como tudo seria melhor se tais e tais circunstâncias fossem diferentes. Mas as mudanças não dependiam de mim e, com exceção de melhoras bem pequenas, nada aconteceu como eu sonhava. Mais tarde, as circunstâncias mudaram bastante, quando eu fui para o seminário. Mas percebi que, lá também, numa nova situação, havia um pá de coisas que eu gostaria que fossem diferentes. Muito gradualmente percebi que não podia esperar por mudanças vindas de fora, mas investir minha energia para mudar a mim mesmo, tornar-me melhor, cavar e construir os dias melhores que eu queria ter. Precisava seguir os passos do Milton Nascimento, quando diz “já não sonho, hoje faço com meu braço meu viver”.

O primeiro passo para avançar na direção de dias melhores é descobrir que eles não virão automaticamente, por uma conjuntura astral ou por um novo programa de governo. Daqui a vinte anos, os governos e as ideologias mais variadas terão chegado ao poder e apeado dele, um monte de coisas boas e ruins terá acontecido, e a pessoa poderá ainda perceber que nada mudou dentro dela mesma. E continuará frustrada, esperando um porvir sempre adiado.

Os grandes mestres da sabedoria já perceberam isso há muito tempo. É apenas trabalhando a evolução pessoal, corrigindo os próprios defeitos, tornando-se mais produtiva, dando sentido à própria existência que a pessoa pode construir seus dias melhores.

Um passo decisivo para começar esse caminho é se livrar do peso do mundo dos sentidos, do frenesi de satisfazer constantemente os prazeres sensitivos, o que leva ao consumismo, ao materialismo e a todo tipo de vício. Essa felicidade de palha é pura ilusão e uma grande armadilha. A melhora dos nossos dias se faz por um caminho espiritual, de lapidação e qualificação da alma. Sem isso, não importa quanto prazer ou bens possamos acumular: continuaremos vazios e esperando dias melhores, cada vez mais distantes.

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